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No Rio, o Black Bloc assumiu o controle da greve dos professores

Protesto do Dia do Professor tem 64 presos, a caminho de penitenciária. Sindicato que declarou apoio incondicional aos mascarados "não comenta" atos de vandalismo

Por Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
16 out 2013, 13h35

(Atualizado às 18h)

O protesto que o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe) avaliou como “pacífico” já pode ser considerado o mais tenso desde o início das manifestações, em junho. Com um jovem baleado – Rodrigo Gonçalves Azoubel, 18 anos – e 190 pessoas detidas, das quais 64 presas e autuadas por crimes como formação de quadrilha, dano ao patrimônio e roubo, segundo a Polícia Civil, a manifestação da noite de 15 de outubro, Dia do Professor, marca um ponto do impasse com desdobramentos ainda imprevisíveis. Na manhã desta quarta-feira, manifestantes e advogados se concentram na porta da 25ª DP (Engenho Novo) para protestar contra as prisões. Os 64 presos serão encaminhados ainda hoje para um presídio – o que certamente vai dar origem a novos levantes. Pelo Facebook, já há um protesto convocado para esta tarde, às 17h, na Cinelândia, em defesa dos presos. Vinte menores foram apreendidos.

Coordenadora geral do Sindicato Estadual dos Professores (Sepe), Ivonete Conceição da Silva criticou o que chamou de truculência da polícia, mas recusou-se a comentar a ação dos mascarados que depredaram bancos, lojas e veículos da PM após a manifestação. Perguntada sobre a coincidência entre o anúncio do fim do protesto dos professores e o início do confronto, a sindicalista negou a existência de um pacto com os black blocs. “Não temos nada a dizer sobre o que aconteceu depois da nossa manifestação. Não temos relação direta com nenhum setor, sejam os black blocs ou outras representações que participaram do nosso protesto”, disse Ivonete. “Somos contra qualquer tipo de violência e depredação. Mas não podemos falar por outros setores, só podemos falar pelo nosso”, desviou.

Ivonete afirma que o sindicato apoiou o Black Bloc apenas “contra a ação da polícia”. Alguém no sindicato certamente ainda não aprendeu o significado de “incondicional” – mas esse é um outro problema da educação pública, que não interessa ao Sepe.

Não é correto afirmar que houve uma “infiltração” ou uma ação “isolada” de mascarados. Os black blocs caminharam lado a lado com os sindicalistas, e foram convocados para o protesto – apesar de o sindicato lavar as mãos. Além da violência, das cenas lamentáveis de depredação e do despreparo que ainda há por parte da polícia, o Dia dos Professores no Rio foi marcado por um esquecimento: ninguém pensou, em nenhum momento, no aluno.

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O assunto da vez são os mascarados. A Secretaria de Administração Penitenciária não confirma para onde serão levados os presos. Os jovens detidos e presos são assistidos por advogados do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos e da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ. Quem não foi liberado ao longo da madrugada ou no início da manhã, depois de prestar depoimento, será encaminhado para exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal – última etapa antes do encaminhamento para o presídio.

As prisões fazem parte do endurecimento da repressão ao grupo Black Bloc, como havia anunciado a Polícia Civil do Rio. No último dia 8, a instituição anunciou que usaria a “Lei de Organização Criminosa” para enquadrar os detidos por vandalismo durante os protestos. A Lei 12.850, aprovada em agosto e em vigor desde o fim de setembro, prevê que a reunião de “quatro ou mais indivíduos, formal ou informalmente, por qualquer meio, para a prática criminosa, seja autuada como organização criminosa”, com penas que podem chegar a oito anos. Na prática, nos tribunais é necessário comprovar a articulação e a vinculação entre os detidos, bem como a autoria individualizada dos crimes – algo dificílimo, em se tratando de presos em flagrante no meio da confusão das manifestações. A medida é, no momento, mais um sinal da dificuldade do poder público para lidar com os protestos, diante da violência crescente dos grupos de mascarados.

O retorno do Black Bloc com força total foi estimulado pelo Sepe, que na semana passada declarou “apoio incondicional” ao grupo. Conclui-se, portanto, que as ações violentas, as viaturas incendiadas e a depredação desenfreada têm o aval do sindicato.

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Na página do Sepe na internet, há o seguinte balanço da manifestação: “A passeata da educação, realizada ontem (dia 15/10) no Centro do Rio, reuniu dezenas de milhares de pessoas que foram para a rua defender a educação pública de qualidade para todos. (…) A população apoiou os educadores e participou da marcha, que ocorreu sem qualquer transtorno. O ato foi encerrado por voltadas 20h. Depois que a manifestação foi dispersada, ocorreram atos de violência com a polícia militar reprimindo manifestantes que permaneceram na área da Cinelândia e atacando um acampamento do movimento Ocupa Câmara.

Ou seja, o sindicato considera que a manifestação convocada foi ótima. Depois, por culpa da polícia, a coisa degringolou. Não foi bem assim. Os sindicalistas alardearam pelos carros de som que o protesto estava encerrado às 19h40. Imediatamente, começaram os estrondos, em pontos espelhados ao redor da Cinelândia. O Sepe não explica a coincidência – ou melhor, enxerga apenas como coincidência os mascarados convocados para o ato começaram a agir imediatamente ao fim oficial da manifestação.

O desdobramento da passeata do Dia do Professor diante da opinião pública também é imprevisível, mas não é inimaginável um aumento da rejeição dos cariocas ao formato da greve. Outras manifestações com amplo apoio popular foram esvaziadas a partir do aumento da violência entre PMs e mascarados. Os black blocs, agora, estão mais preocupados com sua própria situação que com a dos professores. E muita gente que declara apoio “incondicional” aos docentes começa a pensar se vale a pena caminhar ao lado dos mascarados.

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Como se viu no acampamento em frente ao prédio do governador Sérgio Cabral, nas passeatas do “Cadê Amarildo” em outros atos de protesto, o black bloc assumiu o controle. O que significa – como defendem os mascarados – que o império é do descontrole.

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