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Famoso entre celebridades, médico é condenado por abuso sexual de paciente

Outras denúncias aparecem sobre o conhecido nutrólogo de São Paulo, mas ele continua solto e atendendo novas clientes

Por Edoardo Ghirotto Atualizado em 18 set 2020, 10h42 - Publicado em 18 set 2020, 06h00
ACUSAÇÃO - Uma das vítimas: “Ele é um predador, tem um método estabelecido” – (Kaio Lakaio/VEJA)

A partir da iniciativa corajosa de um grupo de pacientes que se uniram para revelar publicamente os horrores sofridos durante as consultas, Roger Abdelmassih trocou o expediente em uma das clínicas de reprodução assistida mais renomadas do país pela rotina de uma penitenciária. Condenado a mais de 270 anos de prisão por abusar sexualmente de 39 mulheres, ele tenta reaver o direito ao cumprimento da pena em casa. Infelizmente, o triste episódio pode não ter sido uma exceção. Um caso com novos desdobramentos em São Paulo guarda várias semelhanças com essa história chocante. A exemplo do doutor Abdelmassih, o nutrólogo Abib Maldaun Neto era uma celebridade em sua área até ter sua conduta revelada por uma grave e consistente acusação. Pior. Depois da primeira denúncia, confirmada em duas instâncias judiciais, começaram a surgir vários outros relatos de abuso.

Bem relacionado com celebridades e políticos, o trabalho de Maldaun Neto com a medicina ortomolecular lhe rendeu reconhecimento internacional e honrarias como a Medalha Anchieta, a maior condecoração concedida em São Paulo. No seu Instagram, constam participações em programas de televisão e fotos com personagens conhecidos, como os apresentadores Celso Portiolli e Ratinho. Famoso, bem-sucedido, o especialista teve sua conduta questionada a partir de uma acusação feita em 2014. Segundo a denúncia, Maldaun Neto perguntou sobre a vida sexual da paciente durante a consulta, pediu a mulher que tirasse as roupas e introduziu os dedos em sua vagina. Ao final, abraçou a vítima e disse que ela que poderia conside­rá-lo como um amigo. “Quando cheguei em casa, esfregava o meu corpo com muita força no banho e repetia em voz alta que aquilo não tinha acontecido”, afirmou a acusadora, que não quis se identificar, a VEJA. O processo correu de forma morosa nos tribunais, mas está perto de um desfecho. No dia 25 de agosto, a Justiça publicou o acórdão que ratificou em segunda instância, por 3 votos a 0, a sentença de dois anos e oito meses de prisão em regime semiaberto por violação sexual mediante fraude.

JULGADO E CONDENADO - Maldaun Neto: pena de dois anos e oito meses de prisão confirmada em segunda instância – (./Reprodução)

Como a defesa de Maldaun apresentou recursos no STJ e no STF, o mandado de prisão ainda não poderá ser cumprido — e, por incrível que pareça, ele continua trabalhando normalmente. Existe um esforço das vítimas para mudar essa situação (até aqui sem sucesso). Duas delas estão há seis anos com ações paradas no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) para cassar a licença do profissional. Nesta semana, duas novas vítimas seguiram o mesmo caminho. Uma das mulheres tinha 17 anos quando foi à clínica particular de Maldaun Neto para uma consulta sobre perda de peso. Segundo a acusação, o pai, que era amigo do nutrólogo, ficou na sala de espera, enquanto ela era atendida sozinha pelo médico. Após perguntar sobre os hábitos alimentares e a vida sexual da paciente, que era virgem, ele pediu à garota que tirasse a calcinha e se deitasse na maca. Em seguida, enfiou os dedos na vagina da paciente para estimular o clitóris. “Eu lembro que ele disse: ‘É, dá para ver que você é virgem’. Ele não avisou o que ia fazer nem pediu permissão. Tive de pedir mais de uma vez para parar”, afirmou ela a VEJA. De acordo com mais um relato, o nutrólogo repetiu o método com uma mulher que à época tinha 23 anos. Depois de apalpar os seios e os mamilos da paciente para ver se as próteses de silicone estavam “bem posicionadas”, conforme ele justificou à vítima, Maldaun Neto enfiou dois dedos na vagina dela e estimulou o clitóris por cerca de um minuto. Assim como nos outros casos, não havia uma enfermeira acompanhando a consulta. “Ele é um predador”, disse a vítima. A reportagem da revista localizou ainda uma quinta mulher que diz ter sido abusada pelo médico, mas que não decidiu se vai processá-lo.

Segundo o advogado Fernando Castello Branco, que representa três das vítimas de Maldaun Neto, as ações no Cremesp são importantes para impedir que outras pessoas sejam ludibriadas por médicos que se valem da lentidão da Justiça para seguir em atividade mesmo diante de graves acusações. “É uma realidade muito mais comum do que se imagina ou do que se quer falar”, diz. Procurada por VEJA, a defesa de Maldaun Neto alega que só vai se pronunciar nos autos do processo e que “a presunção de inocência do acusado prevalece até o trânsito em julgado da sentença condenatória, o que no caso não ocorreu”. O Cremesp, alvo de críticas por supostamente adotar um postura corporativista em casos desse tipo, também não retornou um pedido de entrevista. Enquanto isso, a vida segue. A agenda de Maldaun Neto está cheia para setembro — só aceita encaixes. A consulta inicial sai por 730 reais.

Publicado em VEJA de 23 de setembro de 2020, edição nº 2705

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