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Operação revela detalhes do escândalo dos hospitais de campanha

Com base nas informações da delação de ex-secretário de Saúde, Ministério Público afirma que contratação de IABAS foi fraudulenta

Por Ricardo Ferraz, Cássio Bruno, Sofia Cerqueira, Jana Sampaio e Marina Lang
Atualizado em 8 set 2020, 10h15 - Publicado em 29 ago 2020, 08h00

Um dos maiores escândalos da gestão Wilson Witzel na área da Saúde envolve a instalação dos hospitais de campanha para atender pacientes com Covid-19. Dos sete planejados, apenas dois foram implantados: um na cidade de São Gonçalo e outro no entorno do estádio do Maracanã. Mais de 200 milhões de reais foram repassados ao Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde, o IABAS, mas os hospitais operaram abaixo da capacidade e apresentaram uma série de problemas operacionais, apesar de o estado do Rio de Janeiro registrar mais de 219 mil casos da doença. Agora, o afastamento do governador do cargo e a divulgação de trechos da delação premiada do ex-secretário de Saúde do Estado, Edmar Santos, jogam luz sobre esse obscuro episódio da política fluminense e revelam o verdadeiro motivo da ineficiência da máquina pública enquanto a população sofre com a pandemia: corrupção.

Em depoimento ao Ministério Público, Edmar relata que, uma vez nomeado para a secretaria, passou a se encontrar com Roberto Bertholdo, influente advogado de Brasília. O então secretário buscava aumentar a interlocução no Ministério da Saúde e Bertholdo se mostrou bastante efetivo nesse contato. Em quase todas as ocasiões em que visitava a capital federal, Edmar aproveitava para dar uma passada na luxuosa casa do advogado, no Lago Sul, para encontros com o próprio advogado e outros políticos com livre trânsito pelos corredores do poder.

A ajuda, inicialmente dentro dos parâmetros legais, logo descambou para a roubalheira. Bertholdo contou ao ex-secretário que havia adquirido o IABAS. A Organização Social já estava presente em São Paulo e no Mato Grosso e era encarregada pela administração de hospitais no município e no estado do Rio de Janeiro. Em sua atuação, contudo, a entidade nem sempre cumpria o que havia se comprometido. Irregularidades identificadas por comissões técnicas haviam levado à punições administrativas e o Instituto ficou impedido de fazer negócios com entes públicos por dois anos. Nada disso, porém, inibiu a sanha de Bertholdo por negócios com governos. O advogado informou a Edmar que desejava conquistar uma parte das contratos da secretaria estadual de Saúde.

A pandemia de Covid-19 pareceu a oportunidade perfeita. Em janeiro deste ano, o advogado procurou Edmar para implantar hospitais de campanha no estado. Inicialmente, o então secretário não deu muita atenção para a conversa, mas foi pressionado pelo governador do estado, Wilson Witzel e pela primeira dama Helena Witzel. Entra em cena, então, o subsecretário da pasta, Gabriell Neves, disposto a fazer a instalação à toque de caixa, com dispensa de licitação. O contrato para implantação de 1400 leitos, no valor de 139 milhões de reais por mês, chamou a atenção do Tribunal de Contas do Estado e da Procuradoria Geral do Estado e foi repactuado após ameaças de suspensão. Mesmo assim, as irregularidades, como o uso de aparelhos de anestesia no lugar de respiradores, continuaram a ocorrer.

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No meio da grave crise de saúde em todo país, com o número de casos de Covid-19 disparando no Rio de Janeiro, Edmar foi escanteado pelo governador. Por determinhação de Witzel, ele deixa a a secretaria da Saúde para assumir o inusitado posto de Secretário Extraordinário de Acompanhamentos das Ações Governamentais Integradas da Covid-19. Entre suas atribuições, estava o acompanhamento da implantação dos hospitais de campanha, mas a tarefa foi obstruída pelo próprio governador. Ao chegar para uma reunião para discutir o tema, no dia 25 de maio, véspera da Operação Placebo, que iniciou as investigações sobre os desmando na saúde, Edmar foi informado que ela já havia ocorrido no gabinete de Witzel, com a presença de Bertholdo.

Na peça apresentada pelo Ministério Público Federal ao Superior Tribunal de Justiça que desencadeou  Operação Tris in Idem, os procuradores da República afirmam que “Todo esse quadro acima delineado, quando analisado em conjunto com as declarações do colaborador no sentido de que Roberto Bertholdo vinha realizando abordagens para firmar ilícitos entre o IABAS e a Secretaria de Saúde, tendo inclusive buscado expressamente articular a contratação para a construção dos hospitais de campanha, não deixa margem de dúvida para a constatação de que houve fraude na escolha do IABAS”.

O hospital de São Gonçalo já foi desmontado. Já a unidade do Maracanã ainda é mantida pela secretaria de Saúde do estado graças a uma liminar concedida pela Justiça. Quinze funcionários, a cada turno, estão de prontidão para atender os casos de Covid-19 que são encaminhados por outros hospitais, mas há semanas, nenhum paciente passa por lá para tratar da doença.

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Roberto Bertholdo não retornou o contato da reportagem.

Gabriell Neves informou, por meio de sua assessoria, que “toda e qualquer ação sempre contou com a anuência do então secretário estadual de Saúde, Edmar Santos”.

Wilson Witzel nega todas as acusações e se diz vítima de perseguição política.

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