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Não sou candidato nem tenho pretensão de ser, diz Haddad

Ex-prefeito de São Paulo, citado como plano B do PT caso Lula seja impedido de disputar a Presidência, também criticou seu indiciamento pela PF por caixa 2

Por Ullisses Campbell
Atualizado em 18 jan 2018, 21h50 - Publicado em 18 jan 2018, 21h48

Tão logo recebeu em sua casa uma carta informando ter sido indiciado pela Polícia Federal pelo crime de falsidade ideológica (uso de caixa dois), o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) teve uma reação de perplexidade seguida de muitos xingamentos. Na correspondência, o delegado federal João Luiz Moraes Rosa, que preside um dos inquéritos resultantes da Operação Cifra Oculta, um desdobramento da Lava Jato que apura o uso de gráficas para repasse de propina da Petrobras para políticos. Haddad não poupou críticas ao delegado e à peça que o incrimina. “O maior absurdo dessa investigação é o delegado dizer que usou a intuição para deduzir que há crime no vídeo que eu mesmo gravei e postei no Facebook pedindo contribuições após a campanha de 2016”, defende-se.

Em entrevista a VEJA, Haddad, que é apontado pelo PT como o plano B do partido para o caso de Lula ser condenado e ter a candidatura vetada pela Justiça, diz que não é nem será candidato a nada.  Mesmo assim, seu nome figura em algumas pesquisas de opinião para presidente da República. No último levantamento do Datafolha, em dezembro, ele obteve apenas 3% das intenções de voto. Leia trechos da entrevista:

Como o senhor ficou sabendo que foi indiciado pela Polícia FederalEu recebi uma carta em casa. Fiquei bastante indignado porque já tinha levado ao delegado João Luiz Moraes Rosa todos os documentos que serviam de base para ele arquivar o inquérito. Estava absolutamente seguro que essa investigação seria arquivada.

Pode ter havido falha na sua defesa? A falha é do inquérito. Pelo amor de Deus. É uma peça inepta. Simples assim.

Por que o senhor diz que o relatório da PF é falho? O maior absurdo dessa investigação é o delegado dizer que usou a intuição para deduzir que há crime no vídeo que eu mesmo gravei e postei no Facebook pedindo contribuições após a campanha de 2016. Os políticos modernos fazem isso. O mundo inteiro está usando plataformas para pedir contribuição. Fiz isso usando a regulamentação da Justiça Eleitoral sobre doação pela internet, como o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e o senador democrata americano Bernie Sanders fizeram. Que eu saiba, ninguém está sendo investigado por isso. Esse tipo de contribuição é lícita, diga-se de passagem. Agi de forma lícita e transparente.

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Mas o inquérito também se baseia em documentos colhidos pela Polícia Federal na Operação Cifra Oculta, que apontam que o senhor fez arrecadações em caixa 2 bem antes do começo oficial da campanha. Deus me livre. Esse é outro absurdo nesse inquérito. Os policiais fizeram uma busca e apreensão e pegaram um documento que mostra que fizemos despesas antes do registro da minha candidatura, em 2012. Como essas despesas não foram registradas na Justiça Eleitoral, ficaria caracterizado crime de caixa 2 e falsidade ideológica. Pois bem. Ocorre que, antes do registro da candidatura, existe uma coisa chamada pré-campanha, que é disciplinada pela legislação eleitoral. No caso da minha eleição para prefeito, tive que me apresentar para o partido, houve despesas com a confecção de jornal apresentando o candidato para a militância, elaboração do plano de governo e uma série de outras despesas internas, que somam no total cerca de 150 mil reais. Estou falando de 150 mil reais em uma campanha que custou 60 milhões. O delegado diz em seu relatório que as despesas prévias não foram declaradas à Justiça Eleitoral. Acontece que não foram declaradas nas prestações de contas da campanha simplesmente porque não eram despesas da campanha.

Como o senhor prova que essas despesas são da pré-campanha? Eu tenho aqui comigo todos comprovantes de depósitos desses valores e notas fiscais de todas as despesas feitas no período de pré-campanha. Acontece que, durante as investigações, os policiais sequer pediram esses documentos e, ainda assim, deduziram com base na intuição que se tratava de caixa 2 e falsidade ideológica. O delegado sequer abriu prazo para que apresentássemos esses documentos. Talvez por já intuir que continham provas cabais. Nos próximos dias, vou apresentar todos esses documentos.

Como o senhor se defende da acusação de que os policiais encontraram uma planilha na qual o então tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, teria lhe transferido 1,9 milhão de reais, conforme consta do inquérito? O que tem que ficar claro é que essa transferência não foi pessoal, apesar de estar identificada na planilha com o meu nome. A transferência foi feita da conta do diretório nacional do PT para o municipal, conforme está registrado na minha prestação de contas da minha campanha, já aprovada pela Justiça Eleitoral. Na prestação de contas consta exatamente esse valor na mesma data descrita na planilha.

A Polícia Federal também diz no relatório que uma das maiores obras do seu governo, o túnel Roberto Marinho, foi superfaturada. Muito antes de a Lava Jato concluir que esse empreendimento fazia parte do famoso cartel de empreiteiras, eu mesmo suspendi a obra. Levei toda a documentação provando que esse projeto foi suspenso antes mesmo da famosa reunião feita entre os empreiteiros para fazer pactos de transferência de recursos públicos entre eles. Na época, decidi suspender essa obra porque meu secretário de Obras suspeitou que havia superfaturamento, já que os custos por quilômetro construído estavam bem acima do preço de mercado. Para se ter uma ideia, eu suspendi essa obra um ano antes de a Polícia Federal descobrir o cartel das empreiteiras.

O senhor tem receio de que a evolução desse inquérito inviabilize sua possível candidatura? Não. Primeiro porque não sou candidato nessas eleições e nem tenho planos se ser nas eleições seguintes. Em segundo lugar, porque esse inquérito é tão fraco e sem consistência que, em alguma instância, ele vai ruir. Vai ruir já nas mãos do juiz da primeira instância. Esse inquérito só tem um destino a seguir: o arquivamento.

O senhor se diz candidato a nada, mas o plano B do PT é indicá-lo à Presidência da República, caso a candidatura de Lula vire pó. Nunca tratei desse assunto com alguém no PT. Nunca fui sondado. Desconheço totalmente.

Mas se for indicado pelo Lula para assumir o posto, o senhor aceitaria? Nunca foi tratado disso no PT.

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