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Relembre os delatores premiados da Lava Jato em 2016

Ano começou com delações de políticos e termina com a empreiteira Odebrecht abrindo sua caixa-preta da corrupção

Por Da Redação 20 dez 2016, 14h45

Um dos pilares das investigações da Operação Lava Jato, as delações premiadas ganharam preciosos adeptos em 2016. Políticos como o ex-deputado Pedro Corrêa e o ex-senador Delcídio do Amaral entraram para o time de colaboradores do Ministério Público Federal, assim como executivos das empreiteiras Andrade Gutierrez, OAS e da tão aguardada Odebrecht, cujo acordo envolve nada menos que 77 delatores, incluindo seu ex-presidente Marcelo Odebrecht e o pai dele, Emílio Odebrecht.

A explosiva safra de delações de 2016 tem entre os citados o presidente Michel Temer, os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o também tucanos Aécio Neves e José Serra, além de peemedebistas como Renan Calheiros, Romero Jucá, Eduardo Paes e Sérgio Cabral.

Relembre nesta retrospectiva as principais revelações dos delatores neste ano:

Pedro Corrêa, ex-deputado federal (delação não homologada)

O Ex deputado Pedro Corrêa fala na CPI da Petrobras em Curitiba (Pr) na sede da Justiça Federal em Curitiba.
O ex-deputado Pedro Corrêa, um dos delatores da Operação Lava Jato ()

Médico e membro de uma rica família pernambucana, o ex-deputado federal e ex-presidente do PP Pedro Corrêa foi o primeiro político a fechar uma delação premiada com a Operação Lava Jato. Condenado no mensalão, histórico comum a outros presos na Operação Lava Jato, Corrêa conheceu as dependências da carceragem da Polícia Federal em Curitiba em abril de 2015 e foi condenado pelo juiz federal Sergio Moro a 20 anos e 7 meses de prisão em outubro daquele ano. Segundo o ex-deputado, os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff não apenas sabiam da existência do petrolão, como agiram pessoalmente para mantê-lo em funcionamento. Em seus relatos, Corrêa também apontou a gênese do petrolão: uma reunião realizada no Palácio do Planalto entre ele, Lula, integrantes da cúpula do PP e os petistas José Dirceu e José Eduardo Dutra – que à época eram, respectivamente, ministro da Casa Civil e presidente da Petrobras.

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Delcídio do Amaral, ex-senador (delação homologada)

O senador Delcídio do Amaral, durante reunião do Conselho de Ética, em Brasília (DF) - 09/05/2016
O senador Delcídio do Amaral, durante reunião do Conselho de Ética, em Brasília (DF) – 09/05/2016 (Beto Barata/Ag. Senado)

Gravado pelo filho de Nestor Cerveró, Bernardo, tentando comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras na Operação Lava Jato, Delcídio do Amaral foi preso em novembro de 2015, quando ainda exercia mandato de senador. Encarcerado no batalhão da Polícia Militar em Brasília por 87 dias, o ex-ministro de Minas e Energia, ex-diretor da Petrobras, ex-senador, ex-líder do PT e do governo Dilma Rousseff no Senado decidiu contar à Justiça o que viu e viveu nos anos de poder e prestígio político. Delcídio narrou em sua delação premiada, entre outros pontos explosivos, que o ex-presidente Lula não só sabia do petrolão, como era o chefe da quadrilha, que a ex-presidente Dilma tentou sabotar a Lava Jato indicando o ministro Marcelo Navarro ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), e que dezenas de políticos receberam dinheiro de corrupção, incluindo os peemedebistas Renan Calheiros, Romero Jucá, Jader Barbalho e Eunício Oliveira e o senador tucano Aécio Neves.

 

Maria Lúcia Tavares, ex-secretária da Odebrecht (delação homologada)

Maria Lúcia Guimarães Tavares, funcionária da Odebrecht, presa na 23ª fase da Operação Lava Jato, no IML (Instituto Médico Legal) de Curitiba, no Paraná, para exame de corpo de delito, nesta quarta-feira (24)
Maria Lúcia Guimarães Tavares, funcionária da Odebrecht, presa na 23ª fase da Operação Lava Jato (Geraldo Bubniak/AGB/Folhapress)

Secretária do departamento de distribuição de propinas da Odebrecht, o “Setor de Operações Estruturadas”, Maria Lúcia Tavares foi a primeira a romper o pacto de silêncio que até então imperava na empreiteira baiana. Ela começou a trabalhar na Odebrecht muito jovem, nos anos 70, e quatro décadas depois chegou ao estratégico posto de organizadora dos pagamentos ilegais da empresa. Segundo relatou em sua delação premiada, fechado um mês após ela ser presa, em fevereiro, executivos da cúpula da Odebrecht lhe enviavam e-mails que autorizavam os repasses ilícitos. Ela recebia as ordens, catalogava-as e determinava aos responsáveis que as cumprissem. Periodicamente, apresentava aos executivos relatórios que detalhavam como e onde os pagamentos haviam sido feitos. As revelações da secretária foram fundamentais para que a polícia desvendasse códigos usados pela empreiteira para se referir aos beneficiários da propina e, assim, levar à cadeia peixes grandes, como o ex-ministro Antonio Palocci.

