Sem-terra paraguaios ignoram ordem judicial
Carperos querem ganhar tempo para barganhar com autoridades. Presidente Lugo prometeu pronunciamento sobre o embate nesta segunda-feira
Os sem-terra paraguaios que ocupam as redondezas de fazendas de brasileiros no Alto Paraná, no Paraguai, na região da fronteira com o Brasil, ignoraram a ordem da Justiça daquele país para sair dos arredores de três propriedades em Ñacunday, Santa Rosa del Monday e Iruña. Em Ñacunday centenas deles se instalaram dentro das lavouras. Na sexta-feira, um juiz determinou que os carperos deixassem imediatamente os locais. Até agora, no entanto, o governo negocia com os sem-terra e não há previsão de uma ação policial para fazer cumprir a reintegração de posse.
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A reportagem percorreu a única estrada que leva à região e encontrou no caminho apenas uma viatura, com dois policias, no sábado. No domingo, quando dezenas de motos e caminhonetes com famílias e móveis dentro acorriam aos acampamentos de sem-terra, havia apenas um agente sentado à sombra de uma árvore diante de um posto policial, ao longo do trajeto de mais de 80 quilômetros.
“Não tem como fazer reintegração. Não aceitaremos de maneira alguma”, disse Victoriano Lopez Cardozo, líder dos carperos, assim chamados por viverem em carpas (barracas, em português). “Se a polícia vier, será problema da polícia. Retroceder jamais”. Victoriano dá o recado aos jornalistas, mas também ao grupo de centenas de sem-terra reunidos em Ñacunday. Eles assentem a ordem com urros, batendo facões e erguendo porretes.
Apesar do ar ameaçador, o grupo só lançará mão de uma invasão em massa como último recurso. Por enquanto eles vão, de pouco em pouco, ampliado os acampamentos perto das fazendas. Interessa aos carperos negociar. E a pressão que vêm exercendo nas últimas duas semanas já apresenta resultados.
No domingo o clima era de calmaria no acampamento. “Não temos por que falar em ocupação agora. Entraremos neste terreno com o documento debaixo do braço, legalmente”, disse Rosalino Casco, outro líder dos sem-terra. Ele diz ter sido visitado no sábado pelo governador de San Pedro, estado vizinho ao Alto Paraná, José Pavoka Ledesma. Não há confirmação oficial do encontro.
Um representante do Instituto Nacional de Terras esteve neste fim de semana no acampamento. Em Assunção, o presidente Fernando Lugo reuniu no sábado uma comissão para tratar do assunto e marcou para esta segunda-feira um pronunciamento.
Entenda o caso – Os carperos reivindicam para reforma agrária terras ocupadas há mais de quarenta anos por brasileiros que foram para o Paraguai, na região próxima à fronteira. Os brasiguaios, como são chamados, ajudaram a desenvolver aquele país, com produtivas plantações de soja e milho. Agora, eles consideram essa conquista ameaçada por grupos de sem-terra.
O embate tomou contornos críticos nos últimos quinze dias, depois que o presidente Fernando Lugo determinou a demarcação de terras paraguaias na fronteira com o Brasil. O argumento do governo paraguaio é checar se há brasileiros em terras que originalmente eram públicas. Foi a deixa para os sem-terra convocarem militantes a irem para os acampamentos do Alto Paraná pressionar pela expulsão dos brasiguaios.