Ainda estava escuro quando um ônibus que vinha de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, parou em plena Ponte Rio-Niterói. A bordo, 38 passageiros e o motorista viram-se sob a mira de Willian Augusto da Silva, de 20 anos, que portava uma pistola (de brinquedo, soube-se depois), uma faca, um taser e coquetéis molotov.
Era um sequestro com o qual Willian pretendia “parar o Estado e entrar para a história”. A polícia fechou a ponte e acionou o Batalhão de Operações Especiais (Bope). Seguiram-se três horas e meia de tensão, com o sequestrador ameaçando ora pôr fogo no ônibus, ora se jogar no mar com um refém, e de difíceis negociações, já que ele não tinha um rol de exigências. Esgotados os recursos, com Willian supostamente fora de controle, o Bope deu sinal verde para que um sniper — atirador de elite treinado para mirar cuidadosamente, disparar e acertar — entrasse em ação. Ele aproveitou uma das rápidas saídas do sequestrador e atirou. Willian morreu a caminho do hospital.
Os reféns escaparam ilesos. Em tudo e por tudo, trata-se de uma rara operação em que a Polícia Militar fluminense (1 075 mortos entre janeiro e julho) agiu com cabeça fria e seguiu os protocolos. Na ação sem reparos, a nota discordante partiu do governador do Rio. Entre reféns traumatizados e uma mãe desconsolada, Wilson “Tiro na Cabecinha” Witzel desceu de helicóptero na ponte rindo, dando socos no ar, acenando, praticamente saltitando. “Não pude me controlar”, justificou.
Publicado em VEJA de 28 de agosto de 2019, edição nº 2649