 

Andrade Gutierrez (delação homologada)

Otávio Marques de Azevedo durante depoimento no auditório da Justiça Federal, em Curitiba (PR), na manhã desta segunda-feira (31)
Otávio Marques de Azevedo durante depoimento no auditório da Justiça Federal, em Curitiba (PR) (Vagner Rosário/VEJA.com)

Onze executivos da Andrade Gutierrez, incluindo o ex-presidente da holding, Otávio Marques de Azevedo, delataram à Operação Lava Jato como a segunda maior empreiteira do país operou no petrolão. Durante o governo Lula, segundo a confissão de Azevedo, cobrava-se propina de 1% a 5% dos contratos públicos das empreiteiras no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ele também confirmou ter injetado dinheiro desviado da Petrobras na campanha da ex-presidente Dilma Rousseff em 2014, a pedido dos ex-ministros Edinho Silva e Giles Azevedo. O empreiteiro e os outros executivos da Andrade listaram propinas nas obras da usina Eletronuclear de Angra 3 e da hidrelétrica de Belo Monte, implicando peemedebistas como Edison Lobão, Renan Calheiros e Romero Jucá, além dos estádios para a Copa do Mundo de 2014. Otávio Azevedo enumerou os ex-governadores José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, Eduardo Braga e Omar Aziz, do Amazonas, como beneficiários do dinheiro roubado nas arenas “padrão Fifa”.

 

Zwi Skornicki, engenheiro e lobista (delação homologada)

O engenheiro Zwi Skornicki chega ao IML (Instituto Médico Legal) para a realização de exames, nesta terça-feira (23), em Curitiba (PR)
O engenheiro Zwi Skornicki, preso pela Operação Lava Jato (Vagner Rosario/VEJA)

Zwi Skornicki, engenheiro e lobista do estaleiro Keppel Fels, de Singapura, teve o acordo de delação premiada homologado pelo relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, em outubro. Réu na Lava Jato, Skornicki assumiu ter pagado, via caixa dois no exterior, 4,5 milhões de dólares ao marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, referentes à campanha presidencial de 2014. Em seu acordo firmado com o Ministério Público Federal (MPF), o lobista se comprometeu a devolver nada menos que 75 milhões de reais e 48 obras de arte.

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Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS (delação suspensa)

Léo Pinheiro executivo a OAS engenharia preso pela policia federal na manhã de hoje (05) na operação Greenfield faz exame de corpo delito no IML de Curitiba
Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS (Vagner Rosário/VEJA.com)

Suspensa pelo Procurador-Geral da República após VEJA revelar uma citação ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, a delação de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, menciona os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff e dois expoentes do tucanato: o senador Aécio Neves (MG) e o ministro José Serra. Segundo o empreiteiro, Lula se abastecia de propinas da OAS para despesas pessoais e é o verdadeiro dono do tríplex no Guarujá (SP), comprado, reformado e mobiliado com dinheiro de uma conta em que a OAS controlava as propinas devidas ao PT. Quanto a Dilma, Léo Pinheiro relatou uma determinação do governo em 2014 para que a OAS firmasse um contrato fictício com a agência Pepper para pagar cerca de 700.000 reais em despesas da campanha da petista à reeleição. Pinheiro ainda cita que um contrato assinado em 2007 para a construção do Rodoanel, em São Paulo, durante o governo de José Serra, previa 5% de vantagens indevidas a dois auxiliares do tucano. O empreiteiro também relatou ao MPF que propinas de 3% nas obras da Cidade Administrativa do governo mineiro, que custou 1,2 bilhão de reais, eram “condicionadas ao então governador Aécio Neves” por intermédio do operador Oswaldo Borges.

 

João Santana (delação em negociação)

O marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, deixam a sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba
O marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, deixam a sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (Paulo Lisboa/Folhapress)

Em audiência diante do juiz federal Sergio Moro em Curitiba, o marqueteiro João Santana, mago da propaganda das últimas três vitoriosas campanhas petistas à presidência da República, preso na Lava Jato, assim explicou ao magistrado o porquê de ter inicialmente negado irregularidades nas campanhas da ex-presidente Dilma Rousseff: “Eu, que ajudei a eleição dela, não seria a pessoa a destruir a presidente”. Depois de seis meses na prisão, o discurso havia mudado. “Nunca pensei em me transformar em delator, mas como não houve alternativa, farei a mais consistente das delações”, disse Santana aos procuradores da Lava Jato. Em seus depoimentos, conforme revelou VEJA, o marqueteiro relatou que os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega operaram o caixa-dois das campanhas do PT em 2006, 2010 e 2014; que o dinheiro desviado do petrolão bancou despesas pessoais de Dilma; que as empreiteiras do escândalo na Petrobras financiaram a campanha do presidente venezuelano Nicolás Maduro; e que parte dos serviços que prestou à campanha do prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, foi paga via caixa-dois por empreiteiras do petrolão. Mônica Moura, mulher e sócia de Santana, também vai delatar.

 

Odebrecht (delação assinada)

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Construtora Odebrecht tem 77 delatores premiados na Lava Jato ()

A mais aguardada e explosiva delação premiada da Operação Lava Jato, a da empreiteira Odebrecht, envolve nada menos que 77 executivos, incluindo seu ex-presidente Marcelo Odebrecht e o pai dele, Emílio Odebrecht. Distribuído em mais de 300 anexos, o acordo assinado com o Ministério Público envolve, como publicou VEJA, o presidente Michel Temer, os ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula, tucanos de alta plumagem, como José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin, peemedebistas fortemente ligados a Temer, como os senadores Renan Calheiros, Romero Jucá e o ex-ministro Geddel Vieira Lima, e os dois principais nomes do PMDB no Rio de Janeiro: o prefeito Eduardo Paes e o ex-governador Sérgio Cabral. As revelações na delação da empreiteira, que faturou 125 bilhões de reais em 2015 e reuniu 400 advogados para costurar o acordo, levam procuradores da força-tarefa da Lava Jato a constatar que “se os executivos comprovarem tudo o que dizem, a política será definida como a.O. e d.O. — antes e depois da Odebrecht”. O sempre comedido juiz federal Sergio Moro também dá dimensão da turbulência que se aproxima ao comentar: “Espero que o Brasil sobreviva”.

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