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São Paulo ganha guia cultural para pessoas com deficiência

Concebido pelo Instituto Mara Gabrilli, o site reúne informações sobre 186 endereços prontos para receber qualquer tipo de espectador

Por Júlia Rodrigues
12 Maio 2012, 13h41

“Quando uma pessoa com deficiência pensa em se divertir, fica evidente que ela está bem de saúde, que venceu dezenas de outras barreiras”.

São Paulo transformou-se nesta semana na primeira cidade brasileira provida de um Guia Online de Acessibilidade Cultural. Concebido pelo Instituto Mara Gabrilli (IMG), em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado, trata-se de um site com informações sobre 186 locais – casas de show, museus, teatros, cinemas e bares preparados para receber qualquer tipo de público. As informações foram colhidas entre janeiro e março de 2011.

Desde o acidente automobilístico que lhe quebrou o pescoço, deixou-a sem fala e respirando por aparelhos durante cinco meses, a deputada federal Mara Gabrilli se destaca na defesa dos direitos dos 46,5 milhões de brasileiros acometidos por algum tipo de deficiência. Ex-vereadora e ex-secretária municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida de São Paulo, Mara Gabrilli comemora o novo projeto. “Esse trabalho não é dedicado apenas às pessoas com deficiência”, explica a deputada. “É importante para qualquer um que tenha mobilidade reduzida ou algum tipo de dificuldade, inclusive idosos, gestantes e até pessoas com pés engessados”.

Tetraplégica há 17 anos, Mara Gabrilli tem o sorriso fácil de quem se dá bem com a vida. “Qualquer um pode ser feliz”, garante a publicitária e psicóloga que resolveu dedicar-se à política para reduzir os tormentos impostos a pessoas com deficiência pela incompetência dos administradores dos centros urbanos. “Deficientes são as cidades, que não estão prontas para nos receber”, resume.

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Esta certeza inspirou a criação do guia de acessibilidade cultural, que Mara considera muito mais que uma lista de endereços úteis. “O projeto pioneiro é uma vitória que vai além do acesso à cultura”, observa. “Quando uma pessoa com deficiência pensa em se divertir, fica evidente que ela está bem de saúde, que venceu dezenas de outras barreiras”.

O guia permite aos internautas adicionar outros locais já adaptados ou comentar experiências vividas em um bar ou museu indicado na página, por exemplo.

A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida de São Paulo foi a primeira a surgir no país – hoje já passam de cem. Autora de diversos projetos, Mara parece especialmente animada ao comentar o que reserva às pessoas com deficiência 3% das moradias do programa Minha Casa, Minha Vida e lhes garante prioridade na fila de espera. “Essas pessoas têm que ser recompensadas por todo o descaso que enfrentam”.

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Não escapam desses sinais de descaso sequer a sede dos três Poderes. Eleita deputada federal em 2010, Mara descobriu antes da posse que o Congresso não está preparado para receber deficientes físicos. Ela condicionou seu discurso de estreia à supressão de dificuldades humilhantes. Como não teria acesso à tribuna, seria obrigada a pronunciar-se sentada no plenário.

A desinformação sobre o universo dos deficientes começa pela presidência do Senado. Num encontro recente com José Sarney, foi obrigada a ouvir o seguinte palavrório: “Sou familiarizado com a causa, tenho três tios mongoloides”. Sarney talvez já tenha aprendido um pouco mais sobre o tema, mas não tomou nenhuma providência para tornar acessível a mesa diretora do Congresso. “O espaço da escada é estreito. Nunca vou poder presidir uma sessão, nem xavecar o presidente”, sorri. “Tenho que ficar gritando lá de baixo”.

Se o Brasil elegesse um presidente com deficiência, ele teria de entrar no Planalto pelos fundos. A mais famosa rampa do país não é acessível a cadeirantes. Ao criar o projeto, o arquiteto Oscar Niemeyer não imaginou que, 50 anos mais tarde, também estaria imobilizado numa cadeira de rodas – e, portanto, proibido de visitar desacompanhado o palácio que concebeu.

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