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Paulistanos e cariocas são os que mais trabalham para pagar passagem de ônibus

Em São Paulo e no Rio de Janeiro, passageiros precisam dedicar em média 12 minutos e meio de trabalho para pagar cada viagem. Cálculo feito a pedido do site de VEJA considerou 12 metrópoles e comparou tarifas com renda média

Por Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
3 mar 2014, 10h06

Paulistanos e cariocas estão entre os cidadãos que mais precisam trabalhar para pagar uma viagem de ônibus em suas cidades. A conta considera os valores das tarifas, os salários médios e o câmbio de 12 metrópoles. Nas duas maiores cidades brasileiras, o usuário precisa trabalhar, em média, pouco mais de 12 minutos para comprar uma passagem – acima de Londres, a terceira cidade com tarifa mais alta, de acordo com esses quesitos. Os londrinos dedicam 11 minutos de trabalho, em média, para arcar com uma viagem de ônibus. No outro extremo do ranking está Buenos Aires, onde 1 minuto de trabalho é suficiente para custear a tarifa unitária.

O levantamento foi feito a pedido do site de VEJA pelos economistas Samy Dana e Leonardo Siqueira de Lima. Para estimar quanto o gasto com ônibus ocupa do tempo do trabalhador, Siqueira Lima considerou a renda média por pessoa de cada país, e comparou este valor com a tarifa. Essa comparação é um método para ilustrar poder de compra em diferentes moedas.

“A passagem de ônibus representa uma parcela muito maior do salário para o brasileiro do que para o inglês. No final das contas, sobra menos renda para o brasileiro gastar com lazer, por exemplo”, disse o economista Leonardo Siqueira de Lima.

Alvo de protestos de rua e de constantes queixas de usuários, o serviço de ônibus nas duas grandes cidades brasileiras, com base nessa comparação, é mais caro do que cidades reconhecidas por sua qualidade de transporte. Londres, a terceira metrópole no ranking, tem, além dos coletivos, um amplo e eficiente sistema de metrô. Para garantir que o transporte público tenha fluidez no centro da cidade, automóveis são taxados. A tarifa londrina convertida para o dólar (4,07 dólares) é bem mais alta que a de São Paulo e Rio (1,26 dólar). Mas, como o rendimento médio por hora dos paulistanos e cariocas é de 6,03 dólares, contra 20,67 dólares na capital inglesa, a passagem pesa mais no bolso dos brasileiros.

Os doze minutos e trinta segundos de trabalho necessários para adquirir uma passagem no Rio ou em São Paulo são quase o dobro do esforço necessário para uma viagem em Paris ou em Nova York, respectivamente a oitava e a nona cidades mais caras. O sistema de transporte público de Paris tem, além dos ônibus, um metrô que cobre grande parte da capital. E a cidade adota ainda um modelo de estações de aluguel de bicicletas copiado mundo afora, e que realmente atende os usuários do transporte público como sistema complementar.

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Os ônibus no Brasil são, em sua maioria, veículos adaptados a partir de carrocerias de caminhão. A má qualidade do serviço de ônibus e a falta de transparência nos reajustes anuais permitidos pela Prefeitura provocaram indignação dos usuários. As manifestações iniciadas em junho do ano passado fizeram o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), cancelar o aumento do ano passado. Mas, em fevereiro deste ano, a passagem voltou a subir e se igualou ao preço praticado em São Paulo: 3 reais. Isso bastou para motivar uma nova onda de protestos.

Quanto custa a passagem, em tempo de trabalho*
Cidade Tarifa em Dólar Rendimento médio

por Hora

Tempo de trabalho

em minutos

São Paulo 1,26 6,03 12min 30s
Rio de Janeiro 1,26 6,03 12min 30s
Londres 4,07 20,67 11min 49s
Lisboa 2,50 14,41 10min 25s
Tóquio 2,45 17,56 8min 23s
Santiago 1,09 8,02 8min 8s
Madri 2,29 18,41 7min 28s
Paris 2,50 23,05 6min 31s
Nova York 2,50 23,71 6min 20s
Ottawa 2,36 26,43 5min 22s
Pequim 0,26 4,29 3min 38s
Buenos Aires 0,16 9,36 1min 2s

O Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (TCM-RJ), em estudo concluído no fim de outubro do ano passado, recomendou que a tarifa fosse reduzida de 2,75 para 2,50 reais. A redução seria necessária porque o lucro das empresas, na chamada taxa interna de retorno, estava acima do equilíbrio estipulado no contrato de concessão. De acordo com a inspeção dos peritos do TCM-RJ, a taxa de rentabilidade das concessões de ônibus estava em 10,01%, bem acima do lucro estipulado de 8,8% na assinatura dos contratos. O mesmo contrato, no entanto, assegura às empresas reajustes para compensar a alta de custos.

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Para especialistas entrevistados pelo site de VEJA, a taxa interna de retorno de 10% é “excessiva”. Quanto menor o risco do negócio, menor deve ser essa rentabilidade. No caso do transporte público, a demanda de passageiros é considerada relativamente indiferente a oscilações de mercado.

“Se a taxa real de retorno for de 10%, como constatou a auditoria, é um lucro elevado. É um patamar de rentabilidade típico de negócio puramente privado, onde o ganho é maior e a incerteza também”, diz o economista Alexandre Moreira Galvão, diretor da consultoria Ceres Inteligência e professor da Fundação Dom Cabral e especialista em finanças corporativas.

Os dados sobre os lucros e custos das empresas de ônibus não são informados com transparência. O vereador Eliomar Coelho (PSOL) propôs a criação da CPI dos Ônibus na Câmara Municipal do Rio de Janeiro para investigar a rentabilidade desses contratos. Mas a base governista do prefeito Eduardo Paes, que tem ampla maioria na Casa, dominou a comissão parlamentar de inquérito. A oposição teve de ir ao Judiciário para pedir uma revisão da composição da comissão. Atualmente, os trabalhos estão suspensos por determinação da Justiça.

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