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“Marielle tinha projeto de acabar com as milícias”, diz viúva de Adriano

Em depoimento, Julia Lotufo contou os detalhes do dia em que ouviu do marido a revelação sobre a identidade dos assassinos da vereadora

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 ago 2021, 17h27

Júlia Mello Lotufo, viúva do ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, contou em sua delação premiada que estava assistindo televisão com o marido, em março de 2018, quando  foi veiculada uma reportagem sobre a morte da vereadora Marielle Franco. Desconfiada, ela diz que cobrou explicações do marido: “Falei para o Adriano: ‘olha só, se você fez isso, pra mim deu, não vou bancar isso, tenho uma filha, nossa vida acabou’”, disse Julia.  A resposta, segundo ela, foi incisiva: ‘não fui eu, você tem que acreditar que não fui eu’”.

A viúva conta que acreditou no marido — e teve vários motivos para isso.  Primeiro, no dia do assassinato da vereadora, 14 de março de 2018, o Escritório do Crime, grupo de matadores liderado por Adriano, tinha sido mobilizado para executar um homem envolvido com exploração de máquinas caça-níqueis no Rio. O segundo motivo, segundo a delatora, é que Adriano não tinha motivação para assassinar Marielle. Por último, Adriano relatara a Júlia, meses antes do crime, que havia rejeitado um convite para executar a vereadora.

Conforme VEJA revelou em julho, Julia afirmou que , em julho de 2017, Adriano foi procurado por um dos chefes da milícia de Rio das Pedras, Maurício Silva da Costa, o Maurição, a pedido do ex-vereador Cristiano Girão, para executar Marielle. “Ele (Maurição) dizia que a Marielle ia chegar no Rio das Pedras, era só uma questão de tempo. E que eles tinham que se unir”.

“Marielle era uma mulher que estava convicta no projeto dela, de combater as milícias, dos projetos sociais dela, até mesmo dentro do tráfico”, disse a delatora. “Marielle tinha um projeto de acabar com as milícias, de combater isso. Ela batia de frente, era uma mulher corajosa. Eles acreditavam que isso ia pra frente, ia prejudicar, ela já vinha com um trabalho na Maré, estava passando para a Cidade de Deus, e ia para a Gardênia. Gardênia é uma rua de divisa com o Rio das Pedras”

Adriano, de acordo com a delatora,  teria alertado Maurição sobre os problemas que a morte da vereadora poderia trazer para o crime organizado. “O Adriano era muito inteligente. Ele falou: ‘Maurício, sai fora disso, isso vai dar problema, ela é uma parlamentar, ela é negra, lésbica e fala pra cacete, isso vai dar merda, vocês vão arrumar confusão e não venham para cá com essa história de Marielle, não aceito isso, não quero saber de Marielle aqui’”.

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REVELAÇÕES - Julia: o arquivo vivo de Adriano da Nóbrega -
Julia Lotufo (./.)

Na frente à TV, Julia conta que Adriano, de imediato, concluiu  que o autor dos disparos foi o sargento reformado PM Ronnie Lessa, como apontaram as investigações da polícia. “O Adriano falou: ‘foi o Lessa que matou’”. Ela perguntou então porque o marido concluíra aquilo, Adriano respondeu que era o modus operandi de Lessa, era o tipo de armamento usado por Lessa e mais, que Lessa não tinha uma perna e atirava de dentro do carro, por dificuldade de locomoção. Adriano concluiu ainda que “tinha o dedo de Maurição” no crime, segundo a delatora.

Adriano, disse a delatora, reuniu os matadores do Escritório do Crime e recebeu a garantia de que nenhum deles participara do assassinato de Marielle. Após essa reunião,  o ex-capitão teria alertado Maurição de que ele seria preso. “Ele (Adriano) falou : ‘cara, você vai ser preso por causa da Marielle, o carro saiu daqui, se eu fosse você não ficava mais aqui, vai ter operação por causa da Marielle’”.

Julia conta que a vida de Adriano mudou completamente a partir do assassinato de Marielle, pois a polícia passou a investigar o Escritório do Crime, que ele comandava. “Marielle foi um divisor de águas na vida do Adriano, apesar de ele não ter sido de fato nenhum envolvimento com a morte da Marielle”, disse a delatora. Foragido, Adriano foi morto em fevereiro do ano passado pela PM da Bahia, numa operação que teve o apoio da Polícia Civil do Rio de Janeiro..

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