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Hugo Boss e BMW querem acabar com tabu sobre passado nazista

Por Por François BECKER
28 set 2011, 12h48

A família Quandt, rica proprietária da BMW, e a grife de prêt-à-porter Hugo Boss, dois grandes nomes da economia alemã, tentam saldar as dívidas de seus passados nazistas, 70 anos depois.

Longe de ser “vítima dos nazistas”, como quis convencer no fim da guerra Günther Quandt, patriarca de uma das famílias mais ricas da Alemanha, ele “fazia parte do regime”, afirma uma pesquisa elaborada por um historiador independente.

Publicada no fim de setembro, a investigação de Joachim Scholtyseck é um exercício “de abertura e transparência”, e, de acordo com seus netos, afeta seriamente a imagem do fundador do império industrial e a de seus filhos Herbert et Harald.

Nas suas usinas, Günther Quandt explorou até a morte mais de 50.000 trabalhadores forçados, prisioneiros de guerra e de campos de concentração, para fabricar armas e baterias indispensáveis à Hitler.

Empresário “sem escrúpulos”, prosperou durante o nazismo, aproveitando para roubar empresários judeus e transformar seus negócios em um império industrial.

Ele até não simpatizava com Joseph Goebbels, mas por motivos meramente pessoais — após se divorciar, sua mulher Magda se casou com o chefe da propaganda de Hitler e criou seus filhos com ele.

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Seu filho Herbert, uma das figuras do patronato alemão durante o “milagre econômico” do pós-guerra, reverenciado por ter salvado a BMW da falência ao recomprá-la em 1959, também tem sua parcela na culpa.

Ele recorreu a trabalhadores forçados enquanto dirigia uma das empresas do grupo em Estrasburgo, e no fim da guerra até supervisionou a construção de uma prisão para os prisioneiros de campos de concentração em Sagan, na atual Polônia, revela o historiador.

Fruto deste trabalho, os netos de Quandt possuem uma fortuna estimada em 20 bilhões de euros. Hoje eles afirmam que “lamentam profundamente” o trabalho forçado, mas não irão repudiar seu avô.

“Gostaríamos que fosse diferente”, declarou Gabriele Quandt à revista Die Zeit, na única entrevista concedida após a publicação da pesquisa.

Stefan Quandt vê em seu avô “um empresário responsável”, distante da política e que “não tinha o objetivo de matar pessoas”. Um retrato contestado pelas investigações de Scholtyseck.

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Quanto à Hugo Boss, nada de histórias de família, só o desejo de acabar com as “declarações vagas sobre o passado”. Um rumor embaraçoso dá conta de que seu fundador era o “costureiro preferido” de Hitler.

Ferdinand Hugo Boss vestiu o Partido Nazista com camisas escuras desde 1924. Após a crise de 1929, ele mesmo entrou para o partido, e não foi apenas para fornecer uniformes para a Wehrmacht e a SS.

Hugo Boss não era “claramente hostil aos nazistas”, e aderiu à política do partido, indica o estudo realizado por um outro historiador publicado recentemente. Mas ele está longe de ser o principal fornecedor de uniformes do regime.

Para costurar o passado, a fabricante de prête-à-porter apresentou “suas profundas desculpas” por ter empregado 140 trabalhadores forçados, a maioria mulheres e 40 prisioneiros de guerra franceses.

A maioria das empresas alemãs recorreu ao trabalho forçado durante o nazismo. No total, 6.500 delas contribuíram com o financiamento da Fundação Memória, Responsabilidade e Futuro (EVZ), que pagou 4,4 bilhões de euros em indenizações para mais de 1,6 milhões antigos trabalhadores forçados ou seus herdeiros.

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No entanto, muitos outros que “não se enquadraram nos critérios”, nunca receberam indenização. As últimas investigações históricas avaliam que o número de trabalhadores forçados na Europa de Hitler chegou a 20 milhões.

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