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O primeiro sábado sem festa em Santa Maria

Onze casas noturnas foram fechadas depois que um decreto expedido pela prefeitura suspendeu todas as licenças concedidas até que a fiscalização comprove a sua regularidade. Mas, abertas ou não, não haveria clima para festa

Por Marcela Donini, de Santa Maria
2 fev 2013, 19h24

A universitária Ana Rauber, 23 anos, mora a cinco quadras da boate Kiss e próximo ao Boteco do Rosário e do Taco&Beer. Fã de rock, não costumava frequentar a casa onde aconteceu o incêndio que matou 236 pessoas, mas nas noites em que ficava em casa, era testemunha do barulho na região. Agora não consegue desligar a televisão “porque o silêncio absoluto é ensurdecedor”.

Com pelo menos 15 boates e casas de shows, a cidade que abriga em sua universidade federal mais de 26.000 estudantes é destino de jovens de toda a região e todos os gostos. Na noite deste sábado, 2 de fevereiro, vai ser diferente. Onze casas noturnas – desde a roqueira Macondo até a badalada Absinto – estão fechadas depois de um decreto expedido pela prefeitura no dia 30 que suspende todas as licenças concedidas pelo poder público municipal para estabelecimentos desse tipo até que a fiscalização comprove a sua regularidade. Apenas quatro dos 15 vistoriados foram reabertos até o fim desta semana.

Mas não seria preciso intervenção de nenhuma autoridade para manter os jovens afastados da boemia. Não há clima. Guilherme Bastos Mello, 18 anos, sobrevivente da tragédia, perdeu amigos no incêndio e acompanha a recuperação de Kellen Ferreira, outra amiga, internada em um hospital de Porto Alegre. Assim que saiu da boate, começou a ajudar no resgate das pessoas. As imagens daquela noite ainda o perturbam, mas ele tenta retomar a rotina aos poucos. Por enquanto, só encontrou amigos casualmente. “Parece que ninguém quer falar muito, até na internet as pessoas estão mais silenciosas. Cheguei a combinar de sair com um amigo, mas não conseguimos”, disse.

Fabio de Oliveira Bastos, 29 anos, também foi um dos primeiros a sair da boate. Os poucos minutos que ficou em frente ao local foram o suficiente para ainda estar impressionado com o que viveu. As noites não serão de festa tão cedo. Nem os dias. O futebol de sábado vai ficar para próxima. “As vítimas também são os pais que ficaram. Acho que a faixa etária média de quem morreu é uma das causas de tanta comoção”, diz, comentando sobre a mobilização que tomou a cidade nos últimos dias.

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Uma fase da vida – Desde domingo, parece que o tempo parou em Santa Maria, conhecida pela agitação da sua população universitária. “Santa Maria não é uma cidade, é uma fase da vida”. A mensagem de Ana, compartilhada por centenas de pessoas no Facebook, reflete uma identidade acolhedora. Pelo menos 10% dos habitantes são universitários, grande parte de fora da cidade – como se vê entre os mortos, dos quais mais da metade vinha de outras localidades. “Santa Maria é uma cidade onde muita gente se descobre adulto. Deixamos a casa dos pais e acabamos fazendo amizades com uma facilidade imensa, porque todo mundo se sente meio órfão”, escreveu no seu perfil do Facebook a estudante de jornalismo que saiu de Santiago, no interior do estado, em 2009, para estudar no Centro Universitário Franciscano (Unifra).

Mobilizados pelas redes sociais, centenas de jovens programavam-se para uma vigília que aconteceria às duas horas de domingo em frente à boate Kiss. O evento foi cancelado devido à chuva que caiu sobre a cidade na primeira metade do dia. Com a melhora do tempo, é possível que a população tome as ruas do centro novamente, repetindo a mobilização da marcha ocorrida na segunda-feira.

Com ou sem vigília, haverá uma estranha noite de sábado sem festa em Santa Maria.

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