SP tem mais 6 mortes e ônibus incendiado na madrugada
Empresário e funcionário foram mortos por um policial militar que pensou que seria atacado num semáforo da região de São Mateus, na zona leste
Em mais uma noite de homicídios, seis pessoas foram mortas a tiros e duas ficaram feridas na região metropolitana de São Paulo num intervalo de cinco horas, entre 20h30 de sexta-feira e 1h30 da madrugada deste sábado. Duas das vítimas, patrão e empregado, foram mortas por um policial militar que pensou que seria atacado num semáforo da região de São Mateus, na zona leste da capital. Também na zona leste, um ônibus foi assaltado e incendiado por um grupo de jovens.
O clima é de tensão na cidade, onde, entre sexta-feira e sábado, foram registradas 15 mortes em apenas 17 horas, quase o dobro da média diária na Grande São Paulo. Uma das vítimas é um estudante da USP Leste: Pedro Turquetti, de 22 anos. Aluno do terceiro ano do curso de Sistemas da Informação, ele foi morto na noite de quinta-feira em um bar em Santana do Parnaíba. Nesta semana foram mortas, pelo menos, 36 pessoas. Entre os mortos também estão o irmão de um policial e o filho de um ex-policial da Rota.
Na madrugada deste sábado, o soldado da Polícia Militar Edcarlos Oliveira foi preso em flagrante acusado de matar dois ocupantes de um Fiat Fiorino ao pensar que seria atacado pelos suspeitos na esquina da Rua Gaia com a Avenida Arquiteto Vilanova Artigas, região de São Mateus, na zona leste da capital paulista. As vítimas eram patrão e empregado que voltavam da empresa, localizada a cerca de 1 quilômetro do local.
O soldado, segundo a polícia, está na corporação há 14 anos e atua na região da Penha, também na zona leste. No momento em que atirou contra as vítimas, estava acompanhado da esposa e do filho, de 1 ano e meio. Segundo relato de uma testemunha que passava pelo local, o Fiat Fiorino teria avançado o sinal vermelho e de repente parou, interrompendo parcialmente a passagem do veículo conduzido pelo soldado. A testemunha contou ainda que Edcarlos conseguiu desviar, passou pelo Fiat, mas retornou, sacou uma pistola e atirou contra Jefferson de Oliveira, de 27 anos, dono de uma empresa de polimento de peças de metal, e Renato da Silva Ferraz, 22, que todos os dias pegava carona com o empresário. Mesmo encaminhadas para o pronto-socorro Sapopemba, as vítimas não resistiram aos ferimentos e morreram.
Arma de brinquedo – Após atirar, o policial deixou o local em seu veículo e, de outro endereço, ligou para os colegas informando que havia acabado de atirar contra dois homens que teriam fechado seu carro para tentar assaltá-lo ou matá-lo. No local dos tiros, nenhuma das cápsulas da pistola calibre ponto 40, da PM, utilizada pelo policial foi encontrada. Aos policiais militares que foram até o local de onde o policial ligou, Edcarlos mostrou uma arma, de brinquedo. Segundo o soldado, ela estava em poder de um dos suspeitos, que a teria apontado contra o policial no momento em que ele passou ao lado do Fiat.
A primeira informação que chegou ao Setor de Comunicação da Polícia Militar no começo da madrugada era que o policial militar teria reagido a uma tentativa de assalto. Levado para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o soldado foi autuado em flagrante por duplo homicídio doloso, quando há intenção de matar. A polícia agora tentará descobrir se realmente a arma de brinquedo estava com os dois rapazes que foram mortos e quem recolheu as cápsulas do local do crime.
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Zona sul – Um homem de 53 anos foi morto com um tiro na cabeça, por volta das 23 horas, dentro da casa da ex-esposa, na Rua Paulo de Morais, na Vila Morais, próximo à Avenida do Cursino, na zona sul da capital paulista. O assassino continua foragido. Divorciado, o homem aproveitou a viagem da esposa, uma jornalista, para Manaus, e foi para a casa dela passar alguns dias com os filhos. No fim da noite, um homem apareceu e teve o portão aberto pela empregada após autorização do patrão, pois era um amigo dele e a visita, ao que tudo indica, já era esperada.
Do andar superior da casa, a empregada escutou um tiro minutos depois dos dois homens iniciarem a conversa na sala. Ao descer, encontrou o patrão sozinho e baleado. A vítima morreu no local. Em estado de choque, a mulher foi levada para o pronto-socorro Ipiranga e era aguardada na delegacia para prestar depoimento. Não se sabe se os filhos da vítima estavam na casa no momento do crime.
Foram registrados também outros dois homicídios, um no Jaçanã, zona norte da capital, e outro em Itaquaquecetuba, região leste da Grande São Paulo. Também nesta madrugada, um homem que caminhava pela Rua Graciosa, próximo à Praça da Moça, região central de Diadema, no ABC, foi baleado por dois ocupantes de uma moto. Segundo a polícia, a dupla passou ao lado da vítima, mas decidiu retornar. Na sequência, um dos desconhecidos sacou a arma e atirou, atingindo a vítima nas nádegas. Não se sabe ainda o que motivou a tentativa de homicídio.
Em Suzano, na Grande São Paulo, um homem de 22 anos foi encontrado ferido com um tiro, em um um terreno baldio no bairro do Jardim Colorado. Ele foi levado ao Hospital Santa Marcelina em estado grave.
Ônibus – O ônibus incendiado na zona leste pertencia à Viação Novo Horizonte. O veículo foi sequestrado na região de Itaquera, assaltado e incendiado por um grupo de criminosos na madrugada deste sábado. O coletivo, que fazia a linha 3759 (Jardim São Pedro – Tatuapé), foi abordado por um veículo de passeio num dos semáforos na Avenida Jacu-Pêssego. Três jovens, aparentemente menores, um deles armado, desceram do carro e obrigaram o motorista a abrir a porta para que eles entrassem.
Na sequência, o trio ordenou ao motorista, agredido a tapas, que saísse do itinerário. Nas proximidades do nº 1.620 da Rua Jardim Tamoio, próximo ao Conjunto Habitacional Itaquera IV, no Jardim São Pedro, outro grupo já esperava pelo coletivo, que foi novamente invadido e incendiado após os bandidos roubarem cerca de 100 reias da catraca.
O cobrador e o motorista, os únicos que ocupavam o ônibus no momento do ataque, escaparam ilesos e registraram boletim de ocorrência no 103º Distrito Policial, da Cohab José Bonifácio. Nenhum suspeito foi detido. Na manhã desta sexta-feira, motoristas da Viação Cidade Dutra ficaram 1h30 parados na garagem da empresa em protesto por um ataque a um ônibus, na noite de quinta-feira, que deixou o cobrador gravemente ferido.
(Com Estadão Conteúdo)