Fiscal diz que se ligou a grupo político de Kassab em 2004
Ronilson Bezerra Rodrigues afirma ainda que voltou à prefeitura em 2009 por fidelidade a ex-secretário municipal de Finanças
O auditor fiscal Ronilson Bezerra Rodrigues disse em uma conversa gravada com outros dois acusados de desviar impostos em São Paulo que passou a integrar o grupo político de Gilberto Kassab (PSD) nas eleições municipais de 2004, quando o ex-prefeito foi eleito vice na chapa de José Serra (PSDB). Em 2006, o tucano deixou o cargo para disputar o governo paulista e Kassab assumiu a prefeitura.
Leia também:
Denúncia anônima sobre propina citava sócio da mulher de Jilmar Tatto
Tatto terá de explicar sociedade de sua mulher com auditor investigado
Fiscais montaram empresas para movimentar propina
No diálogo, ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, Rodrigues relata o episódio na mesa de um bar no Tatuapé, na Zona Leste, para os fiscais Luis Alexandre Cardoso Magalhães e Carlos Augusto di Lallo Leite do Amaral, acusados de integrar a quadrilha. Ele diz aos colegas que não seria capaz de traí-los.
Rodrigues afirma que ele e o auditor Arnaldo Augusto Pereira, também investigado por enriquecimento ilícito, foram apresentados ao comitê da campanha de José Serra na Vila Mariana, Zona Sul, por um homem que havia coordenado na década de 1990 a campanha de Kassab a vereador na Zona Leste. “Ele apresenta nós (sic) para o comitê da Vila Mariana e o Kassab põe nós dois (Rodrigues e Pereira) junto com um cara que fazia a campanha do Serra em 2004: o Felipe Soutello. Fizemos uma reunião e falamos das ações”, disse Rodrigues. “Quando o Serra assume, só o Arnaldo ganhou cargo”, afirmou.
Apontado como chefe da quadrilha acusada de desfalcar a prefeitura em 500 milhões de reais, Rodrigues relatou ainda que seguiu para Santo André com Pereira, que havia sido nomeado em 2009 secretário de Planejamento de Aidan Ravin (PTB), então prefeito da cidade. E disse que só voltou à capital a pedido de Walter Aluisio Morais Rodrigues, secretário municipal de Finanças entre 2008 e 2011, na gestão Kassab.
“Eu não ia para Santo André (mas foi por fidelidade a Pereira). Em quatro meses o Walter me liga para retornar como subsecretário. Eu nunca traí ninguém. Isso não é da minha índole”, desabafou Rodrigues. Magalhães gravou a conversa.
Conforme o jornal o revelou nesta sexta, Walter Aluisio frequentava o escritório alugado pela quadrilha no centro da capital, chamado de “ninho”, segundo o depoimento de uma testemunha protegida pelo Ministério Público Estadual (MPE), dado em 6 de novembro. Ela também disse que o secretário adjunto à época, Silvio Dias, frequentava o lugar. Por fim, afirmou que havia troca de favores entre Rodrigues e a dupla.
Em um telefonema gravado pelo Ministério Público, Rodrigues reclama à auditora Paula Sayuri Nagamati que estava sendo investigado pela Controladoria-Geral do Município e afirma que “o secretário e o prefeito com quem trabalhei” também deveriam prestar esclarecimentos porque “tinham ciência de tudo”. O ex-prefeito já disse que as afirmações contra ele são “falsas”. Walter Aluisio e Silvio Dias não foram localizados.
Confira a seguir nota enviada pela assessoria de Kassab:
Não é novidade que, na campanha de 2004, existia um núcleo coordenado por Felipe Soutello que se dedicava à coleta de dados técnicos para a elaboração do plano de governo e assessoramento dos candidatos. Se, como centenas de outras pessoas, os dois auditores municipais foram encaminhados naquela época a essa equipe, isso não representa qualquer proximidade com ambos.
A própria gravação, se confirmada sua veracidade, mostra que são verdadeiras as afirmações do ex-prefeito, de que não conhecia anteriormente essas pessoas e não tem qualquer relação pessoal com elas, tendo encontrado o auditor Ronilson Rodrigues poucas vezes durante seu mandato, geralmente no gabinete do prefeito, e sempre para discutir assuntos técnicos da administração municipal.
Assessoria de Imprensa do ex-prefeito Gilberto Kassab
(Com Estadão Conteúdo)