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Morre no Rio o cirurgião plástico Ivo Pitanguy

Médico estava em sua casa, tinha 93 anos e sofreu uma parada cardíaca

Por Da redação
Atualizado em 6 ago 2016, 23h39 - Publicado em 6 ago 2016, 21h08

Morreu neste sábado o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, aos 93 anos. Ele estava em casa e sofreu uma parada cardíaca. O funeral está previsto para as 13h deste domingo, no Memorial do Carmo, no Rio de Janeiro.

Nascido Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy, em Minas Gerais, em 5 de julho de 1923 (mas registrado apenas três anos depois, em 1926), Pitanguy era considerado o maior cirurgião plástico do país e um dos maiores do mundo. Ele era patrono da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, membro honorário da American Society of Plastic Surgery (AISAPS) e da Academia Brasileira de Letras (ABL). 

O cirurgião plástico Ivo Pitanguy carrega a Tocha Olímpica, no Rio, em sua última aparição pública, um dia antes de morrer
Pitanguy carrega a tocha olímpica, no Rio, em sua última aparição pública, um dia antes de morrer (Alessandro Buzas/Futura Press)

Nesta sexta-feira, no dia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o médico fez sua última aparição pública. Em uma cadeira de rodas, ele conduziu a tocha olímpica na Gávea, Zona Sul do Rio, bairro onde está localizada sua clínica.

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Pitanguy é o autor de mais de 1.800 publicações, entre livros, capítulos de livros, prefácios, conferências e artigos científicos  e trabalhou incansavelmente para tornar a profissão mais respeitada. Ele deixa a esposa Marilu, quatro filhos e cinco netos.

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VEJA Rio: o desafio do mestre Pitanguy

Reportagem de maio deste ano da VEJA Rio mostrou que, além dos descendentes, Pitanguy deixou outros sucessores. Segundo o texto, o médico formou mais de 550 herdeiros — estudantes de quarenta países já frequentaram a sua pós-graduação, que tem em parceria com a PUC-Rio e o Instituto Carlos Chagas —, mas ele nunca se preocupou em fazer, de fato, um sucessor. Embora tivesse dezenas de assistentes brilhantes na clínica, sempre deu a última palavra. “É inegável que ele é um profissional fora da curva. Além do talento e da disciplina, sempre teve um senso estético e um carisma descomunais”, comentou à revista Carlos Fernando Gomes de Almeida, um dos cirurgiões plásticos mais concorridos do país, que passou pela sua escola. “Seu nome virou quase sinônimo de milagre. Ele nos ensinou que nunca se tira a esperança de um paciente. Temos a obrigação de buscar soluções”, acrescenta outra discípula, Bárbara Machado, que foi sua assistente por quase 25 anos.

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FAMOSOS

No seu currículo, consta meia Hollywood, nomes da nobreza como a ex-imperatriz do Irã, Farah Diba, a Duquesa de Windsor e até mesmo um índio da tribo Camaiurá. Reza a lenda que um espírito soprou ao pajé Sampai que ele deveria mexer no rosto. Parece que o índio gostou tanto do resultado que se sentiu voltando aos tempos em que era um garoto. “É verdade que o senhor operou o pajé Sampai?” Surpreso com a lembrança, ri muito e sai à francesa. “Se é o que ele diz…,” despista Pitanguy – nome que, em tupi-guarani, significa “rio das crianças”.

Disse, certa vez , que não se acha nem bonito nem feio, apenas plausível. Não fez plástica “porque se tolera bem”. Não gosta da magreza excessiva, quase anoréxica. Tirando os excessos, vê o cuidado com a aparência como algo natural e positivo entre os brasileiros, povo que cultua a forma física e os esportes. Indagado se o cirurgião plástico é, sobretudo, um esteta, lembra que no seu métier enfrenta limitações que o pintor não tem com suas tintas.

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Sobre o conceito da beleza, fala: “Não existe uma única definição. Existem conceitos étnicos, de épocas, filosóficos.”


A BANALIZAÇÃO DAS CIRURGIAS

Em entrevista à VEJA em outubro de 2010, o mestre da cirurgia plástica falou sobre a banalização dos procedimentos e da atuação de profissionais despreparados. Leia alguns trechos:

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Qual o perfil da mulher brasileira quando o assunto é cirurgia plástica?

O perfil da mulher brasileira é muito parecido com o das mulheres de outros países mais civilizados, que são expostas muito à mídia e à informação. Sabemos que o Brasil é um país muito grande, mas todo brasileiro tem uma preocupação com o corpo. Atualmente, antes de pensar em cirurgia, a mulher pensa em se cuidar, se alimentar adequadamente, em praticar esportes e ginástica. É uma mulher que está muito atuante dentro do seu mundo.

O senhor está nessa área há mais de cinco décadas. Podemos dizer que esse perfil mudou em relação ao passado? O que está diferente?

O que mudou foi a consciência sobre a importância do cuidado em relação à saúde, mais do que com a cirurgia. Hoje em dia, nosso sentido de beleza está muito mais ligado ao bem-estar. Só que antes, eu tinha que explicar o que era a cirurgia plástica para as pessoas. Hoje, preciso explicar o que ela não é. Ela não é essa banalização, essa falta de conduta adequada, com pessoas menos preparadas ou não especialistas. É importante que a cirurgia plástica seja vista como um ramo da cirurgia geral. A pessoa precisa se preparar, tem que ser bom médico, fazer especialização. Pelo fato da cirurgia plástica ter trazido muito bem-estar à população quando bem indicada, houve uma invasão de especialidades. E essa banalização começou a dificultar a boa indicação da cirurgia plástica. Por isso, é importante procurar um bom cirurgião, bem formado, que não entre nesse aspecto de que cirurgia plástica é pouco importante, quando na verdade é um ato muito importante.

Até que ponto os padrões de beleza da sociedade influenciam a mulher atual?

Alguns padrões de beleza são eternos. Mas sem dúvida nenhuma a mídia traz uma influencia maior. Se nós olharmos a evolução da humanidade, para o conceito de beleza de Rubens ou Renoir, vamos ver diferenças. É importante que cada um seja feliz com o seu biotipo. Não se pode ser influenciado demais pela mídia para ter que mudar o seu biotipo para uma realidade que não é a de todo mundo. Existem padrões que não correspondem à beleza, mas que são padrões comerciais que seriam a beleza, que vendem produtos, mas que não necessariamente são a verdade.

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Qual o papel do médico nesse sentido?

O papel do médico é muito claro. Cabe a ele julgar se aquela pessoa tem noção do próprio corpo, se ela compreende o que ela quer fazer. Se o que a pessoa procura é irreal, é muito importante que ela seja elucidada. Tem pessoas que me procuram e que buscam o que não é real. Antes de tudo, é preciso conduzir essa pessoa a um reencontro com a sua própria personalidade, seu próprio eu, do que com o bisturi. O ser humano é a preocupação fundamental do médico.

 

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