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‘Sou de esquerda radical, mas dialogo’, diz Tarcísio Motta

Candidato ao governo do Rio pelo PSOL critica alianças feitas por rivais 'em troca de tempo de TV' e se diz cético quanto às investigações do caso Marielle

Por Luisa Bustamante e Fernando Molica
Atualizado em 17 set 2018, 19h49 - Publicado em 17 set 2018, 15h57

Pela segunda vez candidato ao governo do Rio, Tarcísio Motta, do PSOL, tem 9 segundos na TV para convencer eleitores que não o conhecem a votarem em seu projeto. Se diz um radical aberto ao diálogo, mas descarta coligações, que considera ser “da velha política”, em troca de mais tempo no horário eleitoral — afirma apostar na militância da legenda para se tornar conhecido em municípios do estado do Rio onde poucos já ouviram falar no seu nome. Com 5% das intenções de voto, o psolista ficou em quarto lugar na última pesquisa do Ibope, num empate técnico com Indio da Costa (PSD). Nesta entrevista a VEJA, Tarcísio afirma que o acordo de recuperação fiscal do estado é um “engodo”, assim como o projeto das UPPs, e se diz cético quanto ao avanço das investigações sobre o assassinato de sua companheira de partido, Marielle Franco. Confira abaixo os principais trechos da conversa.

Esta é a primeira das entrevistas de VEJA com os cinco candidatos ao governo do Rio mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto. Foram convidados, além de Tarcísio Motta (Psol), Eduardo Paes (DEM), Romário Faria (PODE), Anthony Garotinho (PRP) e Indio da Costa (PSD).

A filiação ao PSOL do homem que esfaqueou Jair Bolsonaro e de figuras como o Cabo Daciolo maculam a imagem do partido? Não conhecia esse homem (Adélio Bispo de Oliveira, agressor de Bolsonaro). Ele foi filiado em Minas Gerais, nunca foi candidato, nem participou de direção de partido. Hoje está claro que ele tem posições diferentes das nossas. O Daciolo era uma liderança sindical que foi se afastando dos nossos princípios e acabou sendo expulso do partido.

O PSOL é visto como um partido intransigente, que, no Rio, não aceitou se aliar ao PT. Como o senhor pretende governar o estado de maneira isolada? O PSOL nasceu de uma perspectiva de que precisávamos representar uma política diferente. Não nos submetemos à lógica de alianças para garantir tempo de TV ou maioria parlamentar.

Qual o preço que o partido paga por isso, além de não ter tempo de TV? Perde palanque? Palanque teríamos se fizéssemos como o Eduardo Paes: alianças com prefeitos através de troca de favores. Se acharmos que essa é a única forma de governar, continuaremos submetidos à lógica que leva à corrupção.

O senhor se define como um radical? Eu sou de esquerda radical, que vai à raiz dos problemas, mas sou uma pessoa de diálogo.

O Museu Nacional, gerido pela UFRJ e incendiado no início do mês, deve permanecer nas mãos da universidade? Sem sombra de dúvidas. O Museu da Língua Portuguesa pegou fogo e ninguém está defendendo que ele seja gerido pelo estado porque foi incendiado quando estava numa gestão particular. O Museu Nacional não é apenas um museu, é uma instituição importante de ensino, pesquisa e extensão e continua dentro da melhor universidade que o Brasil tem.

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O reitor da UFRJ é um dos fundadores do PSOL… É, com muito orgulho. Ele foi eleito democraticamente e nunca escondeu isso de ninguém.

Sete em cada dez cariocas apoiam a intervenção federal na Segurança. Por que o senhor é contra? A intervenção aposta na mesma lógica de que é o confronto que vai resolver o problema da segurança pública no Rio. O número de homicídios cresceu, o de fuzis apreendidos caiu. A polícia mata quatro pessoas todos os dias e a cada três dias morre um policial. A intervenção tem sido mais do mesmo.

A última notícia relevante sobre o caso Marielle mostrou um possível envolvimento de políticos do MDB no assassinato. O senhor concorda com essa linha? Acho coerente com o que a gente vive, mas ao mesmo tempo é uma linha muito mais assustadora. Para não fazer acusações levianas, o que espero é que as investigações comprovem se essa linha é real ou não. Mas sou cético quanto à solução do crime.

Uma das linhas de investigação gira em torno das milícias. Como o senhor pretende combater o avanço desses grupos? Milícia é máfia, tem que combater desarticulando os braços econômicos e políticos, o que não foi feito porque há ligações claras das milícias com quem governou o Rio nos últimos anos.

No seu programa de governo, o senhor fala em “abolir a política de ocupação e gestão militar nas favelas”. O senhor vai acabar com as UPPs? As UPPs já acabaram. Gastou-se muito dinheiro com um discurso de polícia de proximidade quando na verdade o que se fez foi uma gestão militar que continuou a usar a favela como território inimigo e seus moradores como aqueles que podem ser mortos. Ali era engodo desde o início.

Mas existe hoje inegavelmente uma gestão paramilitar nas favelas, seja de traficantes, seja de milicianos. Como resolver? Inteligência para desarticular os braços econômicos desses grupos. A maior apreensão de fuzis feita na história do Rio foi no Aeroporto do Galeão, sem troca de tiros. Não foi no Alemão ou na Rocinha. O principal preso dessa operação não estava na Maré nem no Complexo da Penha, estava em Miami. Foi um ano e meio de investigação.

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O senhor defende revisar o Regime de Recuperação Fiscal que adiou o pagamento da dívida do estado com o governo federal. Como rever uma medida que está permitindo o estado respirar? Se não revisar agora, o estado não respira daqui a pouco. O regime foi um adiamento do pagamento da dívida, não uma recuperação. Suspender o pagamento da dívida com juros correndo por três anos é apenas engodo. Mais: a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) não será privatizada no nosso governo. Para isso que temos que renegociar o acordo.

Mais de 50% das aposentadorias do Rio são especiais, ou seja, de pessoas que se aposentam antes da data limite, basicamente policiais e professores. O senhor pretende mudar isso? Não achamos que isso seja privilégio. É um dos poucos direitos que restaram a esses servidores. Nosso problema da Previdência é de receita, não de despesa. Pretendo voltar ao desconto de 11% na folha de pagamento (o governo atual elevou o desconto para 14% em 2016), mas isso não será de imediato. Vamos criar as condições para que isso aconteça.

O Rio foi um dos poucos estados que retrocedeu na nota do Ideb. Qual sua proposta para reverter isso? Não temos educação de qualidade se não tivermos um currículo enriquecido. A Reforma do Ensino Médio faz o oposto. Eu vou lutar contra ela. Sou cético quanto a sua aplicação. Gestores vão olhar para ela como uma excelente oportunidade de gastar menos. Eu vou discutir o currículo do estado.

O senhor pretende manter o subsídio ao Bilhete Único Estadual? Não precisa de subsídio, é necessário abrir as contas. O problema do transporte público no Rio é enfrentar a máfia dos transportes. Isso significa fazer licitações claras das linhas intermunicipais. E a bilhetagem eletrônica não pode estar nas mãos dos mesmos empresários que operam o sistema. Você não pode colocar raposa para tomar conta do galinheiro.

*Participaram da entrevista Maria Clara Vieira e Monica Weinberg

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