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Maré, a bomba relógio que ninguém desativou

Território concentra três quadrilhas rivais e 500 fuzis; governo do Rio prometeu fazer a ocupação da região, mas não cumpriu

Por Leslie Leitão Atualizado em 11 ago 2016, 16h05 - Publicado em 11 ago 2016, 11h34

O maciço de favelas com mais de 130 000 moradores amanheceu com seus acessos todos ocupados por forças policiais. Como no provérbio português, depois da casa arrombada, cadeado à porta. Não foram raros os prenúncios de uma tragédia. No final da tarde de quarta-feira, aconteceu. Três soldados da Força Nacional — que não tinham conhecimento geográfico do Rio de Janeiro e vieram reforçar o aparato de segurança para a Olimpíada — erraram o caminho que tantos já erraram. Na saída da Linha Amarela para a Linha Vermelha, acabaram entrando no Complexo da Maré, região dominada por traficantes que tem em mãos um arsenal de mais de 500 fuzis divididos entre quadrilhas inimigas. Um deles foi ferido na cabeça e segue internado em estado grave. Nesta quinta-feira, homens da Força Nacional bloquearam os acessos à Vila João e à Vila dos Pinheiros, na Maré.

Desativar essa bomba relógio foi uma das principais promessas políticas do secretário de segurança, José Mariano Beltrame, e de seus chefes, os governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Na mais emblemática ação, em abril de 2014, às vésperas da eleição que garantiu o mandato a Pezão, o governo do Rio de Janeiro pediu ajuda federal. Cabral ligou para Dilma Rousseff e solicitou uma ocupação militar. Cerca de 3 000 homens das Forças Armadas desembarcaram e ocuparam o território por um ano e dois meses. Além de caríssima (mais de 600 milhões de reais), a missão se revelou um verdadeiro desastre.

Depois de 32 anos — desde a guerrilha do Araguaia, em 1972, o exército não perdia um soldado em combate. No final de 2014, aos 21 anos, Michel Mikami, foi assassinado por traficantes da mesma favela que emboscou a equipe da Força Nacional. Pior: naqueles 14 meses de ocupação, pelo menos 27 militares foram baleados. A previsão era de que, após a saída dos militares, a secretaria de segurança ocuparia a região para instalar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), com precisão de 1 200 homens. Era nítido que, se as Forças Armadas sofriam ataques diários mesmo com um aparato quase três vezes maior, a ocupação da PM seria quase uma tática suicida, semelhante ao caos que se transformara outras regiões com UPP, em especial os complexos do Alemão, da Penha, Jacarezinho, Manguinhos, Rocinha e Lins.

Para Beltrame, foi um certo alívio não ter condições financeiras de fazer a ocupação, em virtude da crise financeira em que o Estado mergulhou neste ano. O problema é que, com o vaivém de delegações olímpicas, estariam todos à mercê da vontade dos traficantes. O site de VEJA mostrou em junho que traficantes brincavam de mirar seus fuzis pra veículos na Linha Vermelha.

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Na semana passada, antes mesmo de os Jogos começarem, a delegação chinesa de basquete ficou em meio ao fogo cruzado logo após desembarcar no Aeroporto do Galeão. O intenso tiroteio apavorou os turistas e quem passava pela Linha Vermelha. “Ficaram discutindo terrorismo e não pararam para pensar que o terrorismo no Rio de Janeiro é esse aí, de vivermos numa cidade sitiada e sujeita a esse tipo de situação”, diz um delegado federal que atua na cúpula da segurança para os Jogos.

O erro cometido pelos policiais da Força Nacional – que feriu o soldado Helio Andrade Vieira, de Roraima, na cabeça – é comum naquela região, onde apenas uma placa indica ‘Vila do João’. Há dois meses, Maria Lucila Barbosa de Araújo, de 49 anos, foi baleada na coxa direita ao pegar a mesma rota. Em 2013, o engenheiro Gil Augusto Barbosa, de 53 anos, morreu após ser baleado na cabeça tentando ir para o aeroporto. Já em 1995, um grupo de torcedores do Santos que estava no Rio para um jogo também entrou por engano no local e foi metralhado, matando um e ferindo cinco. Ou seja, o problema é antigo e ninguém resolve.

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