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Faroeste caboclo: Brasil tem a eleição mais sangrenta

Na maioria dos estados, os crimes estão ligados a disputas políticas. Mas no Rio é diferente

Por Leslie Leitão, Thiago Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 out 2016, 16h37

O assassinato de José Gomes da Rocha, candidato do PTB a prefeito do município goiano de Itumbiara, no meio de um comício e diante das câmeras fotográficas, foi apenas um dos dez atentados contra políticos registrados em 48 horas no país, entre terça e quarta-feira da semana passada. Zé Gomes, como era conhecido na região, fazia o que seria sua última carreata quando foi alvejado pelo funcionário público Gilberto Ferreira do Amaral. Gomes estava ao lado do vice-governador do estado, José Eliton, que saiu ferido. O atirador, antes de ser morto, ainda matou um policial. Até sexta-feira, o vice-governador permanecia internado. Apenas neste ano, ao menos 96 candidatos, pré-candidatos e cabos eleitorais foram assassinados no Brasil, segundo levantamento do jornal O Estado de S. Paulo. O número representa quase o triplo da média de 34 crimes políticos por ano registrada desde a promulgação da Lei da Anistia. As eleições municipais deste ano foram as mais sangrentas do país de todos os tempos.

A maior parte dos crimes segue um mesmo padrão: os principais suspeitos dos atentados são membros de grupos políticos rivais. Foi assim nos episódios ocorridos até agora em doze estados, além de Goiás: Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Já no Rio de Janeiro, os atentados têm perfil radicalmente diferente e superam os demais em número e violência.

No estado, nada menos que treze candidatos, pré-candidatos e cabos eleitorais foram executados neste ano. Ao contrário do que ocorre no resto do país, na maioria dos casos do Rio os grupos rivais nada tiveram a ver com os crimes — as vítimas foram mortas porque feriram interesses de criminosos locais. Por trás do trágico faroeste fluminense estão as quadrilhas que dão as ordens em grandes porções das áreas mais pobres da cidade. Uma parte é formada por traficantes. A outra, por milicianos que vêm expandindo seu poder nos últimos anos. Ameaças e controle de acesso — como as cobranças de “pedágio” para fazer campanha — são típicos instrumentos do tráfico. Já as execuções remetem ao modo de operação das milícias. É dessa combinação que parte a linha de investigação da morte de Marcos Vieira Souza, o Falcon, do PP, 52 anos, ocorrida na semana passada. Presidente da Portela e amigo do prefeito portelense Eduardo Paes, Souza era candidato a vereador e, suspeita-se, elo de veladas conexões com milicianos da Zona Norte.

A Baixada Fluminense, conjunto de seis municípios onde milicianos e traficantes se digladiam há anos, foi território da maior parte das mortes ocorridas desde o início da disputa eleitoral. A Delegacia de Homicídios local investiga onze assassinatos no período. Três dos alvos eram líderes comunitários que incomodavam o tráfico e poderiam, se eleitos, dificultar a atuação dos bandidos. Outros eram candidatos que tinham ligação com milícias em guerra por espaço.

Na Zona Oeste, onde a milícia nasceu como contraponto ao tráfico, os chefões estavam cobrando até 120 000 reais de candidatos a vereador que quisessem circular por lá ou apenas fixar cartazes de propaganda (neste fim de campanha, o valor baixou para 20 000). Um candidato ouvido por VEJA diz que espalhou folhetos sem pagar o “pedágio” e, no dia seguinte, teve o material removido. O “pedágio de campanha” aponta para um novo ramo de negócios das milícias, que se sustentam explorando o transporte alternativo, a venda ilegal de gás e de sinal de internet e wi-fi.

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Hoje, na maioria das favelas cariocas, o político precisa informar previamente onde vai passar. Há duas semanas, o candidato Marcelo Crivella (PRB), líder nas pesquisas para a prefeitura carioca, chegou sem avisar ao Morro do Dendê, na Ilha do Governador, dominado pelo traficante Fernandinho Guarabu. Só pôde subir metade do caminho — já que, lá no alto, se celebrava o aniversário de um dos filhos do chefe de tráfico mais longevo do Rio. O deputado Alessandro Molon, que concorre à prefeitura pela Rede, foi com Marina Silva ao Complexo da Maré e teve de convencer os bandidos a deixá-los entrar. No Complexo do Alemão impera um “toque de recolher eleitoral”: a partir das 21 horas ninguém mais faz campanha.

A situação geral é preocupante. No Rio, candidatos são achacados e mortos pelo crime organizado. No resto do Brasil, o bangue-bangue eleitoral se dá entre rivais. Nas eleições mais sangrentas que o país já viu, a abertura das urnas no domingo não trará ganhadores, mas sobreviventes.

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