Promotoria defende coronel Ubiratan para acusar Cepollina
Acusação pediu que júri 'não se deixe levar pela opinião pública' sobre vítima
No terceiro dia de júri do julgamento de Carla Cepollina, acusada de assassinar o coronel Ubiratan Guimarães, o assistente da acusação, Vicente Cascione, tentou com sua retórica enaltecer os atos do coronel Ubiratan em 1992. Ele afirmou que se o policial, que comandou a invasão ao presídio do Carandiru, não tivesse agido, muitas pessoas morreriam sufocadas com fumaça de um incêndio provocado por presidiários. “Não interessa se na cabeça de algum jurado o coronel merecia morrer. Ele não matou 111, mas salvou 2000”. Foram mortos 111 presos amotinados na ocasião.
Em seguida, pediu aos jurados – seis homens e uma mulher – que não se deixassem levar pela opinião pública a respeito da vítima. “Foi depois que todo mundo amaldiçoou a invasão do Carandiru, que o crime organizado cresceu e a policia murchou”, afirmou. Vicente Cascione foi o advogado que inocentou o coronel Ubiratan em fevereiro de 2006, no julgamento dos atos executados no presídio.
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Carla Cepollina é acusada de assassinar o namorado na noite de 9 de setembro de 2006, no apartamento da vítima, localizado no bairro dos Jardins. Durante a fala, o assistente caracterizou a ré como uma pessoa arrogante, que se achava acima da Justiça. “Não há mais espaço para inocentar com base na estirpe, na condição social, no pedigree. Esse país é hoje o país dos iguais”, disse.
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Para Cascione, a advogada, que tinha 40 anos na época, cometeu o crime por não aceitar que o coronel Ubiratan a trocaria por Renata Madi, delegada da Polícia Federal quase quinze anos mais nova que a acusada. Movida por arrogância e orgulho, Carla teria o matado na noite de 9 de setembro, com um tiro no abdômen. “Não é meu, não é de ninguém”, disse o assistente em referência ao sentimento da ré. Para ele, o ar de superioridade mostrado por ela durante todo o julgamento, é o que a impede de assumir o que fez: “Não aceita assumir a autoria porque fere o amor próprio, o pedigree”. Durante seu interrogatório na última terça-feira, Carla pediu que o promotor João Carlos Calsavara a chamasse de “doutora” e não “dona”.
A acusação, primeira a ser ouvida, dividiu o seu tempo entre o promotor João Carlos Calsavara e o assistente Vicente Cascione, advogado de Ubiratan Guimarães.
Interrogatórios – Cascione contestou a versão exposta por Carla em seu depoimento, de que ela teria sofrido “tortura mental” em interrogatórios no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ele disse que, ao contrário, “ela que massacrou os delegados”. Na época, a mãe de Carla, Liliana Prinzivalli, mantinha um relacionamento com o desembargador Alberto Marino Junior – falecido em 2011 -, e era amiga próxima de Marco Antonio Desgualdo, delegado-geral da Policia Civil em 2006. De acordo com o assistente, as relações da mãe deram resguardo à ré. “Precisamos acabar com essa história de que réu titulado, protegido por delegado-geral, não vai pra cadeia”, afirmou.