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Explosão de caixas eletrônicos é o crime da moda em SP

Dispositivo que libera tinta nas cédulas que são alvo de furto pode ser a solução para espantar os bandidos

Por Adriana Caitano
12 Maio 2011, 08h21

“É o crime da moda porque é rápido e vantajoso para os criminosos. Indivíduos que antes agiam no roubo de veículos e cargas e até no tráfico de drogas estão migrando” – José Carlos Fernandes da Silva, titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas.

De tempos em tempos, determinados crimes começam a se repetir com alta frequência em uma região ou por todo o país e acabam virando moda. No estado de São Paulo, o crime do momento é a explosão de caixas eletrônicos para retirar o dinheiro contido neles. O delito ainda é relativamente novo no Brasil: começou no Nordeste por volta de um ano atrás, seguiu para o Sul e agora ganhou corpo no estado mais rico da federação. Por isso, os bandidos ainda estão se adaptando à descoberta e, enquanto testam a medida certa de explosivos, acabam destruindo agências bancárias inteiras e assustando a população.

A Secretaria de Segurança de São Paulo não divulga a quantidade oficial de casos, mas representantes da polícia estimam que pelo menos 30 caixas foram explodidos no último mês no interior e na capital. Somente na madrugada da última quarta-feira, duas agências do Banco do Brasil – uma em Cajamar, na Grande São Paulo, e outra na Vila Sônia, zona sul da capital paulista – foram destruídas porque os criminosos exageraram na quantidade de explosivos.

De acordo com o titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas, José Carlos Fernandes da Silva, os bandidos da região descobriram a vulnerabilidade dos caixas eletrônicos. “É mesmo o crime da moda porque é rápido e relativamente vantajoso para eles. Antes os criminosos usavam maçaricos e furadeiras, agora demoram cerca de um minuto e 24 segundos entre a explosão e a fuga, não precisam necessariamente render ninguém e conseguem muito dinheiro de uma vez”, relata o delegado. “Por causa disso, indivíduos que antes agiam no roubo de veículos e cargas e até no tráfico de drogas estão migrando”, completa.

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O maior alvo são unidades bancárias que ficam em locais afastados e fora de agências. De acordo com a Tecban, empresa responsável pelos caixas da rede Banco 24 horas, de agosto de 2010 até esta quarta-feira, 60 dos 12.000 terminais da rede espalhados pelo país foram explodidos. “O número pode parecer pequeno, mas o prejuízo é grande para todo o sistema financeiro”, afirma o gerente de segurança coorporativa da empresa, Vanderlei Reis.

Dispositivo joga tinta ou incinera cédulas que estão em caixa eletrônico atacado por bandidos
Dispositivo joga tinta ou incinera cédulas que estão em caixa eletrônico atacado por bandidos (VEJA)

Solução – Segundo Reis, a Tecban já estava pesquisando formas de combater o crime desde 2009. Ele destaca um dispositivo utilizado com sucesso em países da Europa que aplica um jato de tinta vermelha ou rosa nas notas quando o caixa é violado ou as queima parcialmente. Assim, as cédulas perdem o valor legal e são facilmente rastreadas pela polícia. “Na França, Bélgica e Suíça, o sistema inteligente fez com que os ataques caíssem para quase zero”, relata. O gerente conta que a Tecban já estava desenvolvendo o dispositivo para suas máquinas quando o crime chegou ao Brasil. Hoje, todos os 12.000 caixas possuem o mecanismo.

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Quando a quantidade de explosões aumentou, a Tecban e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) procuraram o Banco Central para regulamentar o sistema e implantá-lo em todos os caixas do país. Segundo Vanderlei Reis, o Bacen aprovou o dispositivo e as partes estão em negociação para que seja editada uma norma oficial. “A proposta é que as cédulas tingidas que os bandidos desistiram de levar sejam recuperadas e encaminhadas ao Banco Central, que as analisa, destrói e substitui por novas”, detalha o gerente da Tecban.

Entre as sugestões dos bancos está também a tipificação do crime contra os caixas eletrônicos, que hoje é caracterizado como furto. “Esse crime tem pena branda e sem agravantes. Em outros países, esse ataque é classificado como crime contra o sistema financeiro, com punição proporcional ao dano que causa”, argumenta Reis. Para completar o combate ao delito, o gerente sugere também a conscientização dos brasileiros de que as notas manchadas não devem ser aceitas. Quem levar uma delas ao banco, terá que explicar como a recebeu e poderá ser investigado.

Moda – O professor de direito penal da Universidade de São Paulo Davi Teixeira de Azevedo lembra que os crimes costumam seguir uma sazonalidade relacionada a dificuldades específicas encontradas pelos bandidos. “Quando começaram a reforçar a segurança dos bancos, impedindo os assaltos, eles passaram para o sequestro-relâmpago. Depois de um tempo ficaram visados e foram direto aos caixas, até descobrirem a agilidade dos explosivos”, descreve o especialista.

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Assim começa a acontecer também com os assaltos a joalherias de shoppings, por exemplo. O crime ainda é comum, mas o reforço da segurança começa a espantar os bandidos, o que, para o professor, é a solução para combater a repetição. “Ações como diminuir o valor de saque nos caixas eletrônicos, tirá-los de regiões afastadas e colocar vigilantes noturnos podem ajudar. Os transtornos para clientes e empresários podem existir, mas os criminosos vão perceber que o custo benefício não vale a pena e reduzir os ataques”, sugere.

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