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Governo do Rio quer atrair turistas às favelas

Projeto pretende vender pacotes nos morros ocupados pelas Unidades de Polícia Pacificadora

Por BBC
10 nov 2010, 20h56

Patrícia Correia Capistrano olha pela janela por cima de uma fila de xampus e produtos para o cabelo e explora a rua da maior favela do Rio de Janeiro, a Rocinha, em busca de potenciais clientes.

Ante a perspectiva de uma tarde tranquila, esta cabeleireira de 28 anos conversa relaxada. “O governo quer tornar as favelas mais seguras para os turistas, porque a vista daqui é espetacular”, disse, apoiada em uma cadeira. “Aqui, todos estão concentrados no Mundial de Futebol e nos Jogos Olímpicos.”

Enquanto o Rio se prepara para acolher as partidas da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos dois anos depois, os bairros localizados nas pronunciadas encostas cariocas são o objetivo de um programa de limpeza do governo, que será usado como trampolim para desenvolver o turismo nos bairros marginalizados por meio de visitas guiadas.

Os percursos são uma alternativa interessante ao já conhecido circuito do Rio de Janeiro, que inclui símbolos como o Pão de Açúcar, a estátua do Cristo Redentor e as praias. Construídas nas encostas dos morros, as favelas têm vistas impressionantes da cidade.

Também permitem ver como vive 20% da população carioca e entrar no patrimônio cultural e musical do Brasil. “A favela se converteu em parte da imagem do Rio”, disse Eduardo Mielke, um pesquisador de turismo na Universidade Metropolitana de Leeds, na Grã-Bretanha.

Nos últimos dois anos, 13 das cerca de mil favelas cariocas ganharam presença policial permanente, conhecida com Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), cujo objetivo é expulsar os traficantes que controlam as comunidades.

“Até 2014 vamos levar as UPPs a todas as comunidades do estado do Rio que são controladas por delinquentes”, assegura o governador carioca Sérgio Cabral. “É um momento novo para o Rio, que dará aos visitantes a liberdade de poder conhecer melhor a cidade.”

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Em agosto, a secretaria de Turismo do Rio de Janeiro colocou em marcha um programa na favela Santa Marta – o primeiro bairro a formar parte do projeto da UPP – para capacitar os moradores como guias turísticos.

Desde a criação do projeto Rio Top Tour, a favela, que já foi controlada pelo Comando Vermelho se converteu em um centro turístico e recebeu 4 500 visitantes no primeiro mês do programa.

Em toda Santa Marta foram instaladas placas em inglês e agora há 30 atrações turísticas no morro, entre elas uma escola de samba, uma galeria de arte local e o lugar onde se filmou o vídeo de Michael Jackson They Don’t Care About Us.

“Antes da chegada da UPP, o bairro era perigoso”, disse Daniella Greco, que trabalha como voluntária numa empresa de turismo. “A comunidade está feliz por receber turistas. Quando havia tráfico, não existia turismo.”

A Rio Top Tour deve se estender para outras favelas antes do Mundial, ainda que alguns já usem a própria iniciativa para promover o turismo. Cilan Oliveira vive na favela Silva Pereira, em Santa Teresa, onde trabalha como artista e guia do Projeto Morrinho, uma maqueta da favela de 350 metros construída por adolescentes locais. “Gosto de mostrar esse lugar, porque dá uma ideia melhor de nossa comunidade”, diz Cilan. “Eu digo a eles: bem-vindo à nossa comunidade. Relaxem que aqui somos pacíficos.”

Até agora, a violência que castiga os bairros pobres limitou o turismo a uns poucos operadores que vendem os passeios a mochileiros aventureiros. O governo tem como objetivo abrir as favelas, depois de “pacificadas”, a todo tipo de turista.

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“Quanto mais seguro é o lugar, mas visitantes pode atrair”, assegura Mielke. “Isso é parte da estratégia do governo: usar as favelas como outro ponto de venda da cidade.”

No entanto, os críticos dizem que o plano do governo não entende a complexa realidade de favelas como a Rocinha, onde vivem 250 mil pessoas e que funcionou fora do alcance das autoridades desde que trabalhadores migrantes começaram a chegar ao bairro de barracos na década de 1950.

Cabral disse que as UPPs chegarão à Rocinha em 2011, apesar das preocupações por uma possível guerra entre os chefões da droga e a polícia que poderia durar até muito tempo depois do final dos Jogos Olímpicos. “Na Rocinha, está se elaborando uma estratégia de maneira responsável”, disse.

“As favelas ‘pacificadas’ são um instrumento para dar brilho ao governo”, afirma Bianca Freire-Medeiros, professora de sociologia da Fundação Getúlio Vargas. “Mas muitos estão céticos sobre quanto tempo irão durar esses supostos benefícios depois que passarem a Copa e as Olimpíadas.”

Apesar das incertezas sobre o plano do governo, moradores das favelas como Humberto Alves de Barvollio são otimistas. “A chegada dos estrangeiros me ajudou muito”, disse esse padeiro, enquanto repartia sonhos a um grupo de turistas. “Especialmente se compram duas ou três coisas.”

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