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Onda de prisões sacode condomínio de luxo onde vive Crivella

Com 57 edifícios, a Península, onde moram, além do prefeito do Rio, dois outros acusados do esquema de propina, foi alvo de mais de dez operações este ano

Por Sofia Cerqueira Atualizado em 22 dez 2020, 15h29 - Publicado em 22 dez 2020, 15h20

A prisão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), nesta terça-feira, 22, deixou em evidência um endereço que já é velho conhecido da polícia e do Ministério Público estadual: o Condomínio Península, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da capital fluminense. O recanto de alto padrão, com jardins salpicados com esculturas de mármore carrara e todo o tipo de comodidade, teve a rotina chacoalhada nos últimos meses por mais de dez operações contra corrupção. Hoje, além do bispo licenciado da Igreja Universal, a polícia prendeu no local o empresário Rafael Alves, apontado nas investigações do MP-RJ como o operador do esquema que ficou conhecido como “QG da propina”. O ex-senador Eduardo Benedito Lopes, também alvo da ação desta terça e que não foi encontrado em casa, é outro vizinho de Alves e Crivella. A poucos prédios deles vive ainda o governador em exercício do Rio, Claudio Castro (PSC), que no final de agosto – mesmo dia em que o governador Wilson Witzel (PSC) foi afastado de suas funções – teve seu apartamento revirado por agentes federais em busca de provas de sua participação no esquema de corrupção, desta vez no Palácio Guanabara.

A constância das batidas policiais na Península – conhecida como o “Condomínio dos poderosos” – é tanta que moradores, em um grupo fechado no Facebook, falam da situação em tom de piada. “Nem precisamos de despertador, às 6h da manhã todos de pé!”, comenta um deles. “Já estão chamando esse lugar de “Complexo”, constata um outro, numa referência ao Complexo de Bangu, maior conjunto de presídios do estado do Rio. Hoje não foi diferente. O grupo de moradores na internet estava coalhado de publicações sobre a prisão de seu morador mais famoso. “Ele está dando exemplo de isolamento social”, dizia uma delas. “Península está mal falada. Só vizinhos corruptos e ladrões aqui. Vou me mudar! Kkkk”, escreveu um condômino, fazendo ironia com a situação.

O local com 780 000 metros, 57 edifícios e uma área em comum com praças, quadras de tênis, playgrounds, capela, um pequeno shopping e trilhas ecológicas às margens da Lagoa da Tijuca, virou moradia de muitos políticos, empresários e famosos, como a atriz Fernanda Paes Leme e o casal de atores kleber Toledo e Camila Queiroz – já residiram lá as funkeiras Anitta e Valeska Popozuda. “Quando a polícia chegou hoje aqui não estava com as sirenes ligadas, mas todo mundo ficou sabendo rapidinho. Não se fala em outra coisa”, comenta uma antiga moradora do condomínio, que pediu anonimado.

A ação desta terça para prender o prefeito, um desdobramento da Operação Hades, que investiga o “QG da propina”, começou antes das 6h da manhã. Enquanto um grupo de policiais civis e agentes do Ministério Público estadual seguiu para os edifícios do empresário Rafael Alves e do ex-senador Eduardo Lopes, outro se concentrou no prédio de Crivella. Segundo pessoas que acompanharam a ação, foi o próprio prefeito quem atendeu a porta, de pijama, para os policiais e os representantes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-RJ. A primeira-dama, Sylvia Jane Crivella, ainda de acordo com testemunhas da operação, começou a chorar quando o marido recebeu voz de prisão e foi levado para a Delegacia Fazendária, na Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio. Enquanto era conduzido pelos policiais, alguns moradores que caminhavam pelas áreas comuns do condomínio se aglomeraram para ver o que acontecia. “Desde a campanha eleitoral, o prefeito estava sumido do condomínio. Ele sabe que aqui tinha muita gente insatisfeita com a sua gestão”, disse um proprietário de um imóvel na Península.

Fora as recorrentes operações de busca e apreensão, foi no mesmo condomínio, onde os imóveis custam entre 800 000 e 12 milhões de reais, que foi preso em setembro o ex-secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes. Ele é acusado de integrar uma quadrilha que pode ter desviado 30 milhões de reais dos cofres públicos. Também vive na Península o ex-deputado federal e ex-secretário municipal do Rio na gestão anterior de Eduardo Paes, Rodrigo Bethlem, um dos coordenadores da campanha à reeleição de Crivella. Em 2007, Bethlem recebeu a visita de agentes da Polícia Federal por suspeita de integrar um esquema de propina que lesou o município do Rio. Não é de hoje, porém, que os holofotes – e as sirenes da polícia – miram os moradores daquele reduto de luxo na Barra da Tijuca. Uma das primeiras operações da Lava Jato, ainda em março de 2014, teve como alvo o escritório do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, no prédio comercial do complexo. A família de Costa chegou a contabilizar sete imóveis na Península.

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