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Investigação apura venda de fuzis para o tráfico por policial do Bope

Traficante relatou que sua quadrilha comprou 37 armas trazidas por um agente depois da retomada do Alemão, em 2010. Caso foi enviado para a Corregedoria

Por Leslie Leitão 7 jul 2015, 12h16

A operação de retomada dos complexos do Alemão e da Penha, em novembro de 2010, foi um marco na história do combate à criminalidade fluminense. As imagens de centenas de traficantes correndo mata adentro, transmitidas ao vivo na TV, foram emblemáticas. O que pouca gente conhece é o lado obscuro daquela ação – em especial, os indícios de que agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) desviaram de volta para o tráfico parte dos armamentos recolhidos.

Oficialmente, naquela primeira semana de retomada da região que servia como quartel-general do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Estado, foram apreendidas 518 armas, sendo 140 fuzis. VEJA teve acesso a um depoimento que indica que a varredura teve proporções maiores. E que parte do armamento parou nas mãos de outros criminosos. O episódio é mais uma mostra da ousadia dos infratores que constantemente testam a blindagem da tropa de elite fluminense contra desvios de conduta. Reportagem de VEJA desta semana narra casos de infrações graves em uma das forças mais bem preparadas da polícia nacional.

Um traficante preso pela Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) do Rio de Janeiro relatou aos investigadores as características de um policial do Bope que, segundo ele, subiu o Morro do São Carlos, no Estácio, para oferecer 37 fuzis, a 10.000 reais cada, para traficantes: negro, alto, quase dois metros de altura, forte, e dono de uma moto e um carro vermelhos. Considerando a oferta uma verdadeira “pechincha”, os criminosos apressaram-se a comprar as armas.

Trecho de depoimento que narra envio de fuzis para bandidos
Trecho de depoimento que narra envio de fuzis para bandidos (VEJA)

A negociação foi feita em janeiro do ano seguinte à retomada do Alemão, segundo relato do traficante. Ainda de acordo com o depoimento, Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, uma das principais lideranças da quadrilha Amigos dos Amigos (ADA) – rivais do Comando Vermelho -, recebeu o policial que, na verdade, já era seu conhecido de outras negociatas. O bandido se interessou por apenas cinco armas. Desembolsou os 50.000 reais e passou a bola para um comparsa, Valquir Garcia dos Santos, o Carré, que comandava as bocas de fumo do vizinho Morro da Coroa. Precisando renovar seu arsenal, ele teria arrematado os outros 32 fuzis, modelo M-5, que, de acordo com o depoimento, ainda estavam na caixa. Uma cópia do depoimento foi enviada à Corregedoria Geral Unificada (CGU) e a investigação resultou em processo.

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No Bope ainda predomina a cultura da intolerância com os infratores – e o comando tem sido rápido em afastar culpados e suspeitos. Ainda longe de ser a regra no batalhão, as irregularidades relatadas servem de alerta para evitar a contaminação do Bope pelos desvios de conduta que tão facilmente se instauram nos batalhões regulares da PM. A denúncia de roubo de armas no Alemão não se restringe ao episódio relatado neste depoimento à Dcod. Outro caso parecido resultou numa briga interna entre oficiais da própria unidade: um major que comandava uma equipe encontrou um paiol de armas dentro de um barraco. Dos sete fuzis, pegou dois e mandou um tenente mais novo apresentar o resto na delegacia. O jovem oficial levou o caso para o comando da tropa. Os fuzis reapareceram, mas o episódio acabou abafado.

Sequestros – As acusações de extorsões também são diversas. Uma delas consta nos autos de um processo que tramita na 28ª Vara Criminal da Capital, com centenas de horas de gravações telefônicas de chefões da facção Comando Vermelho. Num dos grampos, durante uma operação realizada pelo Bope na região de Jacarezinho e Manguinhos no dia 29 de abril de 2011 – e que resultou na apreensão de meia tonelada de maconha, 9 pistolas e cinco presos – dois criminosos conversam sobre a prisão de um dos principais líderes da quadrilha. Um deles relata ter visto o traficante Marcelo da Silva Soares, o Macarrão, sendo jogado dentro de uma picape.

Eles lamentam o fato de o criminoso não ter podido correr, já que tem apenas uma das pernas. A ligação foi interceptada às 18h50, 50 minutos após o fim da ação policial. No dia seguinte, os bandidos comentam que Macarrão já estava de volta à favela, mas não falam sobre a quantia que teria sido paga por sua libertação. Meses mais tarde, Macarrão acabou preso por policiais civis. Transferido para um presídio federal em Catanduvas (PR), a própria secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro enviou um relatório de inteligência que citava extorsão para tentar justificar sua permanência fora do Estado.

Outro caso ocorreu em 2012, no Parque União, uma das favelas que integram o Complexo da Maré. Um comerciante foi levado por policiais que usavam uniformes do Bope durante uma ação. Foram exigidos 30.000 reais por sua liberdade. A Corregedoria interna da PM foi acionada e participou, junto com a Polícia Civil, da ação que tentava identificar e prender os criminosos. O comerciante acabou sendo libertado e os sequestradores conseguiram escapar. O caso foi levado para a Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM).

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