Lori Francisco da Silva é a personalidade gastronômica do ano
De fala mansa e sorriso largo, ele marca presença no salão do Caliceti di Bologna há 42 anos
Se hoje os garçons frequentemente batem à porta dos donos de restaurantes, já houve um tempo em que os últimos iam atrás desses profissionais. Pelo menos, dos bons. Na vida do catarinense Lori Francisco da Silva, de 67 anos, isso ocorreu em alguns momentos. Antes de ser disputado pelo mercado, no entanto, esse homem de voz mansa, sorriso largo e carisma evidente teve de se equilibrar diante das adversidades. Nascido em Capinzal (SC), perdeu a mãe cedo, morou um tempo com a avó e precisou trabalhar ainda jovem. Na função que adotaria, estreou num bar aos 16. No início dos anos 70, após uma proposta de emprego frustrada na capital paranaense, aceitou o convite de um conhecido para dar expediente em um restaurante em Balneário Camboriú, no litoral catarinense. A casa não vingou, mas ele seguiu firme. Na sequência, fecharia acordo com um alemão chamado Peter, que o procurou depois de ouvir elogios a sua competência. No estabelecimento desse senhor, ele ganhou um ótimo professor em atributos de um bom serviço. Com o patrão, aprendeu a ser mais formal no trato. “Ele me ensinou que cliente não tem nome. É ‘meu senhor’ ou ‘minha senhora’. Também comecei a segurar um pouco minha língua”, lembra, com bom humor. Num dado momento, porém, o dono interrompeu as “lições” e o elogiou: “Acho que você já nasceu garçom”. Quatro anos depois de aportar em Camboriú, Lori recebeu um novo convite de outro admirador de seu trabalho e decidiu mudar de ares. Atuou por um curto período para o proprietário da Lancaster Confeitaria, em Curitiba, e, ao fazer um extra para uma requintada casa italiana, teve sua chance de ouro. O dono gostou de seu desempenho e o convidou a integrar sua brigada em definitivo. Em meados de 1976, Lori estreava como funcionário do Caliceti di Bologna, em cujo salão este fã de talharim à bolonhesa circula até hoje. Os 42 anos de expediente num dos restaurantes mais icônicos da cidade transformaram o garçom em patrimônio do lugar e em personagem querido por até quatro gerações de clientes, mas não afetaram sua modéstia. “A confiança é a mãe dos erros. Sigo aprendendo todos os dias”, diz ele.