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Laboratório de doleiro mandou US$ 113 milhões ao exterior

Quebra do sigilo bancário e fiscal da Labogen mostra a realização de quase 2 mil operações de câmbio para importação fictícia de medicamentos

Por Da Redação
27 abr 2014, 11h31

O laboratório-fantasma Labogen, controlado pelo doleiro Alberto Youssef, lavou 113,38 milhões de dólares entre janeiro de 2009 e dezembro de 2013. O poderio do esquema foi descoberto com a quebra de sigilo bancário e fiscal da empresa no âmbito da Lava-Jato – operação deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março, que derrubou organização criminosa liderada por Youssef e seu aliado principal, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras.

O sofisticado esquema do “laboratório lavanderia” desprezou o surrado modelo dólar cabo – transferência virtual de valores para paraísos fiscais – e deu lugar ao uso de contratos de câmbio para importações fictícias de medicamentos. O dinheiro foi parar na China. A PF descobriu que o laboratório firmou 1.945 contratos de câmbio em nome de duas coligadas, a Labogen Química Fina e Biotecnologia e a Indústria e Comércio de Medicamentos Labogen.

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A primeira realizou 1.294 operações, que somaram 75,31 milhões de dólares. A outra efetuou 651 “transações de papel”, ao valor global de 38,07 milhões de dólares.

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A lavanderia pode ter ocultado dinheiro sujo em volume ainda maior, alcançando a cifra máxima de 184,44 milhões de dólares em quatro anos. A Procuradoria da República descobriu que as contas de outras três empresas foram utilizadas para movimentar recursos que o laboratório do doleiro amealhou por meio de contratos superfaturados em órgãos públicos.

Essas três empresas – Hmar Consultoria em Informática, GFD Investimentos e Piroquímica Comercial (fabricante de produtos farmacêuticos) – fecharam naquele período 991 contratos de câmbio para remessa de mais 71,06 milhões de dólares para a China.

Beneficiários – A PF e a Procuradoria da República querem identificar os beneficiários reais do dinheiro ilícito aportado em contas de doleiros de Hong Kong e Taiwan, praças escolhidas pelo laboratório para avançar o ciclo da lavagem.

O laboratório é o foco central da Lava-Jato porque liga o doleiro ao ex-diretor da Petrobras – ambos presos em março – e ao deputado paranaense André Vargas, que anunciou na sexta-feira sua desfiliação do PT após pressão dos próprios colegas de partido.

O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, é citado na Lava-Jato. Usando o laboratório como carro-chefe, o doleiro tentou obter contrato milionário no Ministério da Saúde, amparado em um programa de parceria da pasta.

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No grampo da PF, Vargas – que só pode ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal por ser deputado – disse que Padilha indicou o executivo Marcus Moura para atuar no Labogen. O ex-ministro nega relações com o doleiro e rechaça a versão de que recomendou um profissional para o laboratório. O ministério diz que não celebrou contrato com o Labogen.

Para a PF, “pode-se estar diante de mais uma ferramenta para sangria dos cofres públicos, uma vez que os relatórios de inteligência financeira indicam claramente a atuação da empresa Labogen para objetivos bem distintos de seu objeto social”.

A Procuradoria imputa a Youssef e a Costa lavagem de dinheiro ilícito arrecadado a partir de corrupção e peculato. O ex-diretor da estatal teria recebido 7,95 milhões de reais em propinas no âmbito das obras supostamente superfaturadas da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

Controle – A “lavanderia” entrou em operação quando Youssef assumiu o controle do laboratório – oficialmente sob direção do administrador Leonardo Meirelles, “operador e testa de ferro” do doleiro, segundo a PF. A produção da “lavanderia” impressionou os investigadores. Os contratos de câmbio se sucederam em ritmo frenético, quase sempre em valores relativamente baixos, em média de até 100 000 dólares cada um, justamente para evitar cair no radar dos órgãos fiscalizadores.

“A organização criminosa agia estruturalmente ordenada, caracterizada pela divisão formal de tarefas e com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem indevida derivada dos crimes de peculato, corrupção ativa e corrupção passiva e lavagem de dinheiro em detrimento da Petrobrás, entre 2009 até 2014”, sustenta a Procuradoria.

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(Com Estadão Conteúdo)

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