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Mensalão: a hora do chefe da quadrilha se aproxima

Ex-ministro da Casa Civil afirma que não há provas contra ele; os autos, entretanto, demonstram o papel do petista na engrenagem do esquema

Por Gabriel Castro
23 set 2012, 18h25

“A atuação voluntária e consciente do ex ministro José Dirceu no esquema garantiu às instituições financeiras, empresas privadas e terceiros envolvidos que nada lhes aconteceria, como de fato não aconteceu até a eclosão do escândalo”

O julgamento do processo do mensalão está perto de encerrar o seu segundo mês. À medida em que o Supremo Tribunal Federal (STF) se aproxima do núcleo central da denúncia, ficam cada vez mais claras as digitais do homem que o Ministério Público Federal aponta como chefe da engrenagem de corrupção: José Dirceu.

O petista passou os últimos sete anos dizendo que não há provas do seu envolvimento com o mensalão. Alega que só foi denunciado por razões políticas, repisando a fastidiosa fábula de que o mensalão foi uma tentativa de golpe contra o governo Lula. Mas o discurso, macaqueado por petistas Brasil afora, se desmancha a cada sessão do julgamento no Supremo. E a hora de Dirceu se aproxima no tribunal.

Na derradeira tentativa de escapar da cassação, Dirceu usou a tribuna da Câmara para alardear que não tinha influência na máquina petista: “Não participei das decisões da direção nacional do PT, da Executiva, não era membro. A sede do PT nacional em Brasília e em São Paulo têm paredes, telefones, assessores, funcionários, seguranças, motoristas. Vossas Excelências me conhecem e sabem que, se tivesse participado de tais atos, teria decidido, teria deliberado, todos saberiam da minha participação. Não vou assumir o que não fiz! Não vou”.

Mas a verdade é que o todo-poderoso ministro da Casa Civil de Lula era, sim, a figura mais influente dentro da máquina partidária – inclusive porque era o homem mais importante da corrente que dominava o partido, o Campo Majoritário. Centralizador, não ignorava as operações financeiras temerárias realizadas com o esforço da dupla Delúbio Soares e Marcos Valério. Também exercia um rigoroso controle das atividades do governo. Encarregava-se da articulação política com o Congresso, a razão para o advento do esquema de compra de votos.

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Além disso, o aval de Dirceu às instituições financeiras envolvidas na denúncia foi essencial para a montagem do mensalão – Delúbio Soares, sozinho, não tinha garantias a oferecer. É o que diz a Procuradoria-Geral da República: “A atuação voluntária e consciente do ex ministro José Dirceu no esquema garantiu às instituições financeiras, empresas privadas e terceiros envolvidos que nada lhes aconteceria, como de fato não aconteceu até a eclosão do escândalo, e também que seriam beneficiados pelo governo federal em assuntos de seu interesse econômico, como de fato ocorreu”.

Mas não é só a influência de Dirceu e a chamada teoria do domínio do fato que apontam para a culpa do petista. Há outros elementos concretos ligando o petista à quadrilha – a despeito do que brada o réu.

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Favores – Maria Ângela Saragoça é ex-mulher do petista. Mantém até hoje uma estreita ligação com José Dirceu. Em 2003, ela tinha objetivos: queria um emprego, vender seu apartamento e arranjar algum dinheiro emprestado para comprar um imóvel novo. Conseguiu os três por meio da intermediação de Marcos Valério: Maria Ângela passou a trabalhar no Departamento de Recursos Humanos do Banco BMG. Rogério Tolentino, sócio de do publicitário e também réu no processo, comprou o apartamento sem vê-lo. O Banco Rural liberou um empréstimo de 42 000 reais sem demora.

Dirceu também se reuniu duas vezes com a cúpula do Banco Rural. Em uma delas, tratou da liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco – operação com potencial para auferir um ganho bilionário ao banco que ajudou a alimentar, com empréstimos fraudulentos, o valerioduto. E quem agendou as reuniões? Marcos Valério. O ministro ainda se encontrou com a direção do BMG em fevereiro de 2003. Três dias antes, o banco havia repassado 2,4 milhões de reais ao valerioduto. Cinco dias depois, foram outros 12,2 milhões. Quem levou Guimarães à Casa Civil? Marcos Valério.

Segundo o Ministério Público Federal, Dirceu também enviou Valério e Tolentino até a Portugal Telecom para negociar a obtenção de 8 milhões de euros para o pagamento de uma dívida do PT. O petista, por outro lado, esteve presente nas negociações do grupo português para adquirir a Telemig. A negociação com o grupo lusitano fracassou. Antes disso, entretanto, Dirceu ainda recebeu Miguel Horta, presidente da Portugal Telecom, na Casa Civil. Marcos Valério participou do encontro.

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Os ministros do Supremo Tribunal Federal devem analisar as acusações contra Dirceu em duas semanas. Os fatos colocam o petista no cenário do crime, ao lado dos outros integrantes da quadrilha.

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