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Obra eliminou paredes do 3º andar no Edifício LIberdade

Funcionários ouvidos pelo site de VEJA contam que estranharam alterações feitas em um dos pavimentos do prédio. Empresa de tecnologia ocupava os dois andares em obras

Por Da Redação
26 jan 2012, 14h55

“A porta do elevador abria e víamos que não havia mais paredes. Todos ficaram espantados, mas ninguém fez queixa formal. Nós nos perguntávamos como permitiram uma obra assim” (Tereza Andrade, sócia de uma empresa que ocupava o 16º andar do Edifício Liberdade)

As suspeitas de que uma obra irregular esteja ligada ao desabamento de três edifícios no centro do Rio, na noite de quarta-feira, ganharam força na tarde desta quinta-feira. Funcionários e pessoas que frequentavam o edifício Liberdade, na Av. Treze de Maio, 44, relatam que, na obra que era realizada no 3º andar, as paredes e as colunas foram removidas.

O edifício é um dos três que caíram na noite de quarta-feira. As buscas no local continuam. Os Bombeiros trabalham com uma lista de 24 desaparecidos (veja os nomes). Três corpos já foram retirados dos escombros.

Sócia de uma filial da GV Cred, prestadora de serviços da BV Financeira, Tereza Andrade disse, ao site de VEJA, que ela e colegas de trabalho estranhavam a remoção de estruturas do 3º andar, em uma intervenção que durava aproximadamente seis meses. “A porta do elevador abria e víamos que não havia mais paredes. Todos ficaram espantados, mas ninguém fez queixa formal. Nós nos perguntávamos como permitiram uma obra assim”, disse.

A sala ocupada por Tereza ficava no 16º andar. Ela estima um prejuízo de cerca de 70 mil reais, com computadores, documentos e dados de clientes. Segundo ela, a obra do 9º andar não tinha as mesmas características: parecia ser apenas uma mudança de layout do escritório.

Procurada pelo site de VEJA, a empresa Tecnologia Organizacional, que ocupava vários andares no edifício, entre eles o 3º e o 9º, emitiu a seguinte nota: “Lamentamos o desabamento do edifício Liberdade, localizado no Rio de Janeiro. Estamos acompanhando de perto o trabalho das equipes de socorro, uma vez que temos funcionários envolvidos no acidente. Assim que tivermos mais informações sobre o ocorrido iremos compartilhar com a imprensa”. A Tecnologia Operacional informa, em seu site, que ocupava o 3º, 4º, 6º, 9º, 10º e 14º andares do edifício 44 da Av. Treze de Maio. Ou seja: as duas obras realizadas no edifício tinham relação com a empresa.

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https://youtube.com/watch?v=z6iRsVXfDNQ

Irmão de uma das vítimas do desabamento, Afonso Celso da Costa Menezes também recebeu informações sobre a obra do 3º andar. “Fiquei sabendo que existiam duas obras. Em um dos andares, foram retiradas todas as paredes”, disse. Afonso tentava, na Câmara Municipal do Rio, obter informações sobre a irmã, Kelly da Costa, 28 anos.

Presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do CREA-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), Luiz Antonio Cosenza também estranha a ausência de paredes e estruturas no 3º andar, como relataram os frequentadores do edifício. “Como era um prédio antigo (construído na década de 50), não havia condição de existir ali um grande vão. Infelizmente, é comum que pedreiros, por exemplo, mexam em vigas para passar tubulações, sem saber que estão comprometendo a segurança de todo um edifício”, disse.

Construções antigas – Especialistas ouvidos pelo site de VEJA explicam que a gravidade do desabamento está relacionada à época da construção dos prédios – entre os anos 1930 e os anos 1950. Não porque o fato de serem antigos signifique que são frágeis. Nos anos 1970, eles passaram incólumes pela construção do metrô, uma obra altamente impactante, que mexe com o nível do lençol freático e poderia ter provocado abalo nos alicerces. A questão central reside nas técnicas de construção e nos materiais utilizados, que fazem das paredes elementos de sustentação fundamentais nas três edificações. Derrubá-las indiscriminadamente equivale ao que seria derrubar os pilares de uma edificação contemporânea. A se confirmar que isso foi feito no terceiro andar do Edifício Liberdade, que suportava o peso de outros 17 pavimentos – significa completa incompetência técnica ou, pior, total irresponsabilidade.

Nos anos 1950, quando foi construído o Liberdade, o uso do concreto armado já era disseminado. Mas as normas técnicas ainda eram incipientes. Em monumentos arquitetônicos da moderna arquitetura brasileira, como o prédio do Ministério da Educação, grandes arquitetos lançavam mão de calculistas geniais que conseguiam sustentar grandes estruturas sobre pilares delgados. No cotidiano de uma cidade que crescia em ritmo acelerado, havia construtores que trabalhavam com alta dose de empirismo, construindo prédios cuja solidez dependia de pilares de concreto mas também, e muito, de grossas paredes de alvenaria, bem diferentes das atuais, que funcionam quase que só como divisórias.

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Essa característica estrutural ajuda a explicar por que, ao contrário do que disseram inicialmente os responsáveis pelo resgate das vítimas, não se formaram bolsões de ar sob os escombros. Não havia grandes lajes de concreto sustentadas por pilares que pudessem servir de proteção às vítimas dos desabamentos, e sim estruturas que, ao desmoronar, transformaram-se em uma montanha de entulho.

(Reportagem de Ceília Ritto, Lucila Soares, João Marcello Erthal e Rafael Lemos)

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