Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Itaquerão: a arena da corrupção

Inadimplente, o Corinthians consegue suspender a execução da dívida do local e renegociá-la em condições mais favoráveis

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h10 - Publicado em 15 nov 2019, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em 2011, a empreiteira Odebrecht decidiu construir um estádio para o Corinthians como um agrado ao ex-­presidente Lula, torcedor fanático do time, pela longa e rentável parceria entre eles. A princípio, o presente custaria 400 milhões de reais — despesa com a qual a construtora e o clube resolveram arcar sozinhos. A Operação Lava-Jato, que mostrou o que havia por trás de toda essa camaradagem, só começaria dali a três anos. Antes do início da obra, alguém sugeriu ampliar o tamanho da arena para que ela recebesse o jogo de abertura da Copa do Mundo. A mudança no projeto dobrou a capacidade do estádio e elevou seu custo para mais de 1 bilhão de reais. Era dinheiro demais até para a poderosa Odebrecht. Numa operação financeira avalizada pelo governo da então presidente Dilma Rousseff, a Caixa Econômica emprestou boa parte dos recursos que faltavam. Em setembro passado, após vários atrasos no pagamento, o banco anunciou que executaria a dívida — mas logo depois voltou atrás na decisão.

    Das doze prestações que deveriam ter sido pagas neste ano, o Corinthians quitou apenas duas. A dívida da administradora do estádio, uma sociedade formada entre o clube e a construtora Odebrecht, chega a quase meio bilhão de reais. A hipótese de calote acendeu o sinal de alerta dos técnicos do banco, que passaram a analisar com lupa os termos do contrato de financiamento. Eles descobriram, em suma, que a Caixa havia feito um péssimo negócio, sustentado por garantias frágeis e lastreado por fontes de receita irreais. Um exemplo: somente com o tour no estádio, o Corinthians projetou que receberia 1 milhão de visitantes por ano. Desde a inauguração, há cinco anos, recebeu pouco mais de 100 000. Diante do risco de calote, o banco notificou judicialmente a administradora de que começaria a executar as garantias. Em última instância, se os pagamentos não fossem retomados, o estádio poderia ser até mesmo incorporado pelo banco.

    Esse desfecho, curiosamente, não parece ser uma opção para o palmeirense Jair Bolsonaro. O presidente disse a um parlamentar que não quer se indispor com a segunda maior torcida do Brasil. Logo depois desse comentário, a direção da Caixa reabriu as negociações e estuda uma proposta em condições ainda mais favoráveis ao time paulista. “Acordo ainda não tem. Vamos esperar. Se eles aceitarem o que a gente quer, tudo bem”, disse a VEJA Andrés Sanchez, presidente do clube. Ex-deputado petista, Sanchez, no auge do impasse, pediu ajuda ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para abrir um canal com a direção do banco. A intermediação surtiu efeito. A execução da dívida foi suspensa, e a proposta apresentada pelo time tramitou rapidamente pelas áreas técnicas da Caixa. Os detalhes são protegidos por sigilo. Sabe-se, porém, que os novos termos alongam o prazo de pagamento da dívida por, no mínimo, mais três anos e admitem como garantia de receita os recursos obtidos com os naming rights (o direito de explorar o nome do estádio). Assim como no caso do tour de 1 milhão de visitantes, é mais uma promessa de arrecadação futura.

    Andrés Sanchez e Lula na festa de aniversário do Corinthians
    PRESENTÃO - Lula com Emílio Odebrecht (à dir.): agrado de 1 bilhão de reais (Robson Ventura/Folhapress)

    Desde que a arena foi inaugurada, em 2014, o Corinthians vem penando para conseguir convencer algum investidor a aportar cerca de 400 milhões de reais para associar sua marca ao estádio. O problema é que, após a Lava-­Jato, a imagem da arena foi vinculada a histórias de corrupção, desvio de dinheiro público, ao PT, Lula e a outros personagens envolvidos no escândalo. Até agora não apareceu nenhuma empresa disposta a pagar essa fortuna para dar seu nome ao estádio popularmente conhecido como Itaquerão. Em sua delação premiada, Marcelo Odebrecht, filho de Emílio Odebrecht, o patriarca da família e dono da empreiteira, confirmou que o Itaquerão foi construído a partir de um pedido de Lula no fim do mandato dele como presidente da República, em 2010. “Esse assunto, como ele nasceu? Basicamente, um pedido de Lula para o meu pai: ‘Ó, eu tenho o Corinthians no coração, ajude o Corinthians a construir um estádio privado’.” Emílio, amigo do então presidente, teria topado a empreitada sem pestanejar.

    Continua após a publicidade

    O que era para ser um simples presente virou um tremendo problema. “Houve um momento em que tentei desistir. Foi logo após saber que a obra, que era para ser um estádio para 30 000 pessoas, tinha virado um projeto para a Copa cujo valor saltou dos 400 milhões de reais para mais de 800 milhões”, disse Marcelo. Para que o projeto saísse do papel em formato megalômano, foi preciso que outras forças passassem a atuar. A fim de conseguir o dinheiro extra, o governo da presidente Dilma colocou no circuito a Caixa Econômica Federal e o BNDES. Com os bancos públicos na retaguarda, o custo da obra saltou mais uma vez — de 800 milhões para 1 bilhão de reais. Para completar, a Lava-Jato investiga se parte desse dinheiro foi desviada para pagamentos de propina e financiamento de campanhas políticas. Uma bola fora atrás da outra. Se nenhuma empresa se associar ao projeto de naming rights, o clube poderia adotar um nome que conta a história da obra: Arena da Corrupção.

    Publicado em VEJA de 20 de novembro de 2019, edição nº 2661

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.