Odebrecht tentou subornar primeiro-ministro de Antígua
Ex-executivo relatou detalhes em delação premiada; investigadores americanos confirmam que houve negociação para evitar cooperação da ilha com a Lava Jato
Um ex-executivo da Odebrecht relatou em delação premiada ao Ministério Público Federal (MPF) a realização de uma operação de contrainteligência em Antígua, ilha localizada no mar do Caribe, com pagamento de propina a ser destinada ao primeiro-ministro da ilha. A intenção era evitar o envio de documentos do banco usado pelo Setor de Operações Estruturadas – o departamento da propina da empreiteira – para o Brasil, segundo a edição desta quinta-feira do jornal O Estado de S. Paulo.
O relatório do Departamento de Justiça americano divulgado nesta quarta-feira confirma o relato do ex-executivo sobre a ação na ilha para barrar o repasse de informações para a Operação Lava Jato, mas não revela detalhes sobre quem era o destinatário do recurso ou mesmo sobre os executivos que participaram do acordo para o pagamento “não-oficial”.
Em negociação de delação premiada, o executivo Luiz Eduardo Soares contou aos investigadores que o acerto foi feito no segundo semestre de 2015 e a propina seria destinada ao primeiro-ministro. Desde 2014 o cargo é ocupado por Gaston Browne. Soares, que é conhecido na empreiteira como “Luizinho”, participou em agosto de 2015 de uma reunião em Miami, nos Estados Unidos, com um lobista de Antígua chamado James Caswey. Os dois iniciaram uma negociação com o objetivo de intervir para que o primeiro-ministro não atendesse ao pedido de cooperação internacional feito pela Lava Jato.
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O lobista inicialmente teria pedido 4 milhões de dólares, mas ficou acertado o pagamento de três parcelas de 1 milhão de dólares. O contato com o lobista foi intermediado por Luiz França, um dos três administradores do Meinl Bank Antigua, com sede na ilha. A instituição bancária tinha a Odebrecht como sócia e era usada para pagamento no exterior a empresas offshores que intermediavam e recebiam a propina da empreiteira.
Executivos ligados à Odebrecht chegaram a participar de uma reunião com o primeiro-ministro de Antígua sobre o assunto, no segundo semestre de 2015, mas o mandatário afirmou que tudo deveria ser tratado diretamente com Caswey. Segundo Soares, também participou da reunião Olívio Rodrigues Júnior, outro ex-executivo da Odebrecht, responsável por operar contas no Meinl Bank. Soares e Rodrigues Júnior cumpriam desde março prisão preventiva em Curitiba, mas foram liberados em decorrência do acordo de delação e por decisão do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato em primeira instância.
Soares disse aos investigadores que os pagamentos ao lobista foram autorizados por Fernando Miggliacio, que é apontado como controlador de offshores da Odebrecht no exterior. Para isso, foi usada a conta Global Residency and Advisory Services Ltd, no Global Bank Antigua. O dinheiro saiu da offshore Ultra Sky Corporation Limited.
Documentos do departamento americano reforçam as revelações do ex-executivo. Segundo o órgão, em “meados de 2015”, um “funcionário da Odebrecht” participou de uma reunião em Miami com um “intermediário” de uma autoridade de “alto nível” do governo de Antígua para “esconder atividades de corrupção” da Odebrecht, com informações sobre o valor acertado.
Ainda segundo os investigadores americanos, funcionários da empreiteira foram orientados a destruir provas para dificultar o avanço das investigações e, em meados de janeiro deste ano, funcionários e agentes destruíram “intencionalmente” chaves físicas de criptografia necessárias para acessar um software chamado MyWebDay, que teria sido usado para gerenciar a contabilidade das propinas. Sem dar detalhes, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que a ilha atualmente colabora com as investigações da Lava Jato.