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Fundador do Maksoud Plaza ‘ressuscita’ como dono de offshore

Morto há dois anos, Henry Maksoud aparece em documentos inéditos da série 'Panama Papers'

Por Da Redação
15 Maio 2016, 10h12

O empresário Henry Maksoud aparece ressuscitado nos registros da Mossack Fonseca e do banco J.Safra Sarasin, revelam documentos inéditos da série Panama Papers. Morto em abril de 2014, aos 85 anos, o fundador do Maksoud Plaza, um dos hotéis mais tradicionais de São Paulo, e da Hidroservice Engenharia teve seu mandato de procurador plenipotenciário da companhia panamenha Rasway Corp renovado em setembro de 2015 pela diretoria da offshore.

A “ressureição” fiscal de Maksoud quinze meses após sua morte coincide com disputa judicial entre herdeiros do empresário pelo espólio. O patrimônio deixado pelo empresário, avaliado em cerca de 500 milhões de reais, inclui o edifício onde funciona o Maksoud Plaza, hotel que foi referência de luxo em São Paulo nos anos 1980 e 1990. Há, porém, muitas dívidas trabalhistas e com credores que reduziriam esse montante. A herança é alvo de uma disputa – de um lado estão o neto e a segunda mulher do empresário e, de outro, os filhos Roberto e Cláudio Maksoud.

Uma série de documentos disponíveis entre os 2,6 terabytes de dados dos Panama Papers sugere intenção deliberada de “ressuscitar” o empresário morto há dois anos. A ação passou pelo banco de investimentos com sede em Luxemburgo e pela firma de advocacia panamenha especializada em paraísos fiscais. Procurado, o J.Safra Sarasin não quis se pronunciar. Os dois lados da família dizem desconhecer quaisquer ações referentes à offshore. Nem confirmam se ela consta do inventário de Maksoud.

Típica empresa de prateleira, a Rasway Corp foi criada pela Mossack Fonseca no Panamá e vendida em 2007 ao então Banque Safra de Luxemburgo (futuro J.Safra Sarasin). Seus diretores são pessoas ligadas à própria Mossack Fonseca. Os donos não são identificados nominalmente, pois as ações da companhia são ao portador. Quem tiver os certificados de ações na mão controla a empresa, mas, para isso, precisa também de um “power of attorney” assinado pelos diretores-laranja da offshore.

Sem uma procuração válida, os beneficiários da offshore não conseguem movimentar as contas bancárias nem fazer quaisquer outras transações comerciais ou financeiras pela empresa. A primeira procuração da Mossack para Maksoud poder administrar a Rasway e seus bens foi concedida em 11 de setembro de 2007, com validade de três anos. Em 2010, Carmen Wong (diretora de centenas de offshores criadas pela Mossack Fonseca) renovou a procuração do brasileiro até 11 de setembro de 2015. Porém, quando esse dia chegou, Maksoud não estava mais vivo.

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Aí aparecem três documentos suspeitos nos computadores hackeados da Mossack Fonseca. O primeiro deles é uma cópia da carteira de identidade de Henry Maksoud na qual se lê um carimbo em francês (“copie conforme a original”) assinado e datado de 28 de agosto de 2015. Ou seja, a cópia foi validada dezesseis meses após a morte do empresário. É praxe em qualquer atividade bancária a exigência de prova de vida dos beneficiários. Se o Safra Sarasin exigiu essa prova, comprou-a como lhe venderam – como mostra o segundo documento encontrado pela reportagem nos Panama Papers.

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Dois dias depois da validação da cópia da carteira de identidade, o banco mandou carta ao escritório da Mossack Fonseca em Luxemburgo solicitando a renovação da procuração da Rasway Corp para Henry Maksoud agir sozinho pela empresa. A carta foi recebida na Mossack em 4 de setembro e, em onze dias, a nova diretora da Rasway, Jaqueline Alexander, assinou a terceira procuração de Maksoud, agora com validade até 11 de setembro de 2020. Faziam exatos 512 dias que ele morrera. Mas, para efeito dos negócios com a offshore, Maksoud estava vivo novamente.

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Advogado de Henry Maksoud Neto e de Georgina Célia – a atual inventariante da herança e, portanto, responsável por sua administração -, Márcio Casado afirmou que o espólio desconhece a movimentação ocorrida após a morte do empresário. “O espólio de Henry Maksoud não recebeu mandato de empresas no exterior e muito menos forneceu documentos a terceiros para que o fizessem. Temos não só a curiosidade como o dever legal de apurar as contas por vocês referidas e quem as está movimentando.”

Questionado sobre a ciência de Maksoud Neto e Georgina Célia sobre a offshore e sobre as declarações de Imposto de Renda que poderiam provar que a empresa era declarada no país, o advogado afirmou que não poderia repassar as informações. “Como o inventário tramita em segredo de Justiça, não posso responder a questões que digam respeito ao que está nele arrolado ou não.”

Outras fontes ligadas à família Maksoud afirmam que Henry Maksoud possuía não apenas uma, mas diversas empresas no exterior, uma vez que a Hidroservice Engenharia, uma das empresas do grupo, atuava em diversos países. Um dos filhos do empresário, Roberto Maksoud, que briga com o filho Henry e com a segunda esposa do pai pela herança, disse apenas desconhecer especificamente a Rasway Corp., empresa alvo da movimentação post mortem por seu pai.

Sobre os Panama Papers – A série Panama Papers é uma iniciativa do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington. Os documentos, obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung de uma fonte anônima, vêm sendo investigados há cerca de um ano. No mundo, são 376 jornalistas de 109 veículos em 76 países.

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(Com Estadão Conteúdo)

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