As transcrições de conversas telefônicas entre os envolvidos no esquema investigado pela Operação Satiagraha da Polícia Federal revelam o envolvimento de Daniel Dantas em numerosos negócios privados e públicos. De acordo com a PF, as mais de 7.000 páginas de grampos guardam as informações mais importantes para entender como o banqueiro do Grupo Opportunity conseguia ter influência tão ampla — ela chegava até ao gabinete da Presidência da República.
Um dos diálogos gravados pela PF mostra a conversa entre o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh e o chefe do gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, no dia 29 de maio. O assunto é justamente a investigação sobre o Opportunity. O petista, contratado como advogado pelo Opportunity, busca saber mais sobre a operação — e o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se compromete a obter informações com o diretor da PF, Luiz Fernando Correa.
“Luiz Greenhalgh, vulgo Gomes, é pessoa muito próxima ao secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e da ministra Dilma Rousseff”, afirma um relatório secreto da PF, de acordo com reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo. O texto, escrito pelo delegado Protógenes Queiroz, destaca que “Greenhalgh também é advogado e possui um escritório, mas os serviços prestados (ao Opportunity) passam longe da assessoria jurídica”.
Conforme o delegado, a parte jurídica ficava nas mãos dos advogados das próprias empresas do grupo, enquanto Greenhalgh “seria o homem de ligação entre pessoas do Executivo federal e empresas estatais”, com a “satisfação dos interesses financeiros mútuos e pessoais” como objetivo final. Numa das conversas gravadas, Dantas fala a respeito do delegado e da operação. “O objetivo continua sendo o original. E quem tá responsável é esse Protógenes mesmo.”
Cronologia
Nahas e Pitta – Para a PF, os grampos mostram a atuação de Dantas e seus aliados em casos de espionagem industrial, negócios escusos e lobby no governo. Além de detalhar a atuação do banqueiro e das pessoas mais próximas a ele, como a irmã Verônica, o conjunto de gravações telefônicas também explica como atuavam outras peças do esquema, como o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, soltos na madrugada desta sexta.
No caso de Nahas, a PF flagrou conversas em que combinava operações ilícitas. “O cara é quente, é presidente do Banco Mundial”, diz o megainvestidor a um amigo — ele falava sobre informações privilegiadas sobre um corte de juros do Fed, o banco central americano. Já Pitta é flagrado negociando acertos com doleiros. Segundo o Estado, ele é ouvido negociando acordos no valor de 50.000 reais. Às vezes, porém, se contentava com menos — e fechava por 19.000.