Por Maria Carolina Maia
A fusão das operações financeiras entre Itaú e Unibanco, anunciada nesta segunda-feira, não deve trazer novidades imediatas para os correntistas das duas instituições, segundo a avaliação de especialistas ouvidos por VEJA.com. “As duas empresas vão agora formar uma holding, mas cada uma vai manter a sua bandeira e a sua estrutura administrativa, com ganhos de escala, isto é, o aproveitamento por uma das partes do que a outra faz de melhor. Para o correntista, em termos de mudança, vai haver um sonoro e rotundo zero”, afirma o especialista em direito bancário João Antônio Motta. Ele acrescenta, no entanto, que clientes do Unibanco devem estar respirando aliviados, porque corria no mercado o boato de que o banco estaria com problemas de liquidez.
O administrador de investimentos Fábio Colombo pensa como Motta, mas crê em algum benefício – ainda que pequeno – para o correntista, como conseqüência da fusão entre os bancos. “A tendência é uma racionalização de despesas”, diz Colombo. O intercâmbio, é claro, deve criar sinergias e, mais para frente, pode até resultar em demissões: num primeiro momento, contudo, as folhas de pagamento não devem sofrer cortes.
Mercado – O setor bancário brasileiro como um todo também não deve sofrer grande impacto. De acordo com João Antônio Motta, Unibanco e Itaú são responsáveis por 18% do volume financeiro movimentado no mercado nacional. Apesar de representativo, o valor não indicaria uma concentração excessiva nas mãos de uma única instituição.
O especialista aposta ainda em novas fusões. O Bradesco, que era até aqui o maior banco privado do país, seria o forte candidato a partir para o ataque. “O Bradesco sempre teve uma rivalidade com o Itaú, e agora não deve querer ficar para trás.”
O banco já esboçou reação, como informa o Radar On-line, com uma ofensiva sobre os correntistas do Itaú e do Unibanco. Sua área private enviou nesta segunda-feira um comunicado aos clientes em que diz ser este um momento propício para reposicionar investimentos e evitar concentração. “Aos clientes que possuem contas nas duas instituições, o Bradesco se oferece para captar este valor”, escrevia um gerente, autor da mensagem.
Crise – Outra situação que deverá ficar inalterada diante do processo de fusão é o crédito – um dos pontos nevrálgicos da crise internacional. “O mercado de crédito do país já é altamente concentrado, são poucos bancos, com diferenças mínimas entre as taxas de juros. Por isso, não deve haver redução nos juros nem nas tarifas”, diz Motta.
O negócio entre Itaú e Unibanco ainda precisa ser aprovado por três instâncias: o Banco Central (BC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “É um processo natural de consolidação do sistema”, pontua Colombo.