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‘Não posso garantir que o pior tenha passado’, diz governador do Amazonas

Segundo Wilson Lima (PSC), doenças respiratórias sempre sobem em fevereiro, ápice do inverno amazônico; estado precisa de mais leitos, mas não tem oxigênio

Por Eduardo Gonçalves, em Manaus
Atualizado em 22 jan 2021, 19h34 - Publicado em 22 jan 2021, 09h53

Depois de viver a maior crise dos seus dois anos de governo à frente do Amazonas no desabastecimento de oxigênio na rede hospitalar, Wilson Lima (PSC) afirmou, em entrevista a VEJA, que fevereiro pode ser ainda pior. Ápice do “inverno amazônico”, marcado pelas chuvas ininterruptas e a alta umidade do ar, o mês costuma bater o recorde no registro de doenças respiratórias. O sistema de saúde amazonense encontra-se hoje numa verdadeira sinuca de bico: é imperativo ampliar o número de leitos nos hospitais, mas falta oxigênio para abastecer tal estrutura.

“Fevereiro me preocupa muito. Nós estamos trabalhando contra o tempo para que não sejamos atingidos desta forma. Mas se nós vimos isso agora em janeiro, fevereiro é o mês que tem mais incidência de síndromes respiratórias. Eu não posso garantir que o pior já tenha passado. Não descarto um agravamento do problema em fevereiro”, disse o governador. “Eu tenho uma quantidade significativa de oxigênio chegando ao Amazonas, mas o nosso maior problema é o combate à pandemia. Eu ainda tenho muitos pacientes precisando de leitos. E, para aumentar isso, preciso de mais insumos e profissionais”.

“Se nós vimos isso agora em janeiro, fevereiro é o mês que tem mais incidência de síndromes respiratórias. Eu não posso garantir que o pior já tenha passado”.

No meio de 2020, quando retrocederam repentinamente os casos de Covid-19 no Amazonas, boa parte das autoridades, incluindo Lima, chegou a declarar que o pior da pandemia havia sido superado. Agora, que a segunda onda veio ainda pior do que a primeira, o governador adotou um tom menos otimista.

“O que estamos passando hoje é algo sem precedentes na história. Quem foi que enfrentou algo semelhante que possa nos dar a solução? Ainda estamos lidando com o imponderável. Nós fizemos todo um planejamento baseado no que havia acontecido em abril e maio”. Naquela época, em que Manaus estampou a capa dos jornais brasileiros e estrangeiros com a imagem de dezenas de covas sendo abertas, o consumo de oxigênio nos hospitais passou de 15.000 a 30.000 metros cúbicos em 30 dias. Neste ano, o consumo foi de 15.000 a 75.000 metros cúbicos em 15 dias. O governador calcula que, para a situação se estabilizar, seria necessário ter à disposição mais de 110.000 metros cúbicos de oxigênio.

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“O que estamos passando hoje é algo sem precedentes. Quem foi que enfrentou algo semelhante que possa nos dar a solução? Ainda estamos lidando com o imponderável”

Lima reconhece que este pior cenário, que acabou se concretizando, não foi previsto pelas autoridades. E que a empresa White Martins, a maior fornecedora de oxigênio do estado, demorou a alertar sobre a real gravidade da situação. “Na nossa conta, mesmo se agravasse a situação, nós ainda teríamos condição. Em nenhum momento contávamos com essa possibilidade, até porque não fomos informados pela empresa sobre a
possibilidade de falta de oxigênio. Em relação a isso, sempre estivemos muito tranquilos. Tínhamos um indicativo de aumento de demanda, mas no nosso entendimento a empresa conseguiria suportar. Mas ela não teve condições”, explicou ele.

Paciente com Covid-19 é transferido de Manaus para hospital do Pará por causa da falta de oxigênio
Paciente com Covid-19 é transferido de Manaus para hospital do Pará por causa da falta de oxigênio (Marcelo Seabra/Agência Pará/Divulgação)

O governador foi avisado inicialmente do problema no dia 7 de janeiro — portanto, praticamente uma semana antes do colapso nos dias 13 e 14. No entanto, o cenário de que realmente não haveria oxigênio para ajudar os pacientes a respirar só foi percebido na madrugada do dia 13. “Foi o pior dia da minha vida. Nós tivemos que por todo o pessoal em alerta. Não há decisão fácil quando se é governador”, disse, referindo-se ao plano de minimização de danos que foi posto em prática a partir daquele momento, que previa preparar as funerárias para a chegada dos mortos, acionar os bombeiros e a Polícia Militar para ajudar na ventilação mecânica dos pacientes e escolher quais hospitais deveriam receber o estoque restante de oxigênio.

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Fazendo uma análise do passado com os olhos de hoje, o governador não se arrepende de ter aliviado as restrições de circulação determinadas por ele próprio no final de 2020 – as medidas geraram uma onda de protestos por parte da população e de deputados bolsonaristas. “Todas as decisões que a gente tomou foram técnicas baseadas no quadro que a gente tinha no momento. Uma coisa é fazer lockdown na França Alemanha, outra em Manaus. Tem gente que trabalha durante o dia para conseguir a janta à noite”, disse.

Depois de contar com a ajuda do governo Bolsonaro e do governo venezuelano para trazer toneladas de oxigênio ao Amazonas, Lima declarou que recebe pressão “de todos os segmentos”, mas que sempre tenta buscar o caminho do equilíbrio. Criticado por seus opositores que chegam até a pedir o seu afastamento, Lima se defende:  “Tem muita gente que age de maneira oportunista com o claro objetivo de atacar o governo e se promover politicamente. Esse não é o momento para fazer isso. A história um dia vai cobrar. É fácil jogar pedras e se isentar de responsabilidades. Difícil mesmo é estar na linha de frente e ter que tomar decisões”.

Em nota, a companhia White Martins informou que tem feito “um esforço sem precedentes” e que conseguiu atingir atualmente um “patamar máximo” de entrega de 80.000 metros cúbicos por dia do produto, “duas vezes e meia a capacidade de produção de sua planta em Manaus”. No texto, a empresa também enviou um recado às autoridades:

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“É imprescindível que as autoridades de Saúde mantenham o monitoramento constante da sua demanda no estado do Amazonas, sinalizando apropriadamente e de forma antecipada qualquer incremento, real ou potencial, do volume de gases, bem como eventuais expansões das unidades hospitalares que demandem oxigênio, para que seja definido um plano de atendimento emergencial em conjunto com a White Martins e necessariamente terceiros, que serão necessários, dentro do limite da capacidade de cada agente”.

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