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Os responsáveis pelos pulmões de São Paulo

Os gases emitidos por veículos automotores representam quase 100% da poluição da capital paulista

Por Bruno Abbud
22 set 2011, 23h32

Todos os dias, por volta das 9h da manhã, o engenheiro Richard Toyota, 37 anos, bate o olho num telão de quatro metros de comprimento por dois de altura, mira vinte pontos espalhados pelo desenho de um mapa da região metropolitana de São Paulo e verifica se os pulmões dos paulistanos correm perigo. Toyota trabalha há 11 anos na Central Telemétrica da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), em Pinheiros, São Paulo.

Na manhã deste 22 de setembro, Dia Mundial Sem Carro, depois de chegar ao trabalho de metrô – como faz todos os dias -, o engenheiro constatou que a qualidade do ar na metrópole era boa. Dezenove das vinte estações que medem a poluição na capital pipocavam na tela representadas pela cor verde, classificação máxima na hierarquia da qualidade do ar. Parecia mágica. Um dia antes, no mesmo horário, dezessete das vinte estações marcavam a cor amarela, que acusa a qualidade regular. O responsável pelo milagre, contudo, não foi o Dia Mundial Sem Carro.

Richard Toyota, engenheiro da Central Telemétrica da Cetesb
Richard Toyota, engenheiro da Central Telemétrica da Cetesb (VEJA)

“A chuva e os ventos provocados pela chegada de uma frente fria dispersaram as partículas de poluentes”, explica Richard, um descendente de japoneses magro, de cabelo raspado, que aparenta no mínimo dez anos a menos do que tem. As condições meteorológicas, decisivas na qualidade do ar, interromperam o período de estiagem que durava uma semana. Com a chuva noturna, as micropartículas de monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio ─ que saem dos escapamentos dos veículos, assentam no chão e costumam voltar ao ar depois que os garis varrem as calçadas ─ escorreram pelas sarjetas até o Rio Tietê. O Dia Sem Carro amanheceu mais “respirável”.

Não fossem os carros, aliás, Richard e sua equipe teriam pouco ou nenhum motivo para monitorar o ar da capital. “Os gases emitidos por veículos automotores são quase 100% da poluição em São Paulo”, afirma Maria Lúcia Guardani, gerente da Diretoria De Engenharia, Tecnologia e Qualidade Ambiental da Cetesb, que também tem os cabelos raspados, mas grisalhos, veste-se de maneira jovial e sabe tudo sobre poluição. Maria Lúcia lidera a equipe que cuida dos pulmões dos paulistas (e que analisa cerca de 9.000 dados numéricos por dia sobre a qualidade do ar), integrada por Richard e por outros dez funcionários ─ entre engenheiros, técnicos em eletrônica, químicos e meteorologistas. “Aqui nós estamos sempre preocupados com o que as pessoas estão respirando”, diz Maria Lúcia.

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Em todo o estado, há 43 estações de monitoramento da qualidade do ar ─ 20 na capital, 19 no interior e 4 no litoral. São contêineres de metal equipados com uma espécie de chaminé que suga o ar e o conduz até máquinas testadas pela Enviromental Protection Agency (EPA), a agência de proteção ambiental dos Estados Unidos, e que custam uma pequena fortuna. A cada cinco segundos, as máquinas revelam quantos microgramas de poluentes existe no ar. A média dos números é fechada de hora em hora e remetida à Central Telemétrica da Cetesb. Uma lei brasileira de março de 1990 obriga o governo a medir partículas inaláveis suspensas no ar com o tamanho mínimo de 10 micras ─ algo oito vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo. Além dessas, a Cetesb tem medido amostras de poeira de até 2,5 micras.

Maria Lúcia Guardani, gerente da central que diariamente mede a poluição do ar em 43 pontos no estado de São Paulo
Maria Lúcia Guardani, gerente da central que diariamente mede a poluição do ar em 43 pontos no estado de São Paulo (VEJA)

Segundo Maria Lúcia, as partículas de poluentes grossas (50 micras) são aquelas que formam a poeira sobre os carros e os móveis das casas, por exemplo. Essas costumam estacionar no nariz das pessoas. As de 10 micras chegam aos pulmões. E as de 2,5 micras alcançam os alvéolos ─ por isso são tão perigosas. Quando há ventos ou tempestades, as partículas grossas são as primeiras a se dispersarem no ar. As finas, contudo, sempre permanecem na atmosfera, imóveis. Saber o quão presentes são esses poluentes é relevante para a saúde das pessoas, observa Maria Lúcia. Hoje, como de costume, as partículas sobrevoaram a metrópole.

Às 16 horas do Dia Mundial Sem Carro, quando a Cetesb fechou o boletim diário de medições de poluentes, metade das vinte estações da capital denunciavam que a qualidade do ar era regular ─ segunda posição no ranking que inclui “boa”, “inadequada”, “má” e “péssima”. Quando isso acontece, a Cetesb recomenda a idosos, crianças ou pessoas com doenças respiratórias que evitem esforços físicos ao ar livre. Durante todo o dia, os níveis de congestionamento na capital também foram altos. Pelo menos 56 pontos de gargalos foram registrados pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Às 18 horas, havia 93 quilômetros de lentidão. Pela primeira vez no ano, Gilberto Kassab saiu de seu apartamento caminhando , tomou o metrô na Avenida Faria Lima e chegou a pé ao prédio da prefeitura, no Viaduto do Chá, depois de desembarcar no Anhangabaú. Outros políticos e autoridades também aproveitaram o dia especial para sair da rotina. O resto dos paulistanos continuaram parados no trânsito.

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