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PT tenta recuperar Santo André em busca de hegemonia no ABC paulista

Partido disputa segundo turno contra o atual prefeito, Aidan Ravin (PTB), no ano em que o assassinato do prefeito Celso Daniel completa dez anos

Por Kamila Hage
28 out 2012, 10h07

No ano em que completa uma década a morte do ex-prefeito Celso Daniel, cujo assassinato ainda assombra o PT, o partido tenta recuperar a prefeitura de Santo André, no ABCD paulista. A vitória poderá significar a hegemonia na região, já que a sigla venceu em São Bernardo do Campo no primeiro turno e é favorita em Diadema – em São Caetano, o candidato petista teve de renunciar após ser flagrado negociando recebimento de propina.

Além de ampliar terreno no ABCD, a cidade de Santo André é simbólica para o PT. Foi lá que o partido estruturou uma de suas principais máquinas municipais antes da chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, em 2002. Naquele ano, Celso Daniel, já escalado para ser o coordenador da campanha de Lula, foi assassinado após dois dias de um misterioso sequestro. O corpo foi encontrado alvejado por oito tiros em uma estrada de terra em Juquitiba, em São Paulo. De Santo André, saíram alguns dos principais auxiliares de Lula, que estão até hoje no Palácio do Planalto, entre eles os ministros Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, e Miriam Belchior, ex-mulher de Celso Daniel e ministra do Planejamento.

A disputa eleitoral para a prefeitura de Santo André foi para o segundo turno e será decidida entre Carlos Grana (PT) e o atual prefeito da cidade, Aidan Ravin (PTB). Para o segundo pleito, o candidato petista conquistou o apoio de Raimundo Salles (PDT), terceiro colocado no primeiro turno com 13, 42%. Aidan, por sua vez, aliou-se ao PSDB e ao candidato derrotado Nilson Bonome (PMDB), que fez mistério e ameaçou apoiar Grana, mas acabou selando a parceria com o atual prefeito.

O deputado Carlos Grana usou o nome de Celso Daniel para alavancar votos na cidade, aproveitando-se da boa avaliação do companheiro. O candidato petista afirmou ser o “herdeiro do legado de Daniel”. “Com relação ao prefeito Celso Daniel, não tem melhor quadro na história do Partido dos Trabalhadores no ABC”, disse ao site de VEJA.

O primeiro turno não surpreendeu, e apresentou um resultado polarizado. PT e PTB são as duas maiores forças políticas do ABCD, e travaram uma disputa acirrada na região. Contudo, os petebistas ficaram para trás, e perderam a prefeitura de São Caetano já no primeiro turno, com a vitória de Paulo Pinheiro (PMDB) – ex-PTB – com 63,35% dos votos, contra 34,81% conquistados por Maura Zetone (PTB). A derrota foi um golpe duro para o partido, que administra a cidade há trinta anos.

Caso o PTB perca em também em Santo André, sua presença na região será reduzida à vice-prefeitura de São Bernardo, com Frank Aguiar. Na cidade, única em que PT e PTB se aliaram, Luiz Marinho (PT) se reelegeu já no primeiro turno com 65,79%.

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Quinta maior cidade do estado de São Paulo, Santo André tem uma história que se entrelaça à do Partido dos Trabalhadores. A região do Grande ABCD, composta também por São Bernardo, São Caetano e Diadema, foi o destino de montadoras de automóveis na década de 1960, após a abertura econômica promovida pelo presidente Jucelino Kubitschek. O movimento sindical encontrou, portanto, as condições ideais para se desenvolver no local, dando origem ao PT em 1980. Com a conquista da prefeitura da cidade, a hegemonia petista na região deve ajudar na disputa para o governo do estado de São Paulo em 2014.

Apesar da importância da vitória no domingo, o deputado estadual Carlos Grana não admitiu que exista uma pressão do partido para que isso aconteça, mas sim uma “vontade da população por mudança”. Porém, o que se vê no município é uma marcada movimentação da sigla para a retomada da cidade. O ex-presidente Lula interveio no PT de Santo André para Grana ser o candidato à prefeitura. A reconquista da segunda maior cidade do ABC é considerada “questão de honra”. Em 2008, após 12 anos de administração petista, com Celso Daniel e João Avamileno, o deputado federal Vanderlei Siraque perdeu para o atual prefeito, Aidan Ravin (PTB), no segundo turno.

O escolhido Grana foi o encarregado da logística do QG montado em 2002 pelo PT no bairro do Jardins, em São Paulo, com o objetivo de desencavar denúncias contra os adversários do ex-presidente na disputa eleitoral para a Presidência naquele ano. Os principais alvos do grupo, composto por sindicalistas e amigos de Lula, foram os candidatos José Serra (PSDB), Ciro Gomes (então no PPS) e Anthony Garotinho (então no PSB). O esquema foi revelado por VEJA em 2003.

O ex-presidente esteve ao lado de seu candidato em um comício realizado no dia 19 de outubro. No encontro, Lula mencionou a trajetória da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que atuou como secretária de Inclusão Social e Habitação em Santo André em duas administrações petistas. Por “conhecer a cidade como a palma da mão”, a ministra, segundo o ex-presidente, terá sensibilidade para acolher as propostas de Grana. “Dessa forma, irá convencer o governo federal a investir dinheiro em projetos”, afirmou Lula.

Mensalão – Um personagem político de notória importância em Santo André, Luiz Carlos da Silva, conhecido como Professor Luizinho, teve seu nome envolvido no maior escândalo de corrupção do governo Lula, em 2005, o mensalão. Na época, Luizinho era deputado federal e chefe do governo Lula na Câmara.

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Pesou contra ele a acusação de ter recebido 20 000 reais das contas do publicitário Marcos Valério. O dinheiro seria destinado ao período de pré-campanha das eleições municipais de 2004 em Santo André. Como defesa, o ex-deputado alegou que o dinheiro foi sacado por seu assessor, que teria sido o verdadeiro beneficiário. Absolvido pela Comissão de Ética da Câmara, Luizinho tentou se reeleger parlamentar em 2006 e se candidatou a vereador do município em 2008, mas foi derrotado nas urnas em ambas oportunidades. Foi réu no julgamento do mensalão, acusado de lavagem de dinheiro, mas os ministros do STF o absolveram por unanimidade em outubro deste ano.

O fato de ser réu no processo do STF não inibiu a participação do Professor Luizinho na campanha eleitoral de Grana. Ele agiu de forma tímida, em comparação a outras eleições na cidade, mas não se afastou. Com a absolvição, o candidato petista afirmou que o mentor voltará a atuar de forma declarada. “Agora, absolvido, ele poderá se planejar de forma mais tranquila e retomar suas tarefas aqui com a gente”, disse Grana.

Para o deputado estadual Edinho Silva, presidente estadual do PT, a prévia do resultado no ABC é positiva, e prova que a sociedade “acredita no projeto liderado pelo PT”. “Existia um esforço muito grande pra tentar partidarizar o julgamento na esfera do Judiciário. Tentou-se colocar o PT no banco dos réus, mas a sociedade mostrou que ainda acredita no partido”, disse.

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