Esfinge: PF rastreia repasse de US$ 15 milhões para empresa de mulher de ex-coordenador da Receita
Investigadores apontam que os desvios de dinheiro público podem ter chegado a 6 bilhões de reais; auditor e esposa foram presos hoje em Brasília
Uma das principais provas que ligam o ex-coordenador-geral de Fiscalização da Receita Federal Marcelo Fisch Menezes ao esquema de corrupção instaurado na Casa da Moeda é um repasse de 15 milhões de dólares feito por uma empresa nos Estados Unidos à companhia MDI Consultoria em Gestão de Pessoas, que está registrada no nome da esposa do auditor, Mariangela Defeo Menezes. Os dois foram presos nesta sexta-feira na Operação Esfinge. A Delegacia de Combate à Corrupção e Crimes Financeiros da PF do Rio de Janeiro apura que os envolvidos movimentaram cerca de 6 bilhões de reais em valores desviados dos cofres públicos.
O principal objeto das apurações é um contrato firmado, sem licitação, entre a Casa da Moeda e a empresa Sicpa para instalação do Sistema de Controle da Produção de Bebida (Sicobe). O sistema foi criado pela Receita para rastrear cada bebida fria produzida no país a fim de evitar a sonegação de impostos. A administração do mecanismo é feita pela Casa da Moeda, que fabrica, entre outras atividades, cédulas de dinheiro, moedas, medalhas, selos e passaportes.
Segundo fontes ouvidas pelo site de VEJA, um dos sócios da empresa que transferiu dinheiro para a mulher de Fisch seria representante da Sicpa. O auditor fiscal seria um dos responsáveis pela contratação da empresa pela Casa da Moeda.
Além do casal, que foi preso em Brasília e teve os endereços vasculhados, foi detido também o dono da empresa Enigma, Mario Nicoli Filho. A princípio, a Justiça do Rio só havia expediu dois mandados de prisão para Fisch e a sua mulher. Contra Nicoli, só havia um mandado de busca e apreensão em sua residência. No entanto, ele foi encontrado com uma arma sem registro e foi preso por porte ilegal de arma. A PF suspeita que a Enigma recebeu cerca de 70 milhões de reais da Sicp em propina. Os investigadores concluiram que, a despeito dos valores recebidos, nenhum serviço foi prestado pela empresa, que serviria como uma distribuidora de dinheiro ilícito aos envolvidos no esquema.
A Casa da Moeda ainda mantém em vigência o contrato com a Sicpa, que vence só em dezembro deste ano. Segundo a instituição, há um processo administrativo que pode gerar a rescisão do contrato em curso no Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle. “A Casa da Moeda já está planejando nova licitação para o Sicobe”, informou, em nota, a instituição.