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Há 110 anos, Santos Dumont se tornava um dos pais da aviação

Em outubro de 1906, inventor brasileiro decolava com o seu extraordinário aparelho mais pesado que o ar, o 14 Bis

Por Filipe Vilicic 26 out 2016, 19h47

“Sei que as pessoas riem de mim. Mas, acima das nuvens, não posso ouvi-las.” Era o que costumava responder o inventor mineiro Alberto Santos Dumont (1873-1932) àqueles que o viam como maluco por desejar ser o primeiro indivíduo a decolar, controlar o voo e pousar uma máquina que então chamavam de “mais pesada que o ar”. Ou seja, ele queria se tornar o primeiro homem a navegar pelo céu com o que hoje conhecemos como avião. Aos olhos do século XXI — no qual, a qualquer momento, há 10 000 aeronaves comerciais no ar —, tal presunção pode parecer banal. Contudo, na virada do século XIX para o XX, tratava-se de uma das maiores ambições humanas. Que, aliás, parecia inalcançável, e, por isso, os que se apresentavam como aviadores eram vistos como doidos. Maluco ou não — há quem defenda que, sim, ele tinha distúrbios mentais —, Santos Dumont se tornou o primeiro homem a dominar os céus. Inicialmente, há 115 anos, em 19 de outubro de 1901, ao circundar a Torre Eiffel, em Paris, com seu balão dirigível nº 6. Depois, em 23 de outubro de 1906 — já lá se vão 110 anos — e, na sequência, em 12 de novembro, ao decolar com o seu extraordinário aparelho mais pesado que o ar, o 14 Bis, nos arredores da capital francesa. Para muitos — não é unanimidade, pois nos Estados Unidos é comum que se apontem os irmãos Wright, americanos, como os pioneiros —, o voo do 14 Bis entrou para os livros como a primeira vez em que um ser humano foi, digamos, para o alto e avante. Assim, o brasileiro se consagrou como um dos nomes mais relevantes da história da civilização.

Nascido em João Gomes — hoje, cidade que leva o nome de Santos Dumont —, Minas Gerais, em 20 de julho de 1873, o aviador tinha origens abastadas. Seu pai, Henrique Dumont, era um dos maiores plantadores de café do planeta, com fazendas em São Paulo. A mãe, Francisca, filha do comendador e industrial Francisco de Paula Santos, foi quem, de início, abasteceu o marido com uma herança, que viria a ser multiplicada pelo companheiro. Santos Dumont teve cinco irmãs e dois irmãos. Entre os homens, era o caçula da família. “Um dos elementos cruciais da biografia do inventor é que ele sempre se sentia completamente diferente das outras pessoas, constantemente deslocado”, disse a VEJA o escritor holandês Arthur Japin, autor de O Homem com Asas, romance histórico baseado na vida do brasileiro, publicado neste ano no Brasil.

Apesar de mesclar informações reais com pequenas inserções ficcionais — a exemplo da personagem Guilhermina, babá do protagonista —, O Homem com Asas é a obra que melhor buscou mergulhar na mente de Dumont. “Até então, biógrafos e historiadores preservavam, em demasia, detalhes pessoais da vida desse gênio”, afirma Japin, cujos livros, inspirados em figuras históricas, já foram traduzidos para 21 idiomas e tiveram 2 milhões de exemplares vendidos. “Minha aposta é que os brasileiros têm dificuldade de aceitar que era homossexual esse herói tão audacioso da história do país”, provoca ele. Desde criança, o mineiro se mostrava com hábitos distintos dos observados em garotos de sua idade. Enquanto seus dois irmãos homens tinham costumes como brigar sem camisa em provas que pretendiam atestar virilidade, Dumont preferia bordar, fabricar pequenos balões de ar e, principalmente, ler. Seu escritor predileto era o francês Júlio Verne, de clássicos como A Volta ao Mundo em 80 Dias e Vinte Mil Léguas Submarinas — narrativas fictícias que, quando criança, Dumont julgava verdadeiras. Ele ainda admirava o trabalho de cientistas como o grego Arquitas de Tarento (428 a.C.-347 a.C.), inventor de uma pomba mecânica, o italiano Leonardo da Vinci (1452-1519), que desenhou hipotéticas máquinas voadoras, e o brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724) — que em 1709 criou o balão.

A oportunidade de começar a construir as próprias aeronaves surgiu em Paris, para onde Dumont se mudou em 1892, após seu pai, adoecido, ter lhe adiantado parte da herança. Lá, ele fez contato com baloeiros, como Albert Chapin, que viria a se tornar mecânico de seus inventos. Nos salões parisienses, era comum membros da elite realizarem apostas audaciosas. Numa delas, o magnata do petróleo Émile Deutsch de La Meurthe, com o intuito de incentivar o desenvolvimento de motores a gasolina, instituiu a premiação de 100 000 francos (o equivalente a 500 000 dólares hoje) ao aeronauta que circundasse a Torre Eiffel. Por quê? No período, já se voava em balões e planadores, mas ainda não se sabia como controlá-los. Após tentativas com cinco dispositivos — incluindo o dirigível nº 5, cujo voo culminou num acidente que quase lhe tirou a vida —, Dumont cumpriu a missão em 1901. Não sem dificuldades, como relataria numa carta a colegas: “O motor (…) ameaçou parar (…) com o risco de desviar o rumo, abandonei por segundos o leme a fim de concentrar a atenção na maneta”. Logo depois da proeza, já declarara: “No ar, não havia tempo para ter medo”.

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