Por Bruno Paes Manso
Amapá – Depois de dez anos sem fazer uma escola nova, o governo do Amapá decidiu construir quatro novos prédios de uma vez em 2008. Um deles, no bairro Marco Zero, local cruzado pela linha do equador e atração turística da cidade, ajudaria a diminuir a falta de vagas nos bairros alagados e pobres do entorno. Os prédios começaram em setembro daquele ano. Hoje, apenas um deles está pronto, a um custo de R$ 4,5 milhões, duas vezes mais que uma escola em São Paulo.
Mas esse preço salgado, quase uma regra no Estado, não foi o maior problema. O defeito principal estava no projeto da Escola Estadual Nanci Nina Costa, que não levou em conta as altas temperaturas de Macapá, que ultrapassam os 35 graus e fazem as salas de aulas ferverem. Alunos e professores convivem em classes onde a sensação térmica vai de 43 a 45 graus. O erro de projeto só foi descoberto quando os 2.200 alunos passaram a se amontoar e a passar mal com o calor, em turmas de 45 a 50 crianças por sala.
“Quem fez o projeto foi a Secretaria de Infraestrutura e nós só executamos. Era preciso haver janelas cruzadas, que permitissem ao vento circular entre as classes. Também seria necessários equipamentos para climatização das salas, que não foram instalados. O pior é que as outras três escolas ainda não concluídas foram feitas com projetos iguais”, resume o construtor Ubiracildo Macedo, dono da Elos Engenharia, responsável pela obra.
Aulas mais curtas
A solução encontrada pelo diretor da escola, Kleber Martins, foi reduzir o tempo das aulas de 50 para 35 minutos, para diminuir o sofrimento com o calor. Só que a medida não foi suficiente.
O jeito é dar aula nos pátios e corredores, mesmo sem quadro negro, o que resulta em imensa desordem que atrapalha as aulas. “O Paulo Freire já dizia que o professor pode dar aulas embaixo da sombra de uma árvore e é o que estamos tentando fazer. Mas fica difícil. Por causa dos desvios de anos com a corrupção, o dinheiro não vem. Falta quadro-negro, mesa para professor, móveis para refeitório e biblioteca, elevador para cadeirantes, o que transforma a tarefa de ensinar e aprender muito complicada”, acrescenta.
O poço do elevador, projetado para atender os alunos com problema de locomoção, viraram depósitos. Quatro estudantes cadeirantes, ali matriculados, precisam ser carregados até as salas no piso superior.
No inquérito da Operação Mãos Limpas, a pasta da Educação é apontada como um dos alvos preferenciais do esquema de desvio de recursos públicos no Amapá.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.