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Psicólogo que examinou Merah descreve ‘identidade falha’

Por Por Alexandre PEYRILLE
23 mar 2012, 13h03

Alain Penin, um psicólogo que em 2009 examinou Mohamed Merah, o assassino em série de Toulouse e Montauban (sudoeste), descreve um jovem frágil, influenciável, fascinado pela violência e que sofria de uma “falha de identidade” que favoreceu o desenvolvimento de um “processo monstruoso”.

Penin revela que o padrasto de Merah, um islamita radical, pode ter tido influência sobre ele e que o jovem não aceitou ser descartado pelo Exército, e que, por isso, recomendou tratamento psicológico.

AFP: Qual é o perfil psicológico de Mohamed Merah?

Penin: “Nós o descrevemos como um monstro, ele pode até ser um, mas possui uma história complexa.

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Quando eu o examinei em 2009 (após ter se recusado a obedecer oficiais em um posto de controle rodoviário, ndlr), eu vi um jovem muito ansioso, em dificuldade, emocionalmente muito frágil, com uma personalidade um pouco neurótica.

Seu pai abandonou sua mãe quando ele tinha cinco anos. Ela teve dificuldades para manter suas responsabilidades educacionais e não conseguiu fornecer a segurança emocional desse menino, que foi colocado em um abrigo, depois com uma família adotiva e em uma instituição.

Posteriormente foi fichado por comportamento anti-social e atos de delinquência na adolescência”.

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AFP: Quando ele mudou?

Penin: “Quando seu pai partiu permanentemente para a Argélia em 2007/2008, ele foi confrontado com um problema de identidade, um problema de segurança emocional. Foi neste momento que ele tentou se juntar à Legião Estrangeira. Os militares, infelizmente, confirmaram as intuições que eu tive e não o aceitaram na Legião. Ele ficou muito mal (*).

Isso foi o gatilho para que tomasse uma direção diferente, um outro colapso narcísico. Neste momento, ao que parece, ele partiu para o Afeganistão e o processo monstruoso entrou em vigor, ou seja, mudou completamente sua maneira de ver as coisas, de ver o mundo.

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Havia um caráter narcisista já em 2009. Nos últimos dias, ele se tornou o centro do mundo, viu suas necessidades narcísicas serem completamente preenchidas, mas até a morte”.

AFP: Ele era influenciável?

Penin: “Quando nós estamos frágeis desta maneira, quando temos falha em nossa identidade, quando temos uma ansiedade, aproximamo-nos de qualquer coisa que possa restabelecer uma forma de segurança. Influenciável? Sim, com certeza”.

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AFP: Em que momento ele buscou a religião?

P: “Um padrasto chegou no ambiente familiar, com um perfil de islamita radical. Houve um problema de identificação. Ele começou a fazer o Ramadã, a rezar, a ler o Alcorão, uma maneira simbólica de encontrar a figura paternal, que se fixou definitivamente na Argélia”.

AFP: Quais foram as suas recomendações?

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Penin: “No momento em que o examinei, defendi um apoio psicoterapêutico e medidas de controle e acompanhamento do plano educacional. Sem isso, eu reservei o prognóstico evolutivo. Ele fez uma tentativa de suicídio por enforcamento na prisão e foi internado por 15 dias em um hospital psiquiátrico”.

AFP: O que revela o seu gosto por imagens de decapitações e o fato de filmar seus assassinatos?

Penin: “Em um determinado momento, ele ficou fascinado pela violência, e essa foi uma das únicas maneiras de se expressar. Depois, entrou em um processo de dessensibilização desta violência que se tornou natural e fonte de excitação”.

(entrevista realizada por Alexandre PEYRILLE)

* Segundo o Ministério da Defesa, Merah passou uma noite em julho de 2010 no centro de informação da Legião Estrangeira em Toulouse, mas partiu “por conta própria”, sem participar dos testes de seleção.

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