PF tenta delação premiada na Operação Turbulência
Delegado da PF em Pernambuco afirmou que o objetivo é identificar a origem e a quem foi enviado os recursos movimentados pelo grupo de empresários
A Polícia Federal já sinalizou aos quatro presos da Operação Turbulência que, para chegar ao nome de eventuais políticos e demais beneficiários do esquema criminoso, aceitaria fechar acordos de colaboração premiada – o quinto deles, Paulo César de Barros Morato, que estava foragido da Justiça, foi encontrado morto na noite desta quarta-feira num quarto de motel em Olinda (PE) em circunstâncias ainda não claras, embora principal suspeita seja o suicídio ou infarto.
“Vamos partir agora para identificar de onde vinha esse dinheiro e a descentralização desses recursos para empresários e políticos”, disse o delegado Marcello Diniz Cordeiro, superintendente da PF em Pernambuco.
O interesse da PF é que os operadores do esquema de lavagem de dinheiro, responsável por movimentar 600 milhões de reais desde 2010, tragam aos autos provas e depoimentos que levem à identificação dos beneficiários finais e também às origens dos recursos. Em contrapartida, poderiam obter redução ou até o perdão da pena.
De início, todos se negaram a prestar esclarecimentos nas oitivas e rechaçaram a abordagem com a oferta para a delação premiada. Estão presos preventivamente no Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel) os supostos empresários João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite, Apolo Santana Vieira e Arthur Roberto Lapa Rosal.
A PF acredita, porém, que eles possam mudar de ideia depois de refletirem com o isolamento na cadeia. Os policias federais esperam que, com a morte de Paulo César Morato, eventuais habeas corpus das defesas ao Tribunal Regional Federal não prosperem. O site de VEJA tentou contato com os advogados, mas não conseguiu retorno.
Investigadores ouvidos pelo site de VEJA afirmaram que todos tinham papel de operadores de propinas e da lavagem de dinheiro entre 25 contas usadas para escamotear a origem e os destinatários finais. O papel deles é comparado ao do doleiro Alberto Youssef na Lava Jato.
“Foi conversado com eles que a PF sabe que eles fazem parte, mas são o meio e o importante para a gente é descobrir quem faz uso dessa organização criminosa”, disse uma fonte da cúpula da operação. “Se tem alguém para lavar dinheiro, é porque tem alguém que quer lavar esse dinheiro. Nosso próximo objetivo é identificar pessoas que tenham feito uso disso, seja aqueles que entregaram dinheiro, seja aqueles que receberam.”
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Em paralelo, a coordenação da Turbulência deve requerer à Justiça Federal medidas como quebras de sigilo fiscal, bancário e de comunicações dos alvos, sejam empresas ou pessoas.
Em ao menos quatro casos, a PF e o Ministério Público conseguiram identificar indícios dos envolvidos nas transações ou de onde partiu e para onde foram os recursos, a partir do compartilhamento de provas da Lava Jato, inclusive delações: formação de caixa dois em espécie para a OAS destinar a políticos; suposta doação de recursos de caixa dois da Camargo Corrêa para a campanha à reeleição do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB); pagamentos feitos aos parlamentares alagoanos do PP Arthur Lira, deputado federal, e Benedito Lira, senador; pagamento de 18,8 milhões de reais da OAS a uma empresa de fachada que bancou parte da compra do jatinho que caiu com Campos a bordo, em 2014.