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Novo líder do Choque era o favorito de coronel exonerado

Em grupo de WhatsApp, coronel Fábio de Souza já falava que Willliam René seria o nome ideal para a unidade. Coronéis têm relação comercial em empresas de segurança privada e davam cursos pagos na sede do Bope

Por Leslie Leitão 7 jan 2015, 07h55

O coronel Fábio de Souza, exonerado do comando do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro na segunda-feira, perdeu o cargo, mas não a influência sobre a tropa. Seu substituto no posto, o coronel William René Alonso, é ligado a oficiais do grupo de WhatsApp em que o antecessor insuflava a violência contra manifestantes nos protestos de rua e com mensagens de inspiração nazista. Indicado para a função em novembro, o coronel Fábio foi afastado depois que VEJA revelou a existência das conversas – parte de uma investigação interna da Corregedoria da PM. Nelas, Fabio, que havia sido transferido para o Batalhão de Operações Especiais, o Bope, afirmou que seu grupo voltaria a comandar a PM em 2015 – e René, ele deixava claro, fazia parte dos planos. “Está nas escrituras”, disse, para em seguida prometer perseguir os ‘inimigos’ utilizando o ‘Padrão Alemanha de 1930’, numa alusão aos tempos do nazismo.

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O conteúdo dos diálogos preenche 232 páginas de um Inquérito Policial Militar (IPM) aberto para apurar um atentado a tiros à casa do tenente-coronel Márcio Rocha, sucessor de Fábio de Souza, que orquestrava um boicote à sua gestão. Na noite do dia 6 de janeiro de 2014, em meio a xingamentos ao coronel Rocha, chamado pelo grupo de “Obtuso”, o coronel Fábio exorta: “René para o cmd(comando) do choque!!!” Em resposta, um oficial identificado como capitão Lima Ramos pondera: “Comando, não faça isso com Cel René”, sugerindo que seria uma missão complicada. Fábio então responde: “Ele merece (…) servir no Choque sempre foi o sonho dele…” Adriano diz ainda que Fabio e René deveriam ‘formar uma dupla como antes’, numa alusão ao período de 2012 e 2013, quando o primeiro comandava o Choque e o segundo era o número 1 do Bope.

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A amizade entre os dois coronéis já dura quase 20 anos e vem desde que os dois ingressaram no Bope, mas não se dá apenas no âmbito da corporação. Entre os anos de 2002 e 2007, eles trabalharam juntos na SDS Sistemas de Defesa e Segurança Ltda., que fazia a escolta de empresários e banqueiros. No Rio, não é proibido aos policiais serem sócios de empresas de segurança privada. René é um dos sócios da SDS. O atual comandante-geral da PM, Alberto Pinheiro Neto, também respondia pela SDS. O coronel Fábio de Souza era funcionário da mesma firma.

Além de fornecer segurança pessoal, a SDS também oferecia cursos de Gestão e Segurança para empresas privadas, que eram ministrados nas instalações de unidades como o próprio Bope e o Centro de Formação de Praças (CFAP), em Sulacap, na Zona Oeste da cidade. Com duração de três semanas, o curso custava 2 000 reais por cabeça, e tinha alunos de empresas como Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, do Unibanco e da Companhia Vale do Rio Doce. “Demos até tiro de pistola, de revólver 38 e de escopeta calibre 12”, conta um aluno da turma de 2002 que guarda o diploma na sala de casa. Em outubro de 2013, ao sair da PM e ir para a reserva (aposentadoria), Pinheiro Neto se tornou chefe de segurança da Rede Globo. Em novembro do ano passado, ao ser chamado pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, para comandar a corporação, ele indicou para substituí-lo na emissora o ex-policial federal André Aldgeire, sócio de René em outra empresa, a Formesp Formação e Especialização em Segurança Privada Ltda, que trabalhava para o grupo X, de Eike Batista. Procurados através da assessoria de comunicação da PM, os coronéis não responderam às perguntas feitas pelo site de VEJA.

O novo escolhido para o Batalhão de Choque vai acumular a função de comandante do Batalhão de Choque com a chefia do Comando de Operações Especiais (COE), para o qual foi nomeado em novembro. No último dia 25 de dezembro, ele foi promovido junto com Fábio de Souza ao posto de coronel, o mais alto da carreira. Agora, assume o lugar do amigo – mas, desta vez, não deve haver boicote. Pelo menos não do grupo de oficiais agora investigado pelas mensagens que trocava no WhatsApp.

Confira diálogos de oficiais da PM pelo WhatsApp obtidos por VEJA

06/01/2014

O grupo do coronel Fábio, afastado do comando do Batalhão de Choque, elogia o coronel William René, novo líder da tropa:

Coronel Fábio Mata o Obtuso? (Coronel Rocha)

Major Adriano Assumi (sic) logo aquele COE (Comando de Operações Especiais), e manda o Obtuso para casa do c.! Aquele filho da p.! O que eu puder para sabotar ele… Eu vou fazer!!!

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Coronel Fábio Lá ele vai f. a gente!

Major Adriano Sou Major aqui ou em Pádua.

Major Adriano Na boa comando… Ver amigos sendo sacaneados! Fazer isso é sacanagem!

Coronel Fábio Eu tentei. Mas ele não tem jeito. Eu me rendo.

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Major Adriano Falei com o Cel Renè hoje! Falei… ‘Sabe o que vai acontecer com o choque? A gente vai perder tudo!’

Coronel Fábio René para o cmd do choque!!!

Capitão Lima Ramos Comando, não faça isso com Cel René

Coronel Fábio Vai pra onde? Ele merece.

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Capitão Lima Ramos O senhor demorou dois anos para colocar esse btl com seu jeito

Coronel Fábio Servir no choque sempre foi o sonho dele… Até braçal do choque ele tem em casa

(continuação da conversa…)

Major Adriano Tem que formar dupla denovo… O Sr. e cel René… Senão F.!

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