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O que os policiais civis têm a ensinar aos professores

Agentes organizaram uma manifestação nacional, sem danos à população, para cobrar melhorias no combate ao crime - não só salários. No Rio, professores manobrados pelo sindicato descumprem acordo judicial e, depois de mais de 70 dias de greve no ano passado, insistem em fechar ruas

Por João Marcello Erthal e Pollyane Lima e Silva
24 Maio 2014, 22h40

A semana de greves e manifestações trouxe duas surpresas para a população das grandes cidades brasileiras. A primeira, positiva: os policiais civis, frequentemente criticados por ineficiência e apontados como parte dos problemas de segurança, organizaram um movimento nacional com uma pauta que tinha, em primeiro plano, uma discussão sobre o combate ao crime, não apenas questões salariais. A segunda constatação é no sentido contrário. Tidos como heróis da educação, por sua importância para a formação dos brasileiros, professores das redes municipal e estadual do Rio foram tragados em uma mobilização por salários que, ao mesmo tempo, atropela os interesses dos alunos e descumpre acordos formalizados pela categoria.

Os salários de professores e policiais, bem como o de médicos e outros profissionais do serviço público, são uma vergonha nacional. E os vencimentos dessas categorias estão diretamente ligados ao desempenho que se quer na segurança, na educação e na saúde dos brasileiros. O problema se agrava quando as demandas das categorias se descolam do interesse público e passam a ser controladas por objetivos políticos.

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A mobilização nacional dos policiais deixou o país apreensivo. Afinal, uma semana depois da trágica paralisação da Polícia Militar em Pernambuco, com lojas saqueadas e a população em pânico, havia o medo de uma repetição da baderna em escala nacional. O desfecho do movimento convocado pela Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol) foi bem diferente. A visibilidade do ato foi nacional, com passeatas no Rio e em Brasília. No entanto, houve ordem e respeito ao cidadão, com delegacias abertas, efetivo mínimo garantido para ocorrências graves e, o mais importante, sem transtornos que penalizassem a população. O tom pacífico não significa que os policiais vão esperar de braços cruzados por uma resposta dos governos. Uma reunião marcada em Brasília, na próxima semana, deve determinar os rumos do movimento, que pode incluir até novos protestos – inclusive em plena Copa do Mundo. “Vamos dar prazo para receber um posicionamento do governo, que indique que ele está disposto a dialogar. Reivindicamos uma política nacional de segurança pública, e queremos participar da elaboração”, afirmou ao site de VEJA o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol), Jânio Gandra.

O movimento iniciado pelos policiais civis é, para o professor Rodrigo Azevedo, pesquisador da PUC-RS, especializado em ciências criminais, um avanço em matéria de debate em favor da segurança pública. “Essa mobilização ampla tem relação direta com o tema da reforma da polícia. Os policiais percebem e cobram a necessidade de haver um ciclo completo de polícia, para o bem da investigação criminal. O debate vem acontecendo, e é a partir dele que podemos chegar a uma reorganização interna das instituições”, avaliou, em entrevista ao site de VEJA.

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Professores – O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), que comanda a paralisação dos professores no Rio, é o mesmo que, em 2013, deu sinal verde para o movimento Black Bloc atuar em seus protestos. Oficialmente, o sindicato abraçou os mascarados como “força de defesa” dos professores – tornando-se, portanto, solidário com o quebra-quebra que se viu em uma das manifestações armadas para o centro da cidade no ano passado. Na última quinta-feira, um grupo de cerca de mil professores parou o trânsito de uma parte da Zona Sul do Rio, em um protesto improvisado em frente ao Palácio Guanabara – sede do governo estadual. Imagens do jornal O Globo mostraram uma ambulância presa no congestionamento causado pelo protesto, enquanto uma familiar do paciente transportado apelava e tentava abrir caminho. Uma jornalista da Rede Globo sofreu intimidações e foi atingida por garrafas de água mineral enquanto cobria a manifestação.

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O Sepe empurra os professores para a rejeição pela população. E demonstra desrespeito pelas instituições. No último dia 13, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu o acordo judicial que havia sido firmado, no ano passado, entre professores estaduais e municipais com o governo e a prefeitura do Rio. O ministro considerou que os professores desrespeitaram o acordo. O Sepe não enviou representantes para uma reunião agendada com o ministro em Brasília, justamente para tratar da campanha salarial. Antes que houvesse reunião, o sindicato decidiu iniciar uma nova greve.

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“Nesse cenário, em que o Sepe não demonstra qualquer interesse de fazer cessar a greve, entrevejo que as obrigações contidas no acordo firmado ficam suspensas, bem como os seus efeitos, até que ocorra a cessação da greve que se encontrava interrompida desde o final do ano passado e foi reiniciada em 12 de maio de 2014”, disse o ministro. Na última quinta-feira, os servidores das redes estadual e municipal do Rio decidiram manter a paralisação, que penaliza os estudantes ainda tentando recuperar o tempo perdido com a greve de 2013.

Na última semana, a greve que afetava os alunos das redes municipal e estadual chegou também à rede federal. Neste sábado, uma comissão da pais e responsáveis por alunos do Colégio Pedro II vão se reunir para protestar contra a greve em frente à unidade Humaitá, na Zona Sul. Professores e servidores entraram em greve no sábado, dia 17, para cobrar a antecipação imediata dos 5% de reajuste programados para março de 2015 – em acordo assinado pelo sindicato da categoria depois de uma greve em 2012. O motivo alegado pela categoria é o aumento da inflação. Cobrar uma renegociação é legítimo, mas quem está sendo penalizado no momento, com o formato escolhido para pressionar o governo – a greve – são os alunos. O mote da campanha das famílias prejudicadas resume o que os mestres deveriam enxergar: “Lugar de aluno é na escola”.

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