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Há 40 anos, um livro criava as bases da Teologia da Libertação

Por Por Luis Jaime Cisneros
16 dez 2011, 14h11

Há 40 anos, o livro de um sacerdote peruano sacudia a Igreja Católica ao fundar as bases da Teologia da Libertação, uma reflexão do Evangelho ora criticada como marxista por ressaltar a opção de Deus pelos pobres, ora elogiada por renovar a mensagem cristã, e que encontrou no Brasil sua base maior, tendo na figura de dom Hélder Câmara um de seus maiores expoentes.

O livro “Teologia da Libertação – Perspectivas”, de 1971, é considerado o ato teórico fundacional que deu nome ao movimento teológico mais importante surgido na América e foi escrito pelo peruano Gustavo Gutiérrez, sacerdote dominicano, hoje com 83 anos.

“A ideia era dizer que Deus acompanhava os pobres do Terceiro Mundo, que estava ao lado deles na busca da Terra Prometida, mas uma Terra Prometida que significava terra, liberdade, justiça, dignidade”, explicou à AFP o professor Jeffrey Klaiber, historiador de religiões da Universidade Católica de Lima.

Em uma América Latina marcada pela desigualdade social e as ditaduras das décadas de 1960 e 1970, esta ideia “captou a imaginação” de amplos setores, da Nicarágua de Somoza às Filipinas de Marcos, com ecos também na África, segundo Klaiber.

Gustavo Gutiérrez afirmou à AFP que “na Teologia da Libertação (TL), a pobreza significa insignificância social, ela não se limita à sua dimensão econômica; pobre é insignificante e excluído por diferentes razões, daí a gravidade da desigualdade social que temos no Peru”.

“Esta teologia continua presente na América Latina apesar de passadas quatro décadas e sua mensagem central (a opção preferencial pelos pobres) repercute no trabalho pastoral da Igreja”, explicou Gutiérrez.

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“Bastaria pegar as conclusões da conferência episcopal da América Latina e do Caribe em Aparecida (Brasil, 2007) para se dar conta”, acrescentou o sacerdote peruano, em alusão à reunião presidida pelo papa Bento XVI.

Em um primeiro momento, a opção pelos pobres empolgou Roma, sob o pontificado do papa Paulo VI (1963-1978), que nomeou bispos progressistas na região com o maior número de fiéis católicos. No entanto, João Paulo II (1978-1994), forjado no anticomunismo, a questionou, alegando que fomentava a luta de classes e podia distanciar os fiéis das classes médias e altas.

A ofensiva do Vaticano contra a TL se traduziu na nomeação de bispos conservadores e se selou com dois documentos (‘Instruções’) do então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI.

“A primeira instrução foi negativa, mas a segunda foi mais positiva porque dizia que a história do cristianismo é uma história de libertação, de liberdade, e que os cristãos deviam apoiar a liberdade”, lembrou Klaiber.

“O importante é que os maus entendidos, quando ocorreram, há tempos foram superados através de um diálogo contínuo e frutífero”, ressaltou Gutiérrez a respeito de seus encontros com Ratzinger entre 1984-86.

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O paradoxo na posição de Roma é que o Concílio Vaticano II (1962) e a Conferência Episcopal Latino-americana de Medellín (1968) serviram de inspiração para a TL.

Klaiber acredita que, “como corrente intelectual, o tempo da TL já passou, mas seu espírito continua vigente e ativo no campo, nas paróquias pobres e amazônicas, mesmo que ninguém ouse pronunciar seu nome por temor à hierarquia”.

O cardeal peruano Juan Luis Cipriani, primeiro cardeal do Opus Dei nomeado por João Paulo II no mundo, declinou fazer comentários sobre a TL quando consultado pela AFP.

“O que se pratica, na verdade, é a mensagem cristã, o Evangelho, não uma teologia, esta contribui para a vida da Igreja à medida que reflete sobre esta mensagem, levando em conta o momento que se vive”, afirmou Gutiérrez respondendo à pergunta de se reescreveria seu texto de 1971.

Gutiérrez não foi o único a impulsionar a Teologia da Libertação, que teve entre seus prisioneiros o então sacerdote brasileiro Leonardo Boff e o colombiano Camilo Torres, que entrou para a luta armada em seu país.

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Além de dom Hélder, arcebispo de Olinda e Recife, falecido em 1999, outro expoente na região da TL foi o arcebispo de El Salvador Oscar Romero, assassinado em 1980.

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