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Renovação Carismática chega a 50 anos e diz que está só no início

Corrente da Igreja Católica supera desconfiança das alas mais tradicionais, ultrapassa marca de 11% dos fiéis no mundo e é motivo de celebração no Vaticano

Por Leticia Fuentes 2 jun 2017, 17h12

“Depois de 50 anos, muitas conquistas marcaram a história da Renovação Carismática Católica, mas estamos só no começo. A igreja precisa se reinventar.” Com estas frases, Gilberto Barbosa, 49 anos, um leigo influente da Igreja Católica e fundador da Obra de Maria, uma das principais comunidades do movimento em Pernambuco, resume o espírito da celebração que se iniciou no Vaticano na quarta-feira e termina no próximo domingo.

A data marca, para a religião católica, o Pentecostes, comemoração da descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus e sua mãe, Maria. O evento conta com a presença do papa Francisco e celebra o meio século de existência da Renovação Carismática Católica (RCC) com missas, shows e encontros voltados para o público jovem.

Entre as atrações estão apresentações especiais dos célebres padres cantores brasileiros Marcelo Rossi, Fabio de Melo, Reginaldo Manzotti, João Carlos e Antônio Maria, todos ligados à RCC. A ocasião marcará a volta de Marcelo Rossi aos palcos, sendo a primeira apresentação musical oficial do padre nos últimos 16 anos. Ele também realizará um show posterior no Recife, cuja data ainda será confirmada, para comemorar o aniversário do movimento.

Resistência

Fundada em 1967, enquanto um grupo de estudantes participava de um retiro dedicado ao Espírito Santo, nos Estados Unidos, a RCC não foi aceita logo de início pelos setores mais tradicionais da Igreja Católica. O movimento é conhecido pelo uso da música, palmas e danças como forma de louvar e pela frequente revelação de padres cantores ou manutenção de emissoras de rádio e televisão dedicadas à divulgação da prática religiosa.

Por causa de seus métodos pouco convencionais de promover a fé e do uso da mídia, o movimento sofreu duras críticas desde sua criação – inclusive do atual papa, que expressou uma reação negativa quando entrou em contato com a RCC pela primeira vez, enquanto ainda residia na Argentina. “Mas depois ele percebeu que funcionava”, ri Barbosa, que é presidente das Comunidades Pontifícias no Vaticano e despacha com o sumo pontífice praticamente todo mês.

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O padre Reginaldo Manzotti, que já lançou 12 CDs e quatro DVDs, publicou 10 livros e fala ao vivo para mais de 1.700 emissoras de rádio nacionais ligadas à Renovação Carismática, conta que também não se identificou de cara com o movimento quando decidiu conhecê-lo, em 1991. Ele diz que, inicialmente, achou “estranha aquela maneira de rezar, de cantar”. Além disso, para ele, era difícil imaginar que os grupos de oração eram presididos por leigos que, assim como Barbosa, não pertencem à hierarquia da igreja, mas possuem autorização para conduzir algumas missas e reuniões.

“E [os grupos de oração] também poderiam ser conduzidos por uma mulher”, adiciona. Apesar da resistência inicial, comum à maioria dos padres que receberam uma educação tradicional, Manzotti decidiu participar de um retiro da RCC, sem grandes expectativas, em busca de uma maior espiritualidade. “Me encontrei ali, e não sabia explicar o que era. Me cativou o cantar, a participação do povo. Eles não eram mais meros espectadores.” Quando foi ordenado padre, em 1995, passou a ser muito ativo em sua paróquia utilizando o modelo promovido pela RCC. “Percebi um chamado de Deus para exercer uma vocação social além da sacerdotal”, diz.

RCC em números

Apesar de ter surgido no meio universitário, por causa de suas características inovadoras, a Renovação Carismática ganhou espaço rapidamente entre os demais círculos sociais e se espalhou pelo globo. Atualmente, está presente em 253 países e soma 119,9 milhões de participantes, organizados em grupos de orações semanais, mensais ou anuais. Isso representa uma população equivalente a 11,3% do total de católicos batizados ao redor do mundo, segundo um levantamento do movimento. Para o leigo Gilberto Barbosa, o sucesso do movimento se deve principalmente à sua musicalidade e dinamismo, que se aproxima da juventude e dos setores mais pobres da população, além de ser mais visível por meio da mídia.

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No Brasil, a atuação da RCC é tão forte que o evento realizado no Vaticano teve um dia dedicado especialmente à língua portuguesa, na quinta-feira. “De todos os países do mundo, o Brasil é onde a Renovação Carismática está mais presente”, diz Barbosa. E dentro do cenário nacional, a comunidade fundada em 1985 pelo leigo, Obra de Maria, é uma das mais influentes. Contando com uma equipe de 2.700 voluntários e 54 padres, ela realiza projetos sociais em 16 estados do Brasil, mais o Distrito Federal, e em 16 outros países, dos quais sete estão no continente africano. Entre os projetos voltados às comunidades mais pobres, os principais envolvem a realização de cursos profissionalizantes para a população.

Uma primavera

Barbosa afirma que, se não fosse pela Renovação Carismática, ele provavelmente não seria tão alegre. “Eu encontrei minha fé ali”, diz. Questionado sobre quais são as metas para os próximos 50 anos, o leigo segue confiante e destaca que o movimento deve expandir-se mais ainda entre a população pobre. “Precisamos nos modernizar. Temos que nos aproximar mais da mídia e, assim, alcançar o povo.”

Sobre sua visão da “trajetória histórica da Renovação Carismática”, Manzotti diz que foram 50 anos de muita luta. “Quando [o movimento] surgiu, a igreja pediu um tempo para avaliar. Mas, passada a resistência, eles perceberam que eram pessoas voltadas à eucaristia, fiéis ao papa e que tinham algo a oferecer. Essa é a herança, o legado deixado por ela. Vejo grupos de oração mais atuantes, vejo uma igreja mais próxima da sociedade.”

“E, depois de toda a resistência, floresce. É uma primavera”, ilustra o padre. E, para simbolizar toda essa história, ele diz que “será uma honra enorme cantar com o papa” e participar dos encontros no Vaticano.

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