A Polícia Civil de Goiás decidiu indiciar nesta quinta-feira, 20, o médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, pelo crime de violência sexual mediante fraude, previsto no artigo 215 do Código Penal. A pena prevista é de dois a seis anos de cadeia, em regime fechado.
Os delegados responsáveis pelo caso estão a caminho de Abadiânia (GO), neste momento, para protocolar o inquérito policial finalizado junto ao fórum da cidade. Agora, o Ministério Público de Goiás irá decidir, a partir deste inquérito, se denuncia o médium à Justiça ou não.
O inquérito leva em conta o caso de uma vítima, de aproximadamente 40 anos, que relatou ter sofrido abuso sexual de João de Deus em outubro deste ano. Segundo o relatório final, o líder religioso ofereceu presentes, como uma pedra valiosa e dois quadros religiosos, depois de tentar atos libidinosos com a mulher, com o objetivo de silenciá-la.
Inicialmente, a investigação abrangia quinze casos, mas apenas o que envolvia esta vítima ocorreu depois de junho de 2018. Até setembro, o Código Penal determinava prazo máximo de seis meses para a denúncia após o crime. Ainda assim, algumas das vítimas servirão como testemunha no processo.
A reportagem apurou que a mulher visitou a Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus fazia atendimentos espirituais, várias vezes e sempre acompanhada de um namorado. Em uma dessas ocasiões, ela ficou sozinha com o médium em uma sala para a consulta espiritual. Com as luzes apagadas, João de Deus teria começado a tocar próximo à região íntima da denunciante que, neste momento, percebeu que ele estaria com o órgão sexual exposto.
Aos policiais, a vítima contou que, quando percebeu a tentativa do médium, tentou resistiu e interrompeu qualquer contato físico. Nesse momento, João de Deus teria oferecido a pedra e o quadro religioso à vítima. Em seu depoimento à Polícia Civil, João de Deus disse não se lembrar de ter dado esta pedra, mas admitiu a oferta de “quadros”.
‘Estelionato sexual’
O delegado Valdemir Pereira, um dos coordenadores da força-tarefa que investiga João de Deus por abuso sexual, disse nesta quinta que a Polícia Civil tem “provas robustas” para que o líder religioso seja condenado por violência sexual mediante fraude. Segundo Pereira, o médium cometeu “estelionato sexual”.
“Foi um estelionato sexual, a vítima foi lá (Casa Dom Inácio de Loyola) para ser curada e ele (João de Deus), aproveitando dessa situação, enganou a vítima e abusou dela sexualmente. A Polícia Civil entende que há provas robustas contra o investigado”, afirmou o delegado. Como se trata da única vítima, o policial relatou que a mulher está “ansiosa” e com “medo”.
Pereira contou ainda que João de Deus tinha a prática “comum” de oferecer presentes às mulheres após tentar os abusos, com o objetivo de evitar que elas o denunciassem. “Isso (tentativa de silenciar a vítima) ficou muito claro. Essa é uma prática comum dele. Ele abusa sexualmente da vítima e depois dá presentes às pessoas abusadas”, explicou.