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Pinheirinho: saem os moradores, entram os militantes

Após imbróglio jurídico, desocupação ganha contornos políticos e ruas são disputadas por militantes de partidos de esquerda, sindicalistas e políticos

Por Bruno Huberman
24 jan 2012, 06h52

Um dia depois da ação de reintegração de posse da área chamada de Pinheirinho, na periferia de São José dos Campos, interior de São Paulo, ex-moradores dividiam as ruas com centenas de militantes de partidos de esquerda, sindicalistas e políticos. A Polícia Militar isolou a região. Os comerciantes fecharam as portas com medo. A todo o momento, o barulho de sirenes chamava atenção nesta segunda-feira. Centenas de policias patrulhavam as vielas. Cerca de 7.000 pessoas estão desalojadas e foram para albergues, abrigos e casas de familiares e amigos.

A desocupação se transformou em um imbróglio jurídico, já que havia decisões diferentes da Justiça estadual, que determinava a reintegração de posse, e da federal, que chegou a anular a ordem de reintegração. No início da noite deste domingo, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a competência era mesmo da Justiça estadual. A área de 1,3 milhão de metros quadrados pertence à massa falida de uma empresa do investidor Naji Nahas. Cerca de vinte pessoas ficaram feridas e trinta foram presos.

O assunto também ganhou contornos políticos. Embora não se tratasse de área pública, o governo federal acompanhou de perto as negociações durante toda a semana. No domingo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ter sido surpreendido pela ação policial. Nesta segunda-feira, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, colocou panos quentes: “Fomos surpreendidos por um processo que estava em plena negociação, mas não quero fazer críticas ao governo de São Paulo. Respeitamos a sua autonomia.”

A invasão de militantes de esquerda se intensificou nesta segunda-feira. Cerca de 100 pessoas da juventude do PSOL saíram de São Paulo no domingo rumo a São José dos Campos. Moradores ligados a grupos políticos e movimentos sociais reclamaram da centralização das negociações por integrantes do PSTU, partido de extrema-esquerda que estaria querendo impor sua ideologia, além de levar os louros sobre possíveis conquistas. Luiz Carlos Prates, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José e um dos líderes que estiveram em Pinheirinho, disse que a operação foi uma medida traiçoeira dos governos estadual e municipal.

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Os manifestantes, que chegaram a entrar em confronto com os polícias algumas vezes, atearam fogo em carros e estabelecimentos e organizaram uma manifestação no centro de São José dos Campos contra a operação, prometem resistir. “O nosso interesse é ficar no Pinheirinho”, afirma o metalúrgico. “Só sairemos de lá quando o governo apresentar uma alternativa definitiva para abrigar todas as famílias e não apenas abrigos provisórios”.

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Desalojados – Quando foram retirados de suas casas na operação policial, os moradores receberam números de identificação para, mais tarde, recuperar seus pertences e ser encaminhados para abrigos provisórios. No entanto, a maior reclamação dos desalojados é não ter para onde ir. A prefeitura informou que disponibilizou cinco abrigos que comportam 8.000 pessoas, mas que, até agora, apenas 680 procuraram o poder público e foram encaminhadas para abrigos. A maioria prefere conseguir um teto por meio próprios.

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A PM está liberando, aos poucos, o acesso ao local para as pessoas recuperarem os seus pertences. As famílias são acompanhadas por oficiais de justiça em suas casas e recebem ajuda de profissionais da prefeitura para retirar os móveis e eletrodomésticos. Foram disponibilizados oitenta caminhões para o transporte das cargas. Os pertences não reclamados serão encaminhados para depósitos. Depois que as casas forem esvaziadas, começará a demolição das residências. Estima-se que são cerca de 1.700 casas na área.

Há relatos de abusos dos policiais durante a operação. Segundo a PM, no entanto, a operação, que contou com um efetivo de 2.000 homens, ocorreu sem imprevistos e não foi violenta. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que irá investigar possíveis abusos.

Leia no blog de Reinaldo Azevedo:

Sim, o governo federal poderia ter impedido a ação da Polícia Militar na região do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), se, em vez de se excitar com o cheiro de sangue dos pobres – que, felizmente, não correu -, tivesse tido a vergonha na cara e o bom senso de tomar uma medida em favor daquelas famílias. Já explico. Vocês vão se surpreender como tudo teria sido muito simples houvesse vontade resolver. O problema é que a atração pelo sangue era maior. Os palacianos apostaram no confronto. A petezada vislumbrou mais uma chance de jogar a população de São Paulo contra a polícia e contra o governo do estado.

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