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“Nunca investiguei de onde vinha a renda do Cabral”, diz Eduardo Paes

Candidato ao governo do Rio, ex-prefeito diz que não lhe cabia fiscalizar o ex-aliado e que, eleito, vai se relacionar com "Haddadezinho" ou "Bolsonarinho"

Por Luisa Bustamante e Fernando Molica
Atualizado em 28 set 2018, 15h21 - Publicado em 28 set 2018, 12h59

Antigo aliado de Sérgio Cabral, o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes tratou de se desfiliar do MDB fluminense para concorrer ao Palácio Guanabara nessas eleições – migrou para o DEM. A troca de sigla, ele diz, foi para mostrar que não tinha nenhuma relação com os escândalos de corrupção protagonizados pela cúpula emedebista no Estado do Rio, encabeçada por Cabral, preso no complexo penitenciário de Bangu. Depois de dois mandatos à frente da prefeitura do Rio, ele acredita ser o único candidato capaz de dar um choque de gestão no estado para tirá-lo de sua maior crise financeira. Nesta entrevista a VEJA, Paes diz que não conhecia os desvios de seus ex-colegas de partido e, garante, esta será sua última eleição. Confira os principais trechos da conversa.

Esta é a quarta das entrevistas de VEJA com os cinco candidatos ao governo do Rio mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto. Foram convidados Eduardo Paes (DEM), Romário Faria (Podemos), Anthony Garotinho (PRP), Tarcísio Motta (Psol) e Indio da Costa (PSD). As entrevistas com Tarcísio, Indio e Garotinho foram publicadas nos últimos dias 17, 21 e 25, respectivamente. Romário preferiu não falar.

 

O senhor fez parte, durante mais de uma década, do grupo político do MDB fluminense, cujos líderes se enredaram na Lava-Jato. Nesse tempo todo, não notou que havia ali algo de muito errado? Todas as atividades criminosas que levaram a condenações e prisões foram no âmbito do governo do estado. Eu era prefeito, então respondo por aquilo que aconteceu na prefeitura. Estado e Assembleia Legislativa não tinham qualquer relação comigo e não me competia fiscalizá-los. Nunca investiguei de onde vinha a renda do Cabral (o ex-governador Sérgio Cabral, agora preso).

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O senhor nunca reparou, por exemplo, nas joias da Adriana Ancelmo?
Não entendo de roupa, de joia, de vinho, de nada disso.

O senhor estava na festa que viria a ser conhecida como a farra dos guardanapos, mas saiu no meio. Por quê? Vi que a festa estava ficando um pouco animada demais. E não me relaciono pessoalmente com fornecedores e empresários. Quando noto que a coisa começa a ficar muito íntima, me retiro do ambiente. Foi o que fiz naquele dia.

O senhor saiu do MDB, mas o partido ainda apoia sua candidatura. Por que se manteve com eles? Não tenho desconforto nenhum de ter o MDB na minha aliança. Eles não mandaram no meu governo quando eu era prefeito pelo partido, por que haverão de mandar agora?

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O seu ex-secretário de obras, Alexandre Pinto, foi preso, acusado de corrupção nas obras da prefeitura. Essa é uma dor de cabeça? Esse é responsabilidade minha, sim, porque eu o escolhi. Ele era servidor da prefeitura. Nomeei um técnico, que só trabalhava com técnico, mas que infelizmente cometeu crime. O delator que o acusou disse explicitamente: “O Eduardo Paes perguntava para a gente se tinha alguém na prefeitura pedindo grana, e a gente negava”. A essa altura, com todo mundo delatando, se tivesse alguma coisa diretamente a ver com o prefeito, já não teria sido entregue?

O senhor foi citado em uma das listas da Odebrecht como “Nervosinho”. E por quê? Por que o Eduardo Paes não dá intimidade, não se relaciona com ninguém, não é afeito a contatos íntimos e dá muito esporro.

O senhor chegou a pedir alguma colaboração para campanha eleitoral? Nunca. Nem oficial, nem caixa dois. Nunca tratei de campanha eleitoral.

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Seu ex-marqueteiro Renato Pereira disse em delação que houve pagamento de caixa dois em sua campanha. O Renato Pereira aprontou tanto que aquilo não é uma delação, é uma confissão.

O governador Sérgio Cabral foi preso em novembro de 2016. Por que o senhor demorou mais de um ano para sair do MDB? Eu não estava fazendo política, para mim eu já estava saído. Fui morar um ano fora, trabalhar no BID como vice-presidente da América Latina por indicação do Michael Bloomberg (ex-prefeito de Nova York) e para a uma fábrica de veículos elétricos chinesa.

Como o senhor avalia a corrida presidencial? Eu acho que se construíram estereótipos sobre todos que disputam eleições no Brasil. Convivi com Jair Bolsonaro, ele pode não ser o político mais habilidoso do mundo, mas também não é esse monstrengo que pintam. Eu acho o (Fernando) Haddad uma figura equilibrada, articulada, e o Ciro (Gomes), um cara interessante. Ele é um pouco estourado mesmo, me acho até calmo perto dele. Mas, do jeito que põem, parece que o cara passa o dia inteiro dando murro na mesa ou que o (Geraldo) Alckmin passa o dia inteiro dormindo. As pessoas estão com ódio de tudo e de todos.

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O senhor parece acenar para o eleitor do Bolsonaro… Não aceno para o eleitor de ninguém. A gente está vivendo um momento de enorme desrespeito com os homens públicos. Todos ali são seres humanos, que têm mulheres, família. Bolsonaro é bom pai. Vai ver que ele bota os filhos para bater continência, sei lá. Mas a impressão que dá lendo o noticiário é que ele dá chicotada nos filhos todos os dias. E não é assim. Do outro lado falam que o Haddad vai roubar para o Lula. O Haddad é um professor universitário, educado, tem sujeito mais doce? Esses estereótipos podem nos levar para um lugar pior. O lugar pior é um presidente da República que não tenha capacidade de construir um consenso no Brasil.

O senhor quer ser presidente da República? Não. Eu estou disputando minha última eleição. Se ganhar, nem tento a reeleição. Já dei demais à vida pública.

Seu rival Anthony Garotinho o acusa de ser ladrão. Ele diz que seus gastos são incompatíveis com sua renda e que os imóveis em nome do seu pai, na verdade, são seus. Faz sentido? O Garotinho tem três cadeias nas costas e vai começar a dormir na prisão em breve. Estamos falando de um presidiário, um delinquente. Eu não tenho casa própria, a vida inteira morei em imóveis do meu pai, que é um advogado muito bem-sucedido. Venho de uma família que não depende da política para viver. O Garotinho é aquele punguista da Rua Primeiro de Março, que bate carteira e grita pega ladrão.

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O senhor concorre ao governo graças a uma liminar. Qual o risco de, se eleito, o senhor não poder ser diplomado? Zero. O Ministério Público Eleitoral fez um parecer favorável à homologação da minha candidatura, e o TRE também homologou por unanimidade.

O que o senhor sabia do escândalo da compra de votos em prol da Olimpíada do Rio? Não fazia ideia disso — até porque me parece meio burro; o Rio ganhou com tanto voto. Quando estourou, eu estava nos Estados Unidos e todo mundo sabia que eu era o prefeito da Olimpíada. Não preciso nem dizer que foi um período de muita vergonha para mim. Vocês acham que eu não me constranjo de ter que ficar explicando as lambanças alheias?

Seu candidato a prefeito, Pedro Paulo, acabou perdendo para Marcelo Crivella. Foi um erro insistir nesse nome ante o escândalo que o envolvia? Não. Primeiro, o Pedro Paulo foi absolvido (da acusação de agressão contra a ex-mulher). É um homem de bem, qualificado. Era o melhor gestor para a cidade, e, se tivesse sido eleito, a gente estava vendo outro Rio hoje.

E apoiar Luiz Fernando Pezão para o governo do Rio, em 2014, foi um erro? As opções eram Crivella e Garotinho. Difícil. É muita gente ruim, né? Pessoalmente, tenho respeito pelo Pezão, não acho que ele seja desonesto, é um homem íntegro. Mas pela conjuntura, ele não foi nada bem.

Qual sua avaliação sobre a intervenção federal na segurança? Ela é necessária pela absoluta falta de autoridade do governador, e acaba no dia 31 de dezembro. Vou pedir ao próximo presidente da República que as Forças Armadas continuem nos auxiliando, mas sob nosso comando. Vou assumir as responsabilidades sobre a segurança pública.

Uma das linhas de investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco fala no envolvimento de políticos do MDB. O que o senhor acha disso? Não vou ficar especulando. É claramente um crime político e é inacreditável que não se tenha até agora uma resposta para ele, apenas especulação.

O que o senhor pensa do acordo de recuperação fiscal do Estado do Rio? O acordo de recuperação fiscal era necessário na conjuntura que a gente vivia; não tinha servidor recebendo. Mas é óbvio que ele precisa ser rediscutido. E isso se faz com política, e não com gesto autoritário. Mostrei na prefeitura a minha capacidade de articulação. Já dialoguei com Lulinha, Dilminha e Michelzinho. E vou me relacionar com Haddadezinho, Bolsonarinho, Cirinho, Boulinhos, Alckminho, quem for.

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