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No Brasil, produção do campo já sente os efeitos do aquecimento global

Por Da Redação
9 fev 2009, 07h37

Por Luiz de França

Desde que os primeiros relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) começaram a ser divulgados, os efeitos das mudanças climáticas na agricultura foram tema de vários estudos publicados mundo afora. A enorme maioria aponta para um mesmo diagnóstico: a drástica redução da produção agrícola, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. Essa conclusão também faz parte de um relatório divulgado no mês passado pelas universidades de Washington e Stanford, ambas nos Estados Unidos.

No Brasil, um estudo anterior ao americano, conduzido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela Universidade de Campinas (Unicamp), já mostrava que o agronegócio do país terá perdas bilionárias a partir de 2020 e a geografia da produção agrícola será alterada. No entanto, dados do Ministério da Agricultura demonstram que o setor agrícola já sofre com as alterações do regime climático: os últimos balanços da safra nacional de grãos 2008/2009 registram redução em relação ao ciclo anterior. A região Sul é a mais prejudicada, devido aos longos períodos de estiagem em alguns estados e do excesso de chuva em outros.

“As mudanças são irreversíveis”, disse a VEJA.com Eduardo Delgado Assad, da Embrapa Informática Agropecuária e um dos coordenadores do estudo Aquecimento Global e a Nova Geografia da Produção Agrícola no Brasil. Para ele, a questão não é reverter o que já é dado como certo, e sim parar de emitir poluentes e se adaptar às mudanças que virão.

“Essa adaptação tem dois caminhos: o biotecnológico, com a criação de variáveis de culturas mais resistentes ao calor e à seca, e a adoção de medidas para mitigar esses efeitos”, explica. Entre as soluções apontadas por Assad para abrandar esses efeitos estão a redução do desmatamento, integração pecuária-lavoura, incentivo do plantio direto em substituição à terra arada e sistema de agroflorestamento.

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Pobres e ricos – Segundo estimativas do estudo, a nova geografia agrícola se dará com a perda de áreas de plantios como a soja e o café arábica, que deverão ser os mais afetados, com reduções de até 40% e 33% em 2070, respectivamente. Isso se as projeções do IPCC estiverem corretas e a temperatura da Terra aumentar em até 4 graus até 2100. Milho, arroz, feijão, algodão e girassol deverão apresentar uma significativa perda da produção no Nordeste e a cana-de-açúcar poderá ser a grande beneficiada.

Esses movimentos deverão prejudicar não só a agricultura familiar (responsável por 37% da produção agrícola e 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário) mas também a comercial, responsável por grande parte das exportações. “Afinal, a temperatura é democrática. Ela vai pegar todo mundo, pobres e ricos”, diz Assad, que começa a analisar para a Petrobras o comportamento futuro das culturas energéticas, como a mamona, amendoim e cana-de-açúcar.

Prejuízos – De acordo com um relatório de 2007 do IPCC, a agricultura é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa, com 13,5% de emissão anual, precedido pelo setor energético (24%) e pela degradação ambiental (18%). No campo, as emissões vêm dos gases entéricos e das fezes do gado, dos alagados de arroz, da queima de biomassa e do uso de fertilizantes. Mas abrandar os efeitos do aquecimento da temperatura para evitar maiores perdas significa adotar medidas e tecnologias nem sempre acessíveis a todos.

“Quem estiver melhor preparado, com mais conhecimento, e conseguir mudar cada vez mais rápido sofrerá menos”, prevê Ernesto Cavasin, gerente e especialista em sustentabilidade da PricewaterhouseCoopers. Ele reconhece que a indústria agropecuária está preocupada com a situação, pois o prejuízo já é sentido no bolso, e que a questão ambiental passou a ser prioridade para muitos representantes do setor.

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“Há uma mudança de consciência bastante nítida nas reuniões que participo”, afirma o consultor. Cavasin também acredita que, ao contrário da pecuária, a agricultura deverá ter mais dificuldade de reagir a determinados aspectos como a mudança no regime de chuva. Uma dessas dificuldades será lidar com as novas doenças e pragas que deverão surgir como consequência da alteração climática, conforme alerta a pesquisadora Raquel Ghini, da Embrapa Meio Ambiente.

Cenários futuros – Raquel estuda há sete anos o impacto da mudança climática nas doenças, pragas e plantas invasoras das lavouras. “Verificamos que haverá uma diminuição da doença sigatoka negra da bananeira, que atualmente ataca mais a região norte e deverá migrar para o sul, por conta da redução da umidade do ar”, informa. “Outras serão mais constantes, como a ferrugem do cafeeiro, dematoide e o bicho mineiro, um inseto que faz minas nas folhas.”

De acordo com Raquel, quanto maior a concentração de CO2 atmosférico, maior também será a incidência do oídio e menor a ferrugem da soja, dois fungos muito conhecidos pelos agricultores. Para Thelma Krug, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e membro do conselho do IPCC, estudos como os brasileiros são “extremamente importantes” para a realização das adaptações necessárias ao setor. Ela lembra, entretanto, que todas as previsões são baseadas em cenários futuros. “E a maior incerteza que temos hoje é que não temos uma noção exata para onde essa mudança climática vai.”

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