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Radicalismo político no Brasil supera média global

A polarização política no Brasil atingiu um nível elevado de intolerância que supera a média internacional de 27 países

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 14 abr 2019, 16h44 - Publicado em 14 abr 2019, 16h03

Tema perceptível no cotidiano do brasileiro nos últimos anos, o radicalismo que envolve as discussões político-partidárias foi o aspecto medido em uma pesquisa do Instituto Ipsos que comparou 27 países. O levantamento mostrou que os entrevistados no Brasil estão menos propensos a aceitar as diferenças. Segundo o instituto, 32% dos brasileiros acreditam que não vale a pena tentar conversar com pessoas que tenham visões políticas diferentes das suas.

O índice nacional nesta questão é maior do que quase todos os países pesquisados – que ficou, na média, em 24% -, atrás apenas de Índia (35%) e África do Sul (33%). Na prática, o nível de intolerância nas discussões políticas afeta as diversas relações pessoais, sejam as familiares, as profissionais e as interações nas redes sociais.

A pesquisa do Ipsos foi realizada com 19,7 mil entrevistados entre 16 e 64 anos nos países em que o instituto atua. Os cerca de mil brasileiros são majoritariamente pessoas de centros urbanos, com salário e nível educacional superior à média nacional.

Em outra pergunta feita aos participantes, 40% dos brasileiros disseram que se sentem mais confortáveis junto de pessoas que têm pensamentos similares. O índice é de 42% levando-se em conta os 27 países. A visão crítica de brasileiros a respeito de quem pensa diferente também foi ligeiramente acima da média geral quando o assunto foi o futuro do país e as razões de suas escolhas. Para 31%, aqueles com visão política diferente das suas não ligam de verdade para o futuro do Brasil. A média geral é 29%. 39% dos brasileiros concordaram com a frase “quem tem visão política diferente de mim foi enganado” – dois pontos porcentuais a mais que a média.

Marcos Calliari, CEO da Ipsos Brasil, avalia que o principal efeito observado no País está relacionado ao questionamento no qual 39% dos entrevistados brasileiros acreditam que pessoas não mudarão de opinião mesmo com evidências contrárias apresentadas. Além disso, 34% concordam com a frase “quem tem visão política diferente de mim não liga para pessoas como eu”. “A falta de transformar opiniões distintas em diálogo construtivo é o que mais nos preocupa. Temos evidências que os entrevistados não veem ganho no diálogo.”

Os brasileiros também se destacaram quando questionados se o País corre mais ou menos perigo com pessoas com opiniões políticas diferentes do que há 20 anos: 44% dos brasileiros acredita que há mais perigo atualmente. A média global, também elevada, é de 41%. Suécia e Estados Unidos lideram, com 57% cada.

Para o cientista político e professor da FGV Marco Antonio Teixeira, a polarização no Brasil está ligada a diferenças de valores, e acabou sendo absorvida pelas disputas políticas. “Nos anos anteriores, as eleições traziam projetos políticos diferentes, não valores, do ponto de vista moral. Não se discutia moralidade em termos de religião, de ser a favor de cotas. Em 2018, foi quase uma luta do bem contra o mal. De conservadores e não conservadores”, afirmou.

Na visão de Calliari, o fato de que o debate político está desestimulado é preocupante para o futuro do País. “Intolerância tem a ver com o voto “anti-oposto”. Nesse caso, mantém e reforça a intolerância. (Os eleitores) Não apoiaram uma causa que acreditam, mas sim o anti. Não se reconhece os pontos positivos de outros projetos. Como chegamos aqui, tem uma coisa cultural. Não temos cultura de dialogar ideias. Isso se reflete na família, no contexto educacional, na hierarquia das empresas. Uma conjunção de fatores institucionais que desestimula o diálogo. Essa talvez seja a origem. É um futuro incerto, dúbio. É preocupante.”

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Valores morais têm sido apontados entre os principais motivos do acirramento político na sociedade brasileira, por vezes às frente dos embates diretamente políticos ou partidários. Para o cientista político Kleber Carrilho, da Universidade Metodista, isso é um sinal de que falta educação sobre política no País. “Há uma tendência de não sabermos o que é política.”

O protagonismo das pautas morais gera uma discussão em que argumentos são deixados em segundo plano, de acordo com o pesquisador da Universidade Metodista. “Não estamos estimulados a debater política e, quando isso acontece, o debate vira uma discussão entre tribos que trabalham não com argumentos, mas com ataques ao que é diferente. Vira um ambiente de Fla-Flu”, diz Carrilho.

Para o cientista político, o cenário favorece a simplificação de discursos. “Algumas estruturas políticas estimulam este tipo de enfrentamento a partir de uma técnica de propaganda que existe desde sempre e que foi explorada por regimes totalitários, que é a simplificação de discursos. Indicando um inimigo comum.

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