RS e Uruguai podem ter vacinação conjunta contra a Covid-19 na fronteira
Com muitos casos de dupla nacionalidade, estados fronteiriços têm pedido doses extras ao Ministério da Saúde
Desde que foi iniciada a vacinação contra a Covid-19 no Brasil, em janeiro deste ano, cidadãos que moram em países vizinhos – e que também possuem a nacionalidade brasileira – têm atravessado a fronteira para serem imunizados pelo SUS. Por esse motivo, estados que vivem essa situação já pediram doses extras ao Ministério da Saúde. O movimento contrário também tem ocorrido: brasileiros vão tomar a dose em outro país, como é o caso dos gaúchos que vivem próximos ao Uruguai e possuem “doble chapa” (dupla cidadania). Em virtude desse fluxo, o governo do Rio Grande do Sul tem negociado com o país vizinho, por meio de videoconferências, a vacinação conjunta nos territórios de fronteira.
Conforme VEJA apurou, uma Cooperação Técnica Bilateral para tornar a ideia viável está sendo discutida. As reuniões incluem representantes do Ministério da Saúde e das embaixadas do Brasil e do Uruguai. “Nestes territórios existem muitas atividades e deslocamentos comuns entre os cidadãos dos dois países. Os protocolos a serem criados de forma conjunta deverão levar em conta as especificidades do planos de imunização dos dois países e as semelhanças e as diferenças entre a velocidade da vacinação, grupos prioritários, quantitativo de doses disponíveis em cada país, entre outros fatores”, informou a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul a VEJA por meio de nota.
Na fronteira com Bolívia e Paraguai, o Mato Grosso do Sul já solicitou ao Ministério da Saúde o envio de 30% a mais de doses da vacina para 13 municípios (Corumbá, Ponta Porã, Mundo Novo, Japorã, Sete Quedas, Paranhos, Coronel Sapucaia, Aral Moreira, Antônio João, Bela Vista, Caracol e Porto Murtinho) que estão na divisa com os países vizinhos, mas ainda não obteve resposta da pasta. O secretário de Saúde do estado, Geraldo Resende, já afirmou que a dupla nacionalidade faz com que o Mato Grosso do Sul receba paraguaios e bolivianos nas cidades fronteiriças, o que gera acréscimo populacional a ser imunizado.
Em Ponta Porã, na divisa com a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, a estimativa do IBGE aponta que 93.937 habitantes residem no município, mas o número de cadastrados no SUS é bem maior: 130 mil. O governo também informou que brasileiros que estão vivendo em Porto Quijarro, na Bolívia, buscam por vacinação na cidade de Corumbá. O sistema do Plano Nacional de Imunização (PNI) não tem espaço para preenchimento sobre vacinação de estrangeiros, e a imunização está sendo realizada somente em que possui cartão SUS.
Em reunião no fim de março com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o governador do Acre, Gladson Cameli, pediu e recebeu a confirmação de que haveria um acréscimo no número de frascos a serem recebidos, como uma forma de compensação pelas áreas de fronteira. A demanda foi pelos mesmos 30% a mais de doses solicitados pelo Mato Grosso do Sul.
Embora tenha registrado a vacinação de apenas cinco estrangeiros, o governo do Pará também pediu a reposição das doses. No caso do Amazonas – estado que tem divisa com o Peru, Colômbia e Venezuela não houve necessidade de solicitação de doses de imunizantes contra Covid-19 extras porque a estimativa, definida pelo Ministério da Saúde, já incluiu a população de fora . Por conta do colapso que enfrentou com a falta de oxigênio no hospitais e recordes de mortes, o Amazonas chegou a receber imunizantes de outros estados. Para receber a vacinação, o cidadão deve apresentar o Cartão Nacional de Saúde ou CPF e não há restrição de atendimento a estrangeiros que comumente buscam serviços de saúde nas regiões fronteiriças.
O governo de Roraima informou que aplicou quase 101 mil doses de vacina e que apenas 1.705 foram destinadas a pessoas de outros países. Por isso, não houve necessidade de solicitar doses extras do Ministério da Saúde. O estado faz fronteira com a Venezuela e a Guiana. Santa Catarina, que tem fronteira com a Argentina, e Mato Grosso, na divisa com a Bolívia, informaram que os municípios não relataram fluxo extra e, por este motivo, não fizeram pedidos de mais vacinas